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Favela do Morumbi exige que Serra faça o metrô

Elite não quer a Copa para não fazer o metrô da favela e se apossar dela
publicado 22/06/2010
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O Conversa Afiada reproduz carta aberta ao governador de São Paulo, José Serra:

Carta aberta ao Governador Alberto Goldman

Ao Governo do Estado de São Paulo
Governador Alberto Goldman

Senhor Governador,

Na última semana a cidade de São Paulo foi surpreendida por duas informações extremamente graves. A primeira de que o Estado de São Paulo está nesse momento fora da Copa do Mundo, pela exclusão do estádio do Morumbi, e a segunda, aparentemente por conseqüência da primeira, que a extensão da Linha Ouro do metrô para as estações do Morumbi e Paraisópolis será adiada para possibilitar a extensão da Linha Laranja que chegará a Pirituba, onde se pretende construir um novo estádio.

Apesar de estarmos ansiosos para torcer pelo heptacampeonato brasileiro em nossa cidade, consideramos que este problema, como já opinaram o prefeito Gilberto Kassab e o presidente Lula, será resolvido, por conta da enorme importância econômica e social que nosso estado tem para o país. O adiamento por prazo indefinido para a expansão do metrô na zona sul, no entanto é fato gravíssimo com conseqüências sociais grandes.

Durante muitas décadas o estado teve a equivocada avaliação de que a região do Morumbi não necessitava de transporte coletivo pelo seu caráter elitizado. Tapava os olhos para o fato de nossa região contar com quase 300 mil moradores, a maior parte deles vivendo em comunidades carentes como o Paraisópolis e Jardim Colombo. Na verdade, a política de fundo era as seguidas tentativas de remoção completa destas comunidades, tal qual as políticas higienistas e do apartheid em outros tempos e lugares. Essa visão foi abandonada a partir da urbanização de nossa comunidade e a construção de escolas, avenidas e conjuntos habitacionais. Falta ainda, a construção do Hospital Regional de Paraisópolis que também é prioridade para a comunidade.

O transporte coletivo, no entanto ainda não chegou até o Morumbi. Quem não tem carro se vira com lotações, bicicletas, motos, ônibus que demoram horas para sair e são obrigados a fazer itinerários circulares para chegar a todos os destinos que precisamos. A isso se juntam os carros dos imensos condomínios, e os engarrafamentos nos tomam horas todos os dias. Provavelmente não existe em nossa cidade região com o trânsito tão caótico, mal planejado e nocivo aos direitos dos cidadãos como o Morumbi.

A chegada do metrô começaria a desafogar esta realidade, e deveria ser acompanhada por corredores de ônibus e a multiplicação, pelo menos em dez vezes o número de linhas dedicadas a região. No entanto, com a exclusão do Morumbi da Copa, o metrô anunciou que as estações previstas para 2013 estão adiadas por tempo indeterminado! Nos unimos a uma lista de dezenas de novas estações previstas até 20 anos.

Portanto, em nome da comunidade de Paraisópolis, e em sintonia com todos nossos vizinhos do Morumbi e região, das mais diferentes classes sociais, afirmamos que está sendo cometido um crime contra 300 mil moradores. Não é possível sermos informados via imprensa, jogar no lixo todo o debate que envolveu governo, metrô, lideranças comerciais e sociais de nossa região, por mais de 30 anos, e avisar pela imprensa, que o compromisso assumido e assinado com a nossa comunidade não será cumprido. Nós já pagamos por décadas a ausência do estado nesta região, e embora seja importante trazer a Copa para São Paulo, exigimos que quem pague a conta para isso seja o governo, e não o povo do Morumbi.

Que os investimentos aumentem um pouco, e se expandem em paralelo a linha ouro e amarelo. Não abrimos mão do metrô em nossa região. Por isso, convocaremos ao lado dos mais de 20 deputados estaduais com trabalho em nossa região, com a participação de dezenas vereadores, deputados federais e senadores uma audiência pública na Assembléia Estadual e contamos com a presença dos representantes do metrô para discutir o assunto.

Atenciosamente,

Gilson da Cruz Rodrigues
Presidente da União dos Moradores e do Comércio de Paraisópolis

 

Em tempo: saiu no Agora, pág A3 (clique aqui para ler): "Espera por condução chega a 1 hora em Paraisopolis."

Segunda maior favela de SP, com 60 mil pessoas tem apenas uma linha de ônibus.

Quer dizer: a elite não fornece os equipamentos sociais, os pobres fogem, e a elite entrega a favela à construção civil. Elementar.

Paulo Henrique Amorim