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Mino sobre Teixeira: o Orlando Silva não faz nada ?

Em editorial na Carta Capital, Mino Carta trata da reportagem da revista de banqueiros que concede plena indulgência a Ricardo Teixeira
publicado 15/07/2011
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Em editorial na Carta Capital, Mino Carta trata da reportagem da revista de banqueiros que concede plena indulgência a Ricardo Teixeira.

No editorial, Mino lembra que Teixeira será capaz de fazer as maldades que quiser e nada lhe acontecerá.

Mino cobra da Presidenta e, especialmente, do Ministro dos Esportes, Orlando Silva, providências para evitar que esse herói da rede Globo faça o que quiser da Copa de 2014 e nada lhe aconteça.

Em tempo: cabe lembrar que, se depender do Teixeira, o guardião da segurança da Copa deverá ser Luiz Fernando Corrêa, aquele que perseguiu Protógenes Queiroz, tentou impedir o desfecho da Operação Satiagraha e até hoje não achou o áudio do grampo.

Ricardo Teixeira para Rei Momo


Mino Carta

Espero que a presidenta e o ministro dos Esportes tenham lido a ótima reportagem de Daniela Pinheiro da revista Piauí sobre a peculiar- figura de Ricardo Teixeira, perfil redondo, identikit. O czar da Copa do Mundo de 2014 impávido avisa que estará habilitado então a fazer “a maldade que for”. E para não deixar dúvidas, exemplifica: “A maldade mais elástica, mais impensável, mais maquiavélica. Não dar credencial, proibir acesso, mudar horário de jogo. E sabe o que vai acontecer? Nada. Sabe por quê? Porque eu saio em 2015”. Teixeira fala com a repórter e a chama de “meu amor”.


Está claro que não precisamos convidar o gajo nas nossas casas para tomar um copo de cerveja, talvez melhor de cachaça vagabunda. Sobretudo se houver crianças presentes. Disse gajo, e confirmo. Soa-me como palavra adequada, embora antiga, a definir a personagem, talhada inexoravelmente para encostar a vasta barriga no banco de algum botequim do arrabalde, a rescender a sardinha frita e bebida derramada.


Sobram outras razões de preocupação e constrangimento, a começar pelo fato de que esse indivíduo vulgar, grosseiro até o deboche, e tão visceralmente disposto à maldade, será o mandachuva de uma festa representativa do nosso País- aos olhos do mundo. Mais recomendável seria se o homem fosse escalado para Rei Momo do próximo carnaval carioca, peso para tanto não lhe falta.


Alinho algumas sentenças do extraordinário discípulo de João Havelange e Joseph- Blatter colhidas nas páginas da Piauí. Ao acaso. “Ca… um montão” para as denúncias da mídia. “Só vou ficar preo-cupado, meu amor, quando sair no Jornal Nacional”. A ligação com a Globo-exalta–o-. Ou seria o conluio, a parceria? Nada de surpresas, são estes os donos do Brasil. E ele insiste, altaneiro: “Quanto mais tomo pau da Record, fico com mais crédito com a Globo”. Crédito? Quem sabe valesse apurar a fundo o significado da palavra.


Notável expressão causou-me sua percepção da sociedade brasileira e como enxerga as classes pobres, obviamente negras. Segundo Teixeira “o neguinho do Harlem olha para o carrão do branco e fala: quero um igual”. Aqui na terra ocorre o contrário: “O negro quer que o branco se f… e perca o carro”. Donde a proclamação “é essa coisa de quinta categoria”. Resta verificar em qual categoria há de ser catalogado Ricardo Teixeira.


Agora, vejamos. A mídia o alveja porque as mazelas da CBF e do seu presidente são de domínio público há muito tempo. E o alveja por ser longa manu de uma Fifa cada vez mais podre. E mais, o alveja na inescapável previsão da bandalheira que vem por aí. Deus onipotente e onisciente sabe o que pode acontecer. A presidenta e o ministro dos Esportes parecem não saber. CartaCapital confessa, aliás, sua estranheza diante da cordialidade reinante entre Teixeira e o ministro Orlando Silva. Tanta simpatia, tanta complacência incomodam.


Desde a posse de Dilma Rousseff, a revista permite-se chamar a atenção da presidenta em relação aos efeitos que a organização e a realização da Copa terão aqui e lá fora, tanto mais ao se levar em conta o ano eleitoral. O prestígio do País e do seu governo está em jogo desde logo e estará até lá. O papel determinante reservado a Ricardo Teixeira neste enredo não induz a bons presságios.


O ano do Mundial do Brasil é também o das eleições políticas e é lógico, e do ponto de vista de CartaCapital desejável, que Dilma Rousseff se apresente para a reeleição. Se assim fosse, a candidatura surgiria com naturalidade de um governo feliz, a corresponder, diga-se, à nossa crença. É inegável, porém, que o êxito da presidenta também depende dos passos a caminho da Copa.


Vivemos agora uma fase indefinida, a impor ajustes finos e decisões rápidas e firmes. Transparente o contraste entre a lassidão e a leniência de vários setores e figuras da política, e, de improviso, o desconforto e a descrença de outros tantos da opinião pública, sem falar da ação da mídia nativa, sempre pronta a apostar na crise. Aí está o Teixeira, saído da espelunca periférica. Cuidado com ele.