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De olho nas eleições de 2022, Doria ataca manifestantes em São Paulo

PM prende em massa para evitar novos protestos contra o governo
publicado 16/01/2020
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Reação "pacífica" da PM tucana durante uma manifestação contra a violência policial... Avenida Paulista, São Paulo, 1º/IX/2016 (Créditos: Paulo Pinto/AGPT/Fotos Públicas)

O governador de São Paulo, o ex-prefake João Doria, já deixou bem claro que quer esquecer que um dia já foi Bolsodoria.

Tucano civilizado que é, Doria precisa se mostrar indignado com as grosserias e os absurdos proclamados pelo presidente Bolsonaro!

Isso não significa, entretanto, que o governo de São Paulo irá adotar políticas mais humanas, mais sensatas - especialmente em áreas como a segurança pública, por exemplo.

Assim como governador Witzel, do Rio, que defende "mirar na cabecinha", Doria já disse que "a polícia vai atirar pra matar" e parabenizou os PMS que "colocarem bandidos no cemitério".

João Doria almeja disputar a presidência da República em 2022 - e, para conquistar o eleitorado conservador, não pode demonstrar aquilo que os bolsonaristas podem interpretar como um sinal de fraqueza.

Isso vale também para as manifestações.

Nas últimas duas semanas, pequenos grupos realizaram protestos no centro de São Paulo contra a alta na tarifa do transporte público: a passagem dos ônibus, trens e metrô na capital paulista subiu de R$ 4,30 para R$ 4,40 - aumento de 2,3%. Já a integração entre ônibus e trilhos passou de R$ 7,48 para R$ 7,65.

Essas pequenas manifestações, entretanto, poderiam crescer.

Basta lembrar que os protestos de junho de 2013 tiveram como estopim, justamente, os gastos com transporte público.

Se Doria quer disputar a presidência em 2022, ele sabe que não pode correr nenhum risco de ter sua imagem arranhada - como a dos políticos que se tornaram alvos das manifestações de seis anos atrás.

Portanto, o governador e ex-prefake deu a ordem à Polícia Militar: tolerância zero para manifestante!

Segundo reportagem de Artur Rodrigues e Guilherme Seto na Folha de São Paulo desta quinta-feira 16/I, a PM de Doria "tem detido manifestantes em massa, levado-os à Justiça e tem até revistado a imprensa nos protestos — em alguns casos, jornalistas foram agredidos por profissionais de segurança".

Durante um protesto na região da Avenida Paulista na quinta-feira 9/I, a Polícia Militar prendeu cerca de trinta pessoas que estavam dentro de uma estação do metrô. Segundo testemunhas, os detidos não participaram de nenhuma ação de vandalismo ou ameaçaram os policiais de qualquer forma - foram escolhidos aleatoriamente, com o objetivo de intimidar os participantes de futuras manifestações.

Desde 2014, os protestos também passaram a ser acompanhados por um número desproporcional de policiais - muitos utilizando armamento pesado. De acordo com a reportagem, "a tática afasta pessoas que têm receio de estarem presas em um ambiente no qual a polícia utiliza com frequência munição não letal e bombas de gás contra os manifestantes".

O advogado Roberto Podval, que representa alunos da USP detidos em uma manifestação em 2019, criticou a postura do governo do estado: "o que o Doria tem de liberdade de mercado ele não apresenta no olhar para a sociedade. Ele tem visão tacanha do que é manifestação e da sua legitimidade. Nunca vai dar certo querer aquietar a sociedade por meio da repressão".

Marco Antonio Teixeira, professor de administração pública da FGV-SP, complementa: "estamos voltando a um momento em que tem apelo dizer que toda manifestação é baderna. O governador assim tenta acenar para o eleitorado que o colocou no posto e investe no fracasso do núcleo bolsonarista, pensando na eleição presidencial de 2022".

Leia a reportagem completa na Folha de São Paulo.

Em tempo: e se uma tragédia como a de Paraisópolis, quando nove jovens morreram pisoteados após uma ação desastrosa da PM, se repetir na frente das câmeras - por exemplo na Avenida Paulista? Será que o governador Doria também irá atribuir o massacre a um "erro operacional"?

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