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Haddad: MPL é ingênuo mas esperto !

"A TV aberta teve papel mais fundamental que as redes sociais" na tentativa de Golpe !
publicado 16/07/2013
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Saiu no Brasil Econômico importante entrevista do prefeito Fernando Haddad, que trata da doença infantil do transportismo e, nela, o papel da Rede Globo, que, depois de sonegar imposto e não pagar o ECAD, capturou o o movimento dos transportistas e lhe deu direção política: o Golpe !


"Os manifestantes jovens são ingênuos, mas espertos"



Entrevista

Brasil Econômico
Octavio Costa e André Pires ([email protected])
15/07/13

(…)

A América Latina vive ainda um período em que governos mais à esquerda comandam os principais países, com exceção de Chile e Colômbia. Nesses países, os movimentos de protestos são frequentes, basta ver o que acontece em Caracas, Santa Cruz de la Sierra, Buenos Aires...


Era estranho então não termos movimentos assim no Brasil?
Em primeiro lugar, há um segmento da sociedade brasileira que comunga com esses segmentos da sociedade latinoamericana. Quando são alijados do processo político eleitoral, eles se manifestam e se posicionam contrários às políticas vigentes. Em segundo lugar, uma coisa comum ao Brasil e a muitos países emergentes é a contestação da classe política de modo geral. E isso não se aplica só a regimes democráticos ou autoritários, é uma certa contestação do poder constituído mesmo. Uma espécie de combinação do verão latino com a primavera árabe e o inverno europeu.

(…)


Houve um quase consenso de que o estopim foi o reajuste das passagens. O senhor concorda?

Eu penso que foi a conjugação disso com a repressão policial. Houve um momento que, se as forças de segurança tivessem agido de maneira sóbria, democrática, o movimento não teria ganhado a força que ganhou. Por isso que digo que são placas tectônicas que dialogaram com muitos imaginários. A questão democrática então surgiu com força por causa da repressão.

(…)


Falou-se muito sobre a rede social, que seria uma novidade também como mecanismo para arregimentar pessoas de forma rápida. O poder público tem como lidar com a força da rede?
Eu entendo que os meios de comunicação de massa, a TV aberta, tiveram papel mais fundamental.

Pelo fato de transmitir ao vivo? Seria o caso de não transmitir?
Longe de mim, os canais têm independência. Acredito que havia uma demanda de audiência pela transmissão. Os meios de comunicação de massa repercutiram esse interesse, e ao repercutirem potencializaram muito mais que as redes sociais. Que, na minha opinião, ainda têm um poder menor.

(…)


O que me parece ingênuo desse movimento é que ele se recusa a discutir esse aspecto da questão, o que coloca todos os governadores e prefeitos do país numa sinuca de bico, sobretudo os prefeitos. Como é que poderão garantir tarifa zero sem uma fonte específica de financiamento? Imagina encaixar R$ 5 bilhões a R$ 6 bilhões no orçamento de São Paulo sem prejudicar os investimentos da Prefeitura em outras áreas... É um misto de ingenuidade com esperteza, que efetivamente coloca o poder público numa situação difícil.

O senhor se reuniu com os integrantes do Movimento do Passe Livre, que impressão teve deles?

São ingênuos, mas espertos.

Por quê?

Eles resgataram uma ideia que era do PT nos anos 80, da prefeita Luiza Erundina, que teve a coerência de sugerir a tarifa zero com uma fonte de financiamento específica, no caso o IPTU progressivo. Eles ficam com a parte boa da ideia, sem dizer como os prefeitos vão financiar.

Mais espertos que ingênuos?
Não sei... O que eu sei é que São Paulo, que já não tem muita condição de investir, perdeu mais um pouco. Se não se discutir seriamente a fonte do financiamento para tornar factível a redução ou a tarifa zero, você vai ter um nó político e econômico.

Há demandas mais prioritárias?
A população toda deveria ser consultada, não só os manifestantes. Conheço muita gente que não se manifesta, que não estava nas ruas, e que está dependendo da produção de moradias para sair de áreas de risco, ou da construção de um hospital para ter atendimento.

(…)


Há comentários de que o episódio das manifestações desgastou o senhor no partido, porque sua iniciativa não foi a que o partido esperava. É verdade?
Eu costumo não comentar as declarações anônimas, é difícil pressupor que alguém possa ter dito isso e não ter falado diretamente para mim, tendo a porta aberta aqui. Então, diretamente ninguém me falou. Eles compreenderam que, ao contrário de todos os prefeitos que subiram as tarifas no começo do ano, eu segurei a pedido do governo federal. Eu e o governador seguramos até julho aguardando a medida provisória do PIS e da Cofins para dar um reajuste inferior à inflação acumulada. Todo mundo sabia dessa história.

E com a presidente Dilma, sua relação continua boa?
Com ela mais ainda, melhor impossível. Eu faço tudo muito combinado. Quando atendemos ao pedido do governo federal para postergar o aumento e colaborar para o combate da inflação, tudo isso foi conversado longamente.

Falando além do PT, os partidos que aí estão precisam mudar? Teriam que mostrar outra cara? Nas reuniões em Brasília, vemos pessoas com cabelo branco, lideranças antigas...
Ao mesmo tempo, você pode olhar para a geração entre 40 e 50 anos de idade e vai ver muita gente que despontou. No país inteiro tivemos lideranças que emergiram, mas que hoje estão desgastadas, pois a classe política está desgastada como um todo. Mas surgiram novas lideranças. Houve um sopro de renovação que estava em curso. Poucos estados não viveram uma alternância nos últimos anos.

Então, não haveria necessidade de mudança?
Eu acho que corremos um risco mais grave. É o da chamada seleção adversa. Como está todo mundo na mesma vala, é possível que pessoas de boa fé comecem a pensar duas vezes antes de entrar na política. Fico pensando na minha trajetória de presidente de centro acadêmico, que ia para a rua defender as Diretas Já e o impeachment de Fernando Collor. Fui tomado por aquele espírito de retomada, de esperança e de redemocratização do país. Fico pensando: se aquele jovem atuasse hoje, ele olharia para a política com os mesmos olhos que olhei há 30 anos? Eu fico com medo de que pessoas de bem com 20 anos se recusem a participar da política porque há um pressuposto de um jogo jogado, no qual não há o que ser feito.

(...)