Finalmente, um Banco Central independente
Yoshiaki Nakano é professor e diretor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas.
E escreveu nesta terça-feira, no Valor, artigo primoroso sobre a furiosa reação na imprensa à ultima decisão do Banco Central:
Finalmente a independência do BC
“O Banco Central (BC) tomou a decisão de reduzir em 0,5 ponto percentual a sua taxa de juros, o que surpreendeu o mercado financeiro. Os seus "porta vozes", por meio da imprensa, falaram em quebra de "protocolo", da "liturgia" e na subversão aos "princípios mais valiosos" do sistema de metas de inflação. Isso teria deixado o mercado "perplexo" segundo a imprensa. Mas, afinal, qual era esse protocolo ou liturgia a que o mercado estava acostumado? Quais eram esses "princípios mais valiosos do sistema de metas de inflação" que o BC teria abandonado?
De fato, o BC, que não tem na sua diretoria atual funcionários de bancos privados, como tivemos nas diretorias anteriores, surpreendeu os tesoureiros e economistas dos bancos privados, que estavam acostumados a uma relação, no mínimo, promíscua. Nessa relação, o Banco Central reagia às expectativas de inflação dos economistas dos bancos privados, materializadas na pesquisa Focus e nas taxas de juros futuras das operações efetuadas pelas tesourarias.
Na véspera das reuniões do Copom, a imprensa fazia a pesquisa informando o Banco Central, qual o aumento ou redução em que a maioria dos bancos e empresas de consultoria apostavam. Lógico que a maioria sempre acertava. Esse era o protocolo ou a liturgia seguidos pelas diretorias anteriores do Banco Central sempre ocupados por funcionários do sistema bancário. Na última reunião de agosto, esse protocolo foi de fato abandonado. Daí a grande surpresa e perplexidade do mercado financeiro. A rigor, o BC finalmente tornou-se independente do mercado.”
Nesse protocolo ou liturgia prevaleciam, evidentemente, os interesses dos mercados financeiros.
Amigo navegante, quem seriam esses “porta-vozes, por meio da imprensa”, a que se refere o professor Nakano ?
Este ansioso blogueiro tem um palpite: será a Urubóloga e todos os wannabes da Urubóloga na Globo ?
Sobre a Urubóloga e seu séquito de seguidores (loucos para tomar o lugar dela ...), cabe ler, também no Valor, artigo de Delfim Netto sobre o “aumento da incerteza” na Teologia dos neolibelês (*).
É inacessível para os não iniciados, mas termina de forma, sempre, divertida, ao tratar dos Urubólogos:
“Trata-se apenas de uma nova versão da piada dos três náufragos: um físico, um químico e um economista, que numa ilha deserta encontram uma lata de feijão e precisam abri-la. O físico propõe abri-la com um golpe de pedra; o químico propõe esquentá-la e fazê-la explodir sob a pressão interna, ambos com riscos de perder o conteúdo. O economista logo corrige os dois. É simples e seguro, suponham que temos um abridor de latas...
A "ciência" monetária ainda não é. Por enquanto, é apenas um festival de magnífica imaginação expressa em linguagem matemática. Isso implica que devemos tomá-la com cuidado e precaução para o exercício da política monetária, mesmo com o "dernier cri" modelo do nosso Banco Central.”
Em tempo: este ansioso blogueiro defende uma tese: os jornalistas de Economia do PiG (**) - com exceções, como, por exemplo, o Celso Ming, do Estadão - escrevem para banqueiro ler o que banqueiro está careca de saber. Banqueiro acha ótimo. E jornalista de Economia fica feliz da vida. Ainda mais quando vai jantar na casa do Banqueiro. O Delfim Netto tem outra tese (que ele invariamente desmente): que jornalista de Economia não é um nem outro.
Paulo Henrique Amorim
(*) “Neolibelê” é uma singela homenagem deste ansioso blogueiro aos neoliberais brasileiros. Ao mesmo tempo, um reconhecimento sincero ao papel que a “Libelu” trotskista desempenhou na formação de quadros conservadores (e golpistas) de inigualável tenacidade. A Urubóloga Miriam Leitão é o maior expoente brasileiro da Teologia Neolibelê.
(**) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.