Saturnino: Moro de novo
O golpe está armado e conta com forças muito poderosas
publicado
20/03/2016
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O Conversa Afiada reproduz artigo de Saturnino Braga:
MORO DE NOVO
Era uma vez um senador de prestígio, líder do Governo, que deu um mau passo, tentando armar um esquema de fuga para um corrupto preso. Foi ardilosamente traído pelo filho do corrupto, que gravou a conversa e levou-a ao juiz Moro, que devia estar esperando porque provavelmente tinha montado o esquema da traição. E, claro, botou logo a conversa na mídia.
O Senador, da noite para o dia, virou presidiário linchado na boca do povo e sentiu crescer dentro de si o sentimento humano do ódio. Ódio ao traidor, evidentemente, mas ódio também aos companheiros que não se mexeram para salvá-lo; ódio aos políticos, à política, à mídia, ao juiz, ao judiciário, ódio à República, que acabou se tornando um ódio incendiário.
Com este propósito, de incendiar a República, deu um depoimento, fez uma “delação”, dizendo tudo o que sabia e mais o que inventou ou aumentou, cheio de ódio, na sanha de tocar fogo no País.
Sem investigar as acusações, o juiz Moro colocou na mídia a “delação” e tudo logo virou verdade e manchete demolidora contra um mundo de gente, especialmente do governo e do PT.
Cercada pelo incêndio, fatigada pelo assédio implacável de mais de um ano, a Presidenta resolveu convocar o líder maior e nomeá-lo Chefe da Casa Civil, com a missão de articular uma reação política, envolvendo políticos e líderes da sociedade.
Pareceu à primeira vista uma renúncia: Lula, na Casa Civil, seria o chefe do Governo, não mais ela. Podia ser uma licença, não uma renúncia: Lula assumia, articulava a reação, vencia o impeachment e devolvia a ela o Governo. De qualquer maneira um risco muito grande, uma jogada arriscada passível de uma interpretação de quase desespero. E, mais ainda, uma interpretação de mera proteção contra a prisão de Lula.
Mas o desespero parece estar, também, do outro lado, porque o juiz Moro escalou na ousadia e na arbitrariedade: interceptou e gravou conversas telefônicas da Presidenta, entre as quais uma com o ex-Presidente Lula, e, mais, além de espionar e grampear a Presidenta, providenciou, rapidamente, a publicação das palavras trocadas, que apareceram em destaque nas manchetes da mídia sua aliada no golpe, como se fossem palavras criminosas.
Que de criminosas nada tinham nada. E a Presidenta, na cerimônia de posse do novo ministro, fez um pronunciamento límpido e incisivo, repudiando energicamente o golpe, mostrando a falácia da interpretação do juiz e da mídia sobre as suas palavras, e elucidando o significado da presença de Lula no Governo: uma união de todas as forças brasileiras, com a capacidade de articulação dele, para enfrentar a poderosa armação de golpe que mais uma vez ameaça a República. Discurso claro e convincente, de calar panelaços que se ensaiavam no início.
Outro discurso em tom de grandeza fez Lula na manifestação em São Paulo, confirmando a interpretação correta da sua nomeação, buscando o entendimento nacional em prol do Brasil, cuja economia vem sendo destruída pela crise política. Manifestações expressivas contra o golpe ocorreram em todas as capitais do País.
Mas é claro que o golpe está armado e tem forças muito poderosas, a FIESP e a FIERJ já aderiram, até a OAB (!); a bolsa já subiu e o dólar já caiu, o capital sabe das coisas, a FEBRABAN não disse nada porque nunca diz nada, leva sempre a melhor, assim como os silenciosos fantasmas do Norte, já denunciados por Snowden tempos atrás, numa delação que nada tinha de premiada nem de interessada.
O Senador, da noite para o dia, virou presidiário linchado na boca do povo e sentiu crescer dentro de si o sentimento humano do ódio. Ódio ao traidor, evidentemente, mas ódio também aos companheiros que não se mexeram para salvá-lo; ódio aos políticos, à política, à mídia, ao juiz, ao judiciário, ódio à República, que acabou se tornando um ódio incendiário.
Com este propósito, de incendiar a República, deu um depoimento, fez uma “delação”, dizendo tudo o que sabia e mais o que inventou ou aumentou, cheio de ódio, na sanha de tocar fogo no País.
Sem investigar as acusações, o juiz Moro colocou na mídia a “delação” e tudo logo virou verdade e manchete demolidora contra um mundo de gente, especialmente do governo e do PT.
Cercada pelo incêndio, fatigada pelo assédio implacável de mais de um ano, a Presidenta resolveu convocar o líder maior e nomeá-lo Chefe da Casa Civil, com a missão de articular uma reação política, envolvendo políticos e líderes da sociedade.
Pareceu à primeira vista uma renúncia: Lula, na Casa Civil, seria o chefe do Governo, não mais ela. Podia ser uma licença, não uma renúncia: Lula assumia, articulava a reação, vencia o impeachment e devolvia a ela o Governo. De qualquer maneira um risco muito grande, uma jogada arriscada passível de uma interpretação de quase desespero. E, mais ainda, uma interpretação de mera proteção contra a prisão de Lula.
Mas o desespero parece estar, também, do outro lado, porque o juiz Moro escalou na ousadia e na arbitrariedade: interceptou e gravou conversas telefônicas da Presidenta, entre as quais uma com o ex-Presidente Lula, e, mais, além de espionar e grampear a Presidenta, providenciou, rapidamente, a publicação das palavras trocadas, que apareceram em destaque nas manchetes da mídia sua aliada no golpe, como se fossem palavras criminosas.
Que de criminosas nada tinham nada. E a Presidenta, na cerimônia de posse do novo ministro, fez um pronunciamento límpido e incisivo, repudiando energicamente o golpe, mostrando a falácia da interpretação do juiz e da mídia sobre as suas palavras, e elucidando o significado da presença de Lula no Governo: uma união de todas as forças brasileiras, com a capacidade de articulação dele, para enfrentar a poderosa armação de golpe que mais uma vez ameaça a República. Discurso claro e convincente, de calar panelaços que se ensaiavam no início.
Outro discurso em tom de grandeza fez Lula na manifestação em São Paulo, confirmando a interpretação correta da sua nomeação, buscando o entendimento nacional em prol do Brasil, cuja economia vem sendo destruída pela crise política. Manifestações expressivas contra o golpe ocorreram em todas as capitais do País.
Mas é claro que o golpe está armado e tem forças muito poderosas, a FIESP e a FIERJ já aderiram, até a OAB (!); a bolsa já subiu e o dólar já caiu, o capital sabe das coisas, a FEBRABAN não disse nada porque nunca diz nada, leva sempre a melhor, assim como os silenciosos fantasmas do Norte, já denunciados por Snowden tempos atrás, numa delação que nada tinha de premiada nem de interessada.