PPS manda PSDB às favas
O Conversa Afiada reproduz entrevista de Pierre de Lucena, do Acerto de Vontas, com Raul Jungmann
publicado
30/12/2011
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O Conversa Afiada reproduz entrevista de Pierre de Lucena, do Acerto de Contas, com Raul Jungmann, um dos heróis da CPI dos Amigos de Dantas:
Jungmann:”Chega de ser reboque do PSDB”
Por Pierre Lucena, do Acerto de Contas
Na semana passada conversei com o ex-deputado Raul Jungmann sobre vários assuntos, dentre eles o ocaso em que vive a oposição no Brasil, capitaneada pelo PSDB, com DEM e PPS de satélites. Jungmann mostrou grande descontentamento com o que vem acontecendo na oposição e com o papel exercido com o PPS.
Segue a conversa.
Dilma está acabando o primeiro ano de mandato, e parece que a oposição ainda não se encontrou. Como você enxerga o papel da oposição e do PPS?
É visível que a oposição não está conseguindo apresentar nacionalmente uma proposta viável a população. Ficou restrita ao ato de denunciar o governo petista e esqueceu que apenas isso não basta. Claro que denunciar é o papel democrático esperado da oposição, mas também precisamos fazer um contraponto mais amplo ao conjunto de forças que está no Governo, ter um projeto para o país. Eu diria que a oposição se acomodou no papel do denuncismo, e isso não basta. Se acostumou porque é fácil fazer isso no Governo do PT, com a quantidade de escândalos que aparece. Mas como disse, isso não basta, o Mensalão provou isso e a queda sequencial de ministros também.
Mas e o PPS nisso?
Infelizmente o PPS tem se posicionado como aliado do PSDB, sem nenhuma reciprocidade por parte desse. Estes interesses dos aliados são legítimos, mas cabe a nós a organização enquanto partido, e não como linha auxiliar.
O PPS só tem perdido com esse papel. Basta dizer que nas três vezes em que o partido teve candidato a Presidente da República ele cresceu, especialmente quando Ciro Gomes foi candidato. Chegamos a ter mais de 20 deputados e agora temos praticamente a metade disso. Claro que a oposição acabou diminuindo, até pelo adesismo que está solto pelo país, mas não justifica aceitarmos essa posição.
Mas qual a saída?
Se você observar o que vem acontecendo na política nacional, vai perceber que existe uma polarização artificial criada entre PT e PSDB que não representa todas as forças da sociedade. Existe um eleitorado entre 25 e 30 milhões de pessoas que não se sentem contempladas por estes dois projetos. Marina Silva conseguiu capitanear muito bem isso. Com menos de um minuto de TV e sem nenhum candidato competitivo nos Estados, teve 20 milhões de votos. Claro que a figura política que ela representa e seu ótimo desempenho ajudou, mas mostrou um caminho a ser perseguido por nós. É um caminho pelo centro.
Você quer dizer que o PSDB é um partido de direita?
Não, mas que a opção pela aliança deve ser mais pelo centro, e não com forças mais conservadoras. Mas no caso do PPS, acho que o melhor é seguir seu caminho, e o foco deve ser oferecer uma alternativa na eleição presidencial de 2014.
E quem seria?
Temos dois nomes a oferecer, Roberto Freire e o do líder da bancada na Câmara Federal, Rubens Bueno.
Falando nisso, alguns dias atrás participei da reunião do Movimento Nova Política, e lá estavam pessoas de força políticas diversas. Obviamente Mariana Silva era a estrela, mas lá pudemos ver pessoas boas do PPS que saíram do PV, muita gente do PSol, que possui excelentes quadros, como Heloisa Helena e Edilson Silva. Eles estavam em peso no evento. Apesar das divergências ideológicas, o que está em jogo é um projeto republicano de país, com pessoas que se preocupam com a ética no jogo político e pretendem combater essa polarização que está sufocando a oposição e acomodando o Governo.
E Marina seria candidata pelo PPS?
Claro que as portas estariam abertas a ela, mas isso não cabe a nós, até por uma questão de respeito. E estamos de portas abertas não apenas a ela, pois o PPS acredita que este movimento pode mostrar algo que foge ao tradicional jogo partidário. Muitos”marineiros” de SP entraram no PPS e disputarão a eleição no próximo ano, e não criaremos problemas caso queiram sair posteriormente, pensando na hipótese de Marina buscar uma alternativa. Isso vale também para outras pessoas republicanas deste grupo. E Marina apontou o caminho, da busca da sustentabilidade, que deve ser prioridade para nós. Mas cabe ao PPS procurar seu caminho. Não pregamos rompimento, longe disso, mas chega de ser reboque do PSDB.