Por sugestão do amigo navegante Fernando Andrade, este ansioso blog publica artigo do bom amigo Pedro do Coutto.
É uma homenagem a Procópio Mineiro, que dirigia a Radio JB quando os militares e a Globo tentaram tomar a eleição de Brizola no computador e entregar a Wellington Moreira Franco - hoje, na linha de frente da Moral Peemedebista, segundo o Evangelho do (Vice) Presidente Michel Temer.
( Sem querer interferir na narrativa do Pedro, só para lembrar: o apresentador da Radio JB era o incomparável Eliakim Araújo, uma das melhores vozes da TV e do radio do Brasil !)
Sem falsa modéstia, este ansioso blogueiro publica o artigo do Pedro para lembrar que, a certa altura, numa de suas fracassadas Cruzadas, Ali Kamel tentou contar o episódio da perspectiva da Globo.
O que deu origem ao livro que escrevi com Maria Helena Passos, "Plim-Plim - a peleja de Brizola contra a fraude eleitoral", da Editora Conrad.
Ali Kamel, como se sabe, faz parte do elenco das "37 ações que movem contra PHA - diz-me quem te processa e dir-te-ei quem és".
Breve se verá aqui que serão 36, com a extinção sumária de uma queixa crime movida por outro "global".
Em nome dos fatos, vamos ao Pedro do Coutto, melhor que o Globope e o Datafalha, juntos.
Pedro do Coutto
Procópio Mineiro, que na sexta-feira morreu antes do tempo, foi noticiado de forma simples e singela na seção de obituários de O Globo de sábado. Jornalista profissional, dirigia a Radio JB em 82, quando foi tentada no Rio a fraude colossal da Proconsult. Com o apoio de Armando Nogueira, na Rede Globo, e, pelo menos, o silêncio de Evandro Carlos de Andrade, no Globo, tentava transformar a vitória de Leonel Brizola nas urnas em vitória de Moreira Franco. Escândalo que ressoa até hoje.
Mas o Jornal do Brasil, com Paulo Henrique Amorim à frente da redação e a Rádio, com Procópio Mineiro, impediram o alucinado golpe contra a decisão popular. Naquela ocasião fiz parte da equipe de Paulo Henrique, formada também em primeiro plano por Hedyl Valle Junior, Ronald de Carvalho, Ricardo Noblat. Na Rádio Jornal do Brasil, a segunda pessoa era o Jornalista Pery Cotta, hoje presidente do Conselho Deliberativo da ABI.
A tempestade foi intensa, relâmpagos e trovões de orquestra (frase de Nelson Rodrigues), pode-se calcular face aos interesses envolvidos. Mas Paulo Henrique tivera aprovado por M.F. Nascimento Brito um projeto extraordinário de acompanhamento da apuração de votos. O cérebro eletrônico da organização foi mobilizado e preparado para computar as eleições urna por urna, voto a voto. Estabelecido tal controle, o trabalho não poderia apresentar falhas: era uma simples questão de matemática.
Paulo Henrique me escalou para fazer as projeções, já que a apuração demandava uma semana e era fácil identificar o desempenho dos candidatos por região. Este o meu trabalho.
Hoje em dia a computação é muito mais veloz, o resultado final sai em doze horas. Fazer projeções, agora, só tem valor se a disputa estiver duríssima. Mas estamos falando de ontem. O Globo, de Evandro, claro, não contestava os números da Rede Globo. Não eram falsos, a forma de sua utilização sim. Brizola vencia no Rio e na Baixada Fluminense. Moreira Franco na região serrana e no interior do estado. Na Zona Sul carioca também. O jornalismo comandado por Armando Nogueira dava preferência à computação parcial das áreas em que Moreira vencia. Um absurdo.
O ritmo da apuração transcorria por igual. Portanto, de plano, desencadeou-se a divergência entre o Jornal do Brasil e a Radio JB, de um lado, e a Rede Globo de outro. Paulo Henrique, inclusive, lançou um livro sobre o acontecimento. Um duelo vencido pelo JB. Mas com esforço. Surgiram obstáculos, não por parte de Nascimento Brito ou de sua filha Teresa, que também participava do comando geral.
Mas por parte de dirigentes do cérebro eletrônico. O Jornal todos os dias apontava Brizola absoluto na frente. A Rádio todas as horas. A cidade do Rio pesava 47% do eleitorado. Brizola, aqui, alcançava – lembro-me bem – 41 a 26 pontos. A Baixada Fluminense pesava 25%. Nela, a vantagem de Brizola era ainda maior. A região serrana e o norte fluminense tinham expressão de 28% do eleitorado. A disputa incluía Miro Teixeira, Sandra Cavalcanti, Lisâneas Maciel. O quadro final estava definido computados 10% dos votos. Era só fazer as projeções. Cabia a mim. Procópio Mineiro e Pery Cotta seguiam na mesma direção, a única legítima.
Mas eis que na madrugada de sexta para sábado, as eleições tinham sido na terça ou quarta, dirigentes do sistema de computação dormiram na sede da avenida Brasil. A Proconsult atacava antes do alvorecer. Minhas projeções foram colocadas em dúvida. A Proconsult chegou aqui, me disse Paulo Henrique. Mas não se preocupe, você está certo. E sustentou meu trabalho. Nascimento Brito também. Esta é a história que conto e que teve a participação ativa de Procópio Mineiro. Com este registro, dou adeus a ele. Ele viveu um momento alto do jornalismo brasileiro.
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