A TV Justiça é uma afiliada da Globo
“Não é novidade que somos movidos em nossas reações glandulares pela personalidade dos líderes e sua maneira de atuar em cena, do que por suas propostas ou caráter moral.
O mistério do 'líder como ator' é tão antigo quanto a civilização, mas, em nosso tempo, a televisão criou uma mudança quantitativa na sua natureza.”
Arthur Miller,”On Politics and the art of acting”, Viking Penguin, Nova York, 2001.
O ansioso blogueiro não se lembra se foi o Boni ou o Armando Nogueira quem disse que nenhum repórter com menos de 40 anos deveria aparecer no jornal nacional.
Porque corria o sério risco de sair à rua e quando voltasse para casa estaria convencido de que era Deus.
A TV Justiça é um absurdo concebido por Marco Aurélio (Collor de) Mello, aqui também chamado de “O Vaidoso”.
Um Ministro da Suprema Corte que gasta mais tempo em entrevistas do que na tarefa – pela qual o povo o remunera – de aplicar a Lei.
Como disse o Leandro Konder do Príncipe da Privataria, quando ainda era (o Príncipe) levado a sério: a vaidade dele é maior do que o talento.
E, nos dois casos, o narcismo e o pedantismo acompanham geneticamente a vaidade.
Tudo isso a televisão multiplica, amplia, dá cores, som, teatralidade.
O ansioso blogueiro trabalhou na cobertura da Constituinte de 88, e quando se queria achar o Fernando Henrique para uma entrevista, os repórteres já sabiam: bastava acender o pau de luz da câmera.
Ele aparecia, do nada, em no máximo três minutos.
Estivesse onde estivesse, ele se aproximava.
E de tanto aparecer se apaixonou não por um pau de luz, mas por quem o segurava.
(Collor de) Mello não é muito diferente.
Ele está sempre no lugar errado, na hora errada – diante de uma câmera.
O Gilmar Dantas (*) é mais comedido.
Faz-se aparecer quando lhe convém, ou aos partidos que defende.
A sobre-exposição à televisão é uma das responsáveis pela excepcionalidade – no conceito de Wanderley Guilherme dos Santos - que maculou irremediavelmente o julgamento dos petistas.
A escolha de gravatas.
A retórica adequada ao jornal nacional.
A exibição de “falsa cultura”, como dizia o Millor, que não conheceu o Big Ben de Propriá.
Os longos pronunciamentos para ficar mais tempo no vídeo (Gilmar D. é um especialista na matéria).
O exibicionismo teatralizou o julgamento: só faltaram o Félix e a Carminha !
Quanto mais os juízes-algozes aparecessem com a peça inquisitorial, mais os petistas eram culpados.
De tanto ver os comerciais das Casas Bahia você se convence de que ninguém vende mais barato que as Casas Bahia.
As Casas Bahia não tem tantos “apresentadores” quantos são os ministros que precisavam vender ao espectador a ideia de que o Genoino é um ladrão (e o Dantas não é.)
(Clique aqui para ler “Prof Wanderley vota em Genoino para presidente”; e aqui, o voto de Lewandowski: Gurgel não provou a culpa de Genoino – eram provas “tênues”, do tipo “exatamente porque não há provas é que devemos condená-los” (a ele e ao Dirceu !”).
A TV Justiça se tornou uma afiliada da Globo Overseas e provedora de conteúdo da GloboNews, a emissora das suaves apresentadoras.
Por isso, mais do que massagear o EGO de ministros, a TV Justiça foi um instrumento de poder.
Um agente da condenação.
Uma forma de confundir o verossímil com o verdadeiro.
De enganar o espectador.
De promover reações glandulares, como diz Arthur Miller, que entende de processos judiciais sob inspiração de feiticeiras de Salém.
Essa história de que a TV Justiça garante a “transparência” do Judiciário é uma das lorotas da elite.
Desde a TV Justiça do (Collor de) Mello, a Justiça brasileira se fechou mais, se trancou mais na caverna da sua onipotência.
Menos transparente ficou.
E a TV Justiça se incumbiu de transformar o Supremo num Poder super-dimensionado, acima do Legislativo e da soberania popular: os ministros parecem figuras de Botero !
A TV Justiça é a mídia perfeita para esses delírios bonapartistas do atual presidente, que exige uma junta médica atrás da outra, como se a cardiopatia do Genoino fosse uma pegadinha no cafofo do Big Brother.
O Armando entendia tudo de televisão.
Tanto assim, que Gilberto Freire com “ï” - o mais poderoso de todos os diretores de jornalismo da Globo Overseas – não conseguiu acrescentar uma única ideia que preste ao modelo original do Armando.
E derrubou a audiência.
O Dr Roberto mandou o Armando embora com a audiência do jornal nacional entre 50 e 60%.
A do Freire se aproxima da região Norte dos 20%.
Mas, mesmo assim, os Supremos narcisos para ele trabalham, disciplinadamente.
E são compensados com investigativas “reportagens” no jornal nacional.
E todos esses ministros do jornal nacional tem mais 40 anos.
Estariam acima da cláusula de barreira do Armando (ou do Boni, não sei).
Como diz o professor Bandeira de Mello, o Supremo é “a mão longa” da Globo Overseas.
Em tempo: propositadamente, o ansioso blogueiro evitou incorrer no argumento dos colonistas (**) pigais, especialmente o dos múltiplos chapéus, que tem sempre uma forma de enaltecer os americanos em detrimento dos nativos: a Amazon entrega mais rápido em Nova York do que aqui, por exemplo. Um absurdo !
Mas, amigo navegante, aqui pra nós: que país (sério) do mundo tem TV Justiça e ministro do Supremo dá tanta entrevista quanto o Vaidoso e o G. Dantas (*) ?
Em tempo2: E que história é essa de o PiG (***) entrar no plenário do Supremo e cercar ministros no cafezinho ?
Nesse ponto, o Supremo deveria adotar o Código de Ética do Big Brother: os atores ficam absolutamente isolados !
Até o Bial proclamar o vencedor !
Em tempo3: o ansioso blogueiro deve essas inúteis considerações aqui expostas à ponderada reflexão de Mauricio Dias sobre o papel da TV Justiça no julgamento dos petistas: “... a publicidade, usada para proteger os réus, serviu à curiosidade mórbida do telespectador”.
Paulo Henrique Amorim
(*) Clique aqui para ver como notável colonista da Globo Overseas Investment BV se referiu a Ele. E aqui para ver como outra notável colonista da GloboNews e da CBN se referia a Ele. O Ataulfo Merval de Paiva preferiu inovar. Cansado do antigo apelido, o imortal colonista (**) decidiu chamá-lo de Gilmar Mentes. Esse Ataulfo é um jenio. O Luiz Fucks que o diga.
(**) Não tem nada a ver com cólon. São os colonistas do PiG (***) que combatem na milícia para derrubar o presidente Lula. E assim se comportarão sempre que um presidente no Brasil, no mundo e na Galáxia tiver origem no trabalho e, não, no capital. O Mino Carta costuma dizer que o Brasil é o único lugar do mundo em que jornalista chama patrão de colega. É esse pessoal aí.
(***) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.