O Pizzolato que o mensalão abafa. O do Dantas
O ansioso blogueiro já disse muitas vezes que Daniel Dantas tem um encontro marcado com Joaquim Barbosa.
Ainda não foi nesta segunda-feira.
Breve será.
Quando a casa começa a ruir no Caldeirão do Huck do Judiciário as labaredas vão lamber também o edifício do banqueiro apanhado no ato de subornar um agente da Polícia Federal, segundo vídeo exibido no jornal nacional.
Nesta segunda-feira, o relator – que ainda não votou, é preciso ficar claro, mas “relatou” - Joaquim Barbosa, um de onze votos (se o Ministro Peluso votar “fatiadamente”), considerou que Henrique Pizzolato, enquanto Diretor de Marketing do Branco do Brasil, pegou “dinheiro público” do Banco do Brasil e entregou aos “mensaleiros”.
Se é dinheiro público, há dúvidas.
Se o relator Joaquim Barbosa acusa de irregular a “bonificação de volume” de que a agência de publicidade de Marcos Valério se beneficiou, deveria ficar atento à retaliação das Organizações (?) Globo –, porque essa é uma questão delicadíssima !
A Globo é a Mãe de Todas as Bonificações de Volume, que, nos Estados Unidos, dariam cadeia e aqui a Globo inscreveu em Lei.
E o Globo já enviou um sutil recado ao Relator.
Está na página 4:
“Contexto – Lei (da Bonificação de Volume) regulamentou práticas de bonificação”
Ou seja, vamos botar o José Dirceu na cadeia, mas a bonificação é intocável, imaculada.
Mesmo se administrada pelo Pizzolato e o Marcos Valério.
Por falar nos dois.
Marcos Valério, como se sabe, tinha um valerioduto irrigado pelo Daniel Dantas.
Questão que levará os dois ao encontro marcado com Joaquim Barbosa.
(E, aí, veremos se o PiG é mesmo fã do Ministro Barbosa.)
E o Pizzolato ?
O ansioso blogueiro entrevistou Pizzolato duas vezes no programa Conversa Afiada, na TV Cultura.
Naquela altura, o ansioso bogueiro já fazia regular cobertura das atividades (?) de Daniel Dantas e convidava Pizzolato para criticar a gestão de Dantas na Brasil Telecom.
Pizzolato era da oposição na Previ, o funfo de pensão do Banco do Brasil, que, com Lula, deu um ponta pé no traseiro do Dantas e assumiu o controle da empresa.
Como se sabe, o Farol de Alexandria tinha “concedido” a Brasil Telecom ao Dantas, a quem se refere como “dizem que foi (sic) brilhante”!
(Depois, na companhia augusta do BNDES, a Previ deu um cala-a-boca de R$ 2 bilhões a Dantas e permitiu a montagem da trampa da BrOi, que deu com os burros n'água. Mas, essa é outra história.)
Bem, aí, de repente, por um desses milagres que só a História dos Santos explica, Pizzolato converteu-se ao Dantismo.
Tornou-se um implacável defensor das teses de Dantas, a ponto de incriminar – levianamente – Luis Gushiken (agora, formalmente absolvido).
Leia aqui o que diz o Nassif sobre a forma criminosa como os Procuradores Antonio Fernando e Roberto Gurgel incriminaram Gushiken.
E aqui, com o Kakay, que absolveu Duda, para ver como os mesmos Procuradores engendraram a culpa de Duda e da sócia.
Viva o Ministério Público do (PiG do)Brasil !
Viva !
São esses mesmos, Antonio Fernando e brindeiro Gurgel que não acharam vestígio de Dantas no mensalão.
Mas, ele (eles) não perdem por esperar.
Para ajudar o amigo navegante a entender a trama que levou Pizzolato aos braços afáveis do Dantas, é melhor recorrer ao PiG (*) e a um articulista da Época.
A Paulo Moreira Leite, que, qualquer dia desses leva um pé no traseiro.
Assim, quando Dantas mover o 962º Processo contra este ansioso blogueiro, chamará à Justiça (sic) brasileira o Moreira Leite também:
Piada pronta e paranóia no mensalão
(…)
A discussão sobre dinheiro publico é importante.
A maioria das pessoas usa a expressão “desviar” para falar do dinheiro que saiu da Visa Net para as empresas de Marcos Valério. Está provado que boa parte desse dinheiro não foi usada em publicidade, mas para alimentar o cofre do esquema de Valério-Delubio Soares. A palavra “desvio” sugere que era uma operação ilegal mas o fato que não há lei que impeça o Visa Net — seja público, seja privado — de agir assim. Tanto é verdade que Lucas Figueiredo registra, no livro O Operador, que o mensalão tucano recebia boladas igualmente respeitáveis antes da chegada de Pizzolato e sua turma a diretoria do Banco do Brasil. O primeiro contrato com Marcos Valério foi assinado antes mesmo dele ser nomeado diretor, revelou-se no tribunal.
A Polícia Federal descreve, em seu inquérito, a imensa autonomia dos diretores para assinar cheques e fazer pagamentos sem nenhum tipo de restrição. Vale para os políticos e até para patrocínios esportivos. Tudo entre os diretores do banco.
Mas não diz que isso é crime.
Se não é crime, cabe uma observação sensata feita por Miguel Reale Junior, que foi ministro da Justiça no governo de FHC. Reale Jr lembrou que muitos réus do mensalão são acusados de lavagem de dinheiro. O problema é que, para lavar dinheiro, diz a lei, é preciso haver um crime anterior. Se não há uma clara tipicação do crime, como falar em lavagem de dinheiro? Se você sustenta que eram recursos públicos, a acusação está melhor defendida, certo?
Outra pergunta curiosa é: quem pagou Pizzolato? Ele não era deputado, nem tinha dívida de campanha para pagar.
Se o mensalão petista destinava-se a pagar gastos de campanha, por que Pizzolato recebeu – mesmo que tenha sido por algumas horas – uma bolada tão respeitável?
Os adversários de Pizzolato no PT dizem que ele recebeu dinheiro de um personagem de quem pouco se falou nos últimos tempos: o banqueiro Daniel Dantas, do grupo Opportunity.
A história desses petistas é assim: procurado por Delúbio Soares para dar sua contribuição, Daniel Dantas concordou em dar dezenas de milhões de reais. Em troca, queria suporte para manter-se no comando da gigante de telefonia Brasil Telecom, de onde os sindicalistas que comandavam os fundos de pensão do Banco do Brasil, da Caixa e da Petrobrás pretendiam desalojá-lo e brigaram até o fim do governo Lula para conseguir isso.
O fim dessa disputa você conhece. Deu até na Operação Satiagraha, levou àquele dossiê falso com contas secretas de araque no exterior e assim por diante. É muita confusão, concorda?
Mas Pizzolato foi útil para Daniel Dantas ao fazer, publicamente, acusações contra Luiz Gushiken, apontado com o mentor intelectual dos fundos de pensão. Essas acusações serviram para alimentar a denúncia contra Gushiken e ajudaram a seu indiciamento em 2007, embora as bases para isso fossem tão frágeis que cinco anos depois o ministério publico pede sua absolvição por falta de provas.
A polícia federal não achou nada para incriminar Gushiken mas encontrou provas da atuação de aliados de Daniel Dantas. Está lá no relatório assinado pelo delegado Zampronha. Conta-se que a executiva que Daniel Dantas tinha nomeado para comandar a Brasil Telecom assinou um contrato no valor de R$ 50 milhões com as agências de Marcos Valério, a serem pagos em três prestações. Confesso que achei essa informação importante e fiquei mais impressionado ainda ao descobrir que nem Daniel Dantas nem nenhum de seus sócios e diretores foram indiciados no mensalão. Mas Gushiken foi.
Convenhamos, amigo navegante, esse Daniel Dantas é um cara de sorte!
Paulo Henrique Amorim
(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.