Lindberg denuncia dois Golpes
O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) não acredita que o projeto de José Serra (PSDB-SP) - que suprime participação obrigatória da Petrobras no pré-sal - seja aprovado no Senado Federal. Mesmo com o apoio do presidente da Casa, Renan Calheiros, e o lobby de multinacionais, o petista acredita numa resistência, já que a proposta do tucano, no momento, equivaleria a entregar o pré-sal a preço de banana. Nesta terça-feira (16), Lindberg conversou por telefone com Paulo Henrique Amorim.
“Eu acho um erro tremendo, pois o Serra argumenta que a Petrobras está endividada e que não tem capacidade para entrar com investimentos no pré-sal. Daí, tiraria a Petrobras para que as multinacionais petroleiras entrem e explorem o pré-sal com rapidez. Mas, sinceramente, com o preço de barril de petróleo a US$ 28, isso na verdade é entregar a preço de banana o nosso pré-sal”, argumentou Lindbergh Farias.
Na conversa, o petista comentou a recente declaração do ministro do STF, Gilmar Mendes, sobre a participação do PT na corrupção da Petrobras. Mendes afirmou que o partido deve ter levantado na Petrobras, de forma ilegal, dinheiro suficiente para ganhar a eleição de 2038.
“O partido tem que tomar uma posição. O Gilmar fala como líder da oposição e não como ministro do STF. O PT tem que ser firme, mas temos que cobrar das instituições que tenham rigor para todos”, disse.
Para continuar, sobre a Lava Jato: “Agora, eu fico impressionado com a seletividade da imprensa e da Justiça, pois o senador Aécio Neves (PSDB-MG) foi citado por três delatores e não se abre investigação contra ele. Ele é diferente de qualquer outro? A questão do Aécio saiu em pouquíssimos jornais. Foram três delatores. Primeiro foi o Youssef, depois teve o Ceará, que disse que ele era chato para receber propina, e o terceiro, esse Fernando Moura, que fala do Dimas Toledo em Furnas”, lembrou.
Leia na íntegra a entrevista:
PHA: Com o apoio do presidente Renan Calheiros, o Senado está para votar o projeto do senador José Serra (PSDB-SP) que tira da Petrobras a condição de operadora única do Pré-sal. Porém, no jornal Valor de hoje (16/02) diz que, segundo uma fonte do Planalto, a Presidenta Dilma quer preservar a preferência da Petrobras. O que o Governo quer, o senhor sabe?
Lindberg: Não sabemos. Na verdade, a gente sabe a opinião pela imprensa. Há dois meses, quando o Renan quis colocar esse projeto em votação, o Governo nos ajudou a retirar a urgência do projeto. Portanto, se houve alguma mudança de posição por parte do Governo não nos comunicaram.
Eu acho um erro tremendo, pois o Serra argumenta que a Petrobras está endividada e que não tem capacidade para entrar com investimentos no pré-sal. Daí, tiraria a Petrobras para que as multinacionais petroleiras entrem e explorem o pré-sal com rapidez. Mas, sinceramente, com o preço de barril de petróleo a US$ 28, isso na verdade é entregar a preço de banana o nosso pré-sal.
Ser o operador único é uma espécie de administração do consórcio. Não tem política de conteúdo nacional se a Petrobras não for a operadora única. Espero que o Governo não assine embaixo uma proposta dessa.
PHA: Diante do apoio explícito do Renan Calheiros, essa proposta do senador José Serra tem agora mais chance do que teve no passado?
Lindberg: No ano passado, o Renan já apoiava esse projeto e, mesmo assim, nós conseguimos mais de 41 assinaturas de senadores para retirar a urgência. Temos agora uma movimentação muito interessante da senadora Simone Tebet (PMDB-MS), que apresenta um projeto de emenda à Constituição que pede que a exploração de petróleo tem que ser pelo regime de partilha e a Petrobras tem que ser exploradora única. É importante surgir uma proposta como essa. Por isso, não dou como certa a aprovação do projeto do Serra, principalmente por conta da conjuntura, do preço do barril baixo.
PHA: O presidente mundial da Shell, Ben Van Beurden, veio ao Brasil e declarou que gostaria de mexer no regime de partilha para poder participar – ele que já participa do pré-sal – com mais intensidade no pré-sal. Essa pressão que vem das grandes empresas multinacionais, que tem repercussão imediata na imprensa brasileira, que funciona como uma camara de eco, não pode vir a ter reflexo no Senado Federal?
Lindberg: Tem um lobby grande das multinacionais do petróleo. Na verdade, o risco de explorar no pré-sal é zero. Eles querem construir a tese de que é um ônus para a Petrobras ser a operadora única.
Para se ter ideia, os dois últimos escândalos de espionagem mundial [Julian Assange, do Wikileaks, e Edward Snowden] envolvem a Petrobras. Isso para entender o quanto se movimenta de lobby para aproveitar o momento fragilizado do Governo.
Eu digo mais. Um próximo ponto da pauta do Senado é o PL 555, do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), que fala da Lei de Responsabilidade das Estatais. Esse projeto diz que toda empresa pública tem que virar sociedade anônima. Sociedade anonima que trabalha em cima do lucro, de regras do mercado. Ele obriga todas as empresas de sociedade de economia mista a abrirem 25% do capital. É um projeto escandaloso.
(Leia o artigo de Maximiliano Nagl Garcez aqui no Conversa Afiada.)
PHA: É a privatização em massa.
Lindberg: Isso. Uma privatização em massa de uma vez só de um conjunto de empresas públicas.
Um outro projeto que o Renan quer trabalha no Senado é o Banco Central independente. É uma ofensiva feroz. É interessante que o projeto fala de mandato fixo de quatro anos. Dois anos no mandato de um presidente e dois no de outro presidente. Se surgisse no Brasil um Bernie Sanders brasileiro e quisesse mexer na política monetária de nada valia, pois o Presidente da República não poderia indicar o presidente do Banco Central.
Tem dois Golpes em curso. Um é afastar a Presidente da República e o outro é aprisionar o Governo e impor uma pauta e uma agenda neoliberais que fracassaram no Brasil e na América Latina.
PHA: O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes disse que o PT deve ter levantado na Petrobras, de forma ilegal, dinheiro suficiente para ganhar a eleição de 2038. O senhor considera que o PT deva tomar alguma atitude em relação a essa acusação formal ?
Lindberg: Acho que sim. O partido tem que tomar uma posição. O Gilmar fala como líder da oposição e não como ministro do STF. O interessante é que eles têm memória curta. O Paulo Francis morreu falando de escândalos da Petrobras.
O FHC, em seu livro, conta que Benjamin Steinbruch chegou no Palácio e revelou a ele o grau de escândalo que existia na Petrobras. E FHC nada fez. O tal do Cerveró, que é um delator, também falou de propina no governo Fernando Henrique.
Agora, eu fico impressionado com a seletividade da imprensa e da Justiça, pois o senador Aécio Neves (PSDB-MG) foi citado por três delatores e não se abre uma investigação contra ele. Ele é diferente de qualquer outro?
Em relação a Gilmar Mendes, o PT tem que ser firme, mas temos que cobrar das instituições que haja rigor para todos.
A questão do Aécio saiu em pouquíssimos jornais. Foram três delatores. Primeiro foi o Youssef, depois teve o Ceará, que disse que ele era chat para receber propina, e o terceiro, esse Fernando Moura, que fala do Dimas Toledo em Furnas (e do 1/3).
Agora, do jeito que vai, é um massacre contra um partido e contra a esquerda.