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Bolsonaro detona filme que não viu e livro que não leu

Kotscho: o capitão não consegue lidar com a verdade factual
publicado 15/01/2020
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(Reprodução/Redes Sociais)

Por Ricardo Kotscho, em seu Balaio do Kotscho - Entre outros problemas cognitivos, o capitão Jair Bolsonaro, nosso presidente da República, tem sérias dificuldades para lidar com a verdade factual.

Há uma incompatibilidade visceral entre a realidade e as fantasias do máximo mandatário.

De volta as férias, partiu com os dois pés para cima do documentário “Democracia em Vertigem”, de Petra Costa, que concorre ao Oscar, e do livro”Tormenta”, da jornalista Thaís Oyama, sobre o seu primeiro ano de governo.

Gosto não se discute, mas esse caso é mais grave porque ele confessou que não viu o filme nem leu o livro.

Aliás, o ex-militar não se dá bem com o cinema e a literatura, e com a cultura em geral, que ele abomina como coisa de comunistas.

Seu repertório nessa área deve se limitar a filmes de bangue-bangue e livrinhos de sacanagem, a julgar pelo seu palavreado chulo.

Para ele, que governa montado num esquema industrial de mentiras, é tudo ficção quando as verdades factuais não lhe agradam.

“O livro é fake news, mentiroso e não vou responder sobre o livro”, disse aos jornalistas no cercadinho do Alvorada.

“Vocês têm uma colega de vocês que fez um livro que leu meu pensamento. Acho que não tenho que conversar com vocês, é só escrever o que você achar”.

O mesmo ele falou sobre o filme que se orgulha de não ter visto, o único concorrente do cinema brasileiro ao Oscar.

Só um detalhe: o filme foi exibido pela multinacional Netflix e o livro editado pela Companha das Letras, a maior e mais competente editora brasileira.

No melhor estilo Trump, ele não entra em detalhes, não argumenta. Apenas detona, vira as costas, e vai embora fazendo cara de mau.

Ao ouvir o nome do desaparecido fantasma Queiroz, decretou: “Acabou a entrevista”.

Com a previdência em colapso, depois da reforma, Bolsonaro está preocupado é em fazer uma campanha pregando a abstinência sexual no Carnaval, uma obsessão da ministra-pastora Damares.

Não sei como ainda não proibiram a cerveja, o confete e a serpentina. Eles abominam a alegria, a música, a festa.

Estão sempre em guerra contra o mundo, em seu universo particular feito de confrontos, tristezas, destruição e mortes, num país que gostava de celebrar a vida.

Quando a coisa aperta, chamam os militares. Vão convocar 7 mil fardados de pijama para cuidar das filas do INSS, onde multidões de desesperados são tratados como gado.

É tudo tão louco que o governo vai gastar mais R$ 9,5 bilhões até o final do ano para “adaptar” o INSS à reforma, feita exatamente para combater o rombo fiscal e tornar mais difícil a vida dos aposentados.

Parece mesmo ficção, mas é tudo real.

Vida que segue.

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