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Hu, a Boeing e os caças. Dilma pode mudar o jogo

Ligo para o Larry Kissinger, depois de ler o necrológio que a Catanhêde fez do Johnbim
publicado 24/01/2011
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Larry Kissinger, como se sabe, é professor emérito da chair “Golbery do Couto e Silva”, da Escola de Geopolítica Inter-Planetária, da Universidade de Harvard, patrocinada pelo benemérito (nos Estados Unidos) Jorge P. Lehmann.

Ligo para o Larry, depois de ler o necrológio que a Catanhêde fez do Johnbim.

- Larry, o que você achou da decisão da Dilma de reabrir a discussão sobre a compra dos jatos.

- Pode ser brilhante.

- Discordo, Larry. Me perdoe, você é um gênio, mas eu sou metido a besta. Sempre achei que a solução francesa era a melhor, porque daria ao Brasil acesso à tecnologia nuclear.

- E daí ?, perguntou Larry, com aquele sotaque prussiano.

- Você sabe, Larry, eu acho que o Brasil deveria ter a bomba.

- Eu também. Mas se trata de comprar caças. Ainda não é a bomba. A corrrelação de forças mudou, meu filho.

- Mas, por que “brilhante” ?

- Você viu que, segundo a Catanhêde, a questão foi para o campo do Fernando Pimentel, que é o Ministro da Indústria.

- Sim, tô sabendo. A Dilma deu um chapéu no Johnbim.

- Preste atenção. Você soube que o Hu, da China foi aos Estados Unidos.

- Claro, não é, Larry ? Quem não soube ?

- E você viu o que ele fez ? O Obama quase não falou de direitos humanos nem que a moeda chinesa está desvalorizada.

- E, qual foi a mágica do Hu, Larry ?

- O Hu chegou lá e, de saída, anunciou que ia comprar 200 aviões 737 e 777 da Boeing, o que significa criar 100 mil novos empregos.

- Que beleza !, bradei. E logo agora que o Obama precisa dar emprego aos americanos.

- Tem mais, meu filho, disse o Larry, inspirado pela proverbial sabedoria do General Golbery. Nos próximos vinte anos, a China vai comprar 4 mil e 300 aviões, no valor de 480 bilhões de dólares, e a Boeing passa a ser a principal fornecedora.

- Que maravilha ! Às favas com os direitos humanos, diria o coronel Passarinho, ponderei, com uma certa leviandade.

- Meu querido, como dizem os americanos, “money talks”, o dinheiro fala.

- Mas, e a Dilma com isso ?

- Elementar, disse o Larry, com aquele “r” carrregado. Você sabe quem produz os caças F-18 Super Hornet que estão na disputa no Brasil ?

- Não, confessei a minha ignorância.

- A Boeing.

- A Boeing !

- E sabe quantos empregos a primeira compra brasileira de caças Super Hornet pode significar para a Boeing ?

- Não faço a menor idéia.

- 21 mil empregos.

- O quê ?

- Vinte e um mil empregos fazem milagre, nos Estados Unidos, hoje, disse o Larry, que conhece os Estados Unidos como ninguém.

- Que tipo de milagre ?, pergunto curioso.

- Vamos voltar ao Pimentel.

- Ao Ministro da Indústria.

- Com os Boeings, os chineses tiraram os direitos humanos da agenda, não foi ?

- Sim, pelo jeito, sim.

- O Pimentel pode botar o etanol na agenda.

- Etanol ?

- Sim, os americanos têm uma tarifa obscena contra o etanol de cana brasileiro. Na campanha, o Obama e o McCain, que esteve com a Dilma, prometeram derrubar essa tarifa e facilitar a entrada de etanol brasileiro.

- Interessante ...

- Se a Dilma conseguir que o Congresso americano garanta a transferência de tecnologia, troca os Boeings pelo etanol.

- Bom negócio.

- Meu filho, por 20 mil empregos, e a possibilidade de comprar mais Boeings no futuro, o Obama é capaz de sair no Salgueiro, ano que vem.

- Na Comissão de Frente, sugiro.

Paulo Henrique Amorim