Lula vai ter que re-estatizar a BrOi. Ou ceder a uma chantagem
O respeitado jornalista Rubens Glasberg, editor da Teletime, a mais importante publicação sobre telecomunicações do país, me contou o presidente de uma empresa da área de telefones estava muito preocupado com a BrOi.
Porque, se a BrOi quebrasse, o sistema brasileiro de telefonia entraria em colapso: a BrOi controla toda a telefonia fixa do país, menos São Paulo.
E provocaria uma onda de estatização incontrolável.
Saiu no Estadão de hoje, na primeira página, e na página B1, reportagem de Karla Mendes – clique aqui para ler “Oi pede ajuda a Lula contra rivais – sócios da Oi se reúnem com Lula e pedem blindagem para evitar tentativa de compra pela Portugal Telecom e proteção contra os mexicanos.
O encontro foi na quinta feira, anteontem, por duas horas e meia.
Segundo uma fonte não identificada (que a repórter do Estadão cita com frases entre aspas – Viva o Brasil !), o presidente Lula “foi receptivo” ao pleito e teria dito a essa fonte: “Não é para vender, não. Pelo contrário.” (olha aí as aspas...)
Participaram da reunião o super-presidente da Oi, Antonio Galotti (*), e os empresários (?) Sergio Andrade e Carlos Jereissati, que entraram no negócio sem botar um tustão.
Esta semana, o Conversa Afiada já tinha anunciado o naufrágio da BrOi, a plataforma P-36 do Governo Lula: clique aqui para ler.
E, no naufrágio, o papel decisivo do passador de bola apanhado no ato de passar bola, Daniel Dantas.
A BrOi não tem bala para competir com a Telefônica de Espanha, com o mexicano Slim da Embratel, nem com ninguém.
Nem para resistir a uma ofensiva dos portugueses da Portugal Telecom.
A BrOi não tem bala para reinvestir e se manter no jogo.
Os consumidores que liguem para o PROCON.
A BrOi também não tem como realizar o sonho secreto dos burocratas do BNDES – que a financiaram com o dinheiro do FAT, do trabalhador brasileiro, e do Erário, ou seja, do povo brasileiro.
Era o sonho de torná-la um “global player”, a sair pelo mundo e competir com a camisa 10 da seleção brasileira nos mercados da Alemanha, da Suécia, Kirzistão e Bogúncia.
Deu no que deu.
A BrOi naufragou.
Por que dar o dinheiro ao Galotti, ao Andrade e ao Jereissati ?
Em nome de que ?
De sua proficiência empresarial, no setor de telecomunicações ?
Como, se eles afundaram a BROi ?
Quando este ordinário blogueiro propôs ao presidente do BNDES que a PHA Comunicação comprasse a Brasil Telecom, anunciou que dava R$ 1 a mais do que Andrade e Jereissati colocassem do próprio bolso.
E enunciou entre suas qualificações o fato de usar muito o telefone – o que o colocava em pé de igualdade com Andrade e Jereissati no quesito “conhecimento da tecnologia da industria”.
O que está em jogo, amigo navegante, não são os senhores Andrade ou Jeressaiti – que, de resto, como legítimos representantes do empresariado brasileiro, adoram o que os americanos chamam de “other peoples’ money” – o do Estado.
Andrade e Jereissati, através de Antonio Galotti, já tinham sugerido que a BrOi administrasse o Plano Nacional da Banda Larga pelo Governo, com módica remuneração do tamanho de sua divida.
Póóóóóde, amigo navegante ?
Póóóóóde ?
Rogério Santana, presidente a Telebrás, depositou a proposta no lugar apropriado: a lata do lixo.
Agora, é o velho truque de pedir ajuda ao povo brasileiro com o argumento: os estrangeiros estão aí !
Se não colar, virá o minueto do “basta de estatização !”, que vai ecoar pelo PiG (**) como um grito de guerra.
Há outra hipótese, amigo navegante.
Andrade e Jereissati, juntos, tem o controle acionário da BrOi (sem ter colocado um tusta do próprio bolso).
Os outros sócios – BNDES e fundos de pensão das estatais, como Previ, Petros e Funcef -, juntos, não tem como vender o controle da companhia.
Pense nessa hipótese, amigo navegante, se você, como eu, está preocupado com o dinheiro do Erário.
O Antonio Galotti foi ao Presidente Geisel e disse:
- General Presidente, eu tenho o controle acionário da Light. Ou o senhor me dá uma grana para eu continuar como o único empresário brasileiro do setor, ou eu vendo a Light aos portugueses ou ao mexicano.
É disso mesmo que se trata, amigo navegante.
O Dr Galotti vai vender a Light quebrada à Eletrobrás.
Ou ficar com a Light com o dinheiro que o General Geisel arrumar pra ele.
E quebrar, de novo, lá na frente.
Só, que, dessa vez, amigo navegante, espera-se que tudo isso seja feito à luz do dia, antes da Missa do Galo.
Paulo Henrique Amorim
(*) Antonio Galotti foi o notável presidente da Light, como homem de confiança dos proprietários canadenses. Galotti mandou numa parte do Brasil (e do PiG). E ajudou a financiar a queda do presidente Goulart. Ele sugou os brasileiros enquanto pôde, manipulou tarifas, obteve aval do Governo para empréstimos, e, quando a companhia quebrou, vendeu-a à Eletrobrás, na calada da noite, entre o Natal e o Ano Novo, nos últimos dias do Governo Geisel. Para se informar mais sobre como ele, hoje, preside a Oi, leia aqui.
(**) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.