Temer comprova que sem Moro não haveria Golpe
Em entrevista ontem ao programa “Roda Viva”, da TV Cultura, o ex-presidente Michel Temer fez revelações que mudam a narrativa histórica sobre o impeachment da antecessora, Dilma Rousseff. Ela foi impedida em 2016.
O próprio Temer usa a palavra “golpe” para se referir ao impeachment de Dilma. Ele diz que, se o ex-presidente Lula tivesse assumido a Casa Civil em março de 2016, o impeachment não teria acontecido devido “ao bom contato” do ex-presidente com o Congresso.
Temer reitera não ter dúvida de que o prestígio de Lula perante o Legislativo teria evitado a queda de Dilma. Uma operação de combate à corrupção não pode interferir assim na História de um país. O Judiciário e o Ministério Público Federal não poderiam ter realizado uma trama política contra o então governo.
Foi o que a Lava Jato fez ao divulgar, ilegalmente, um grampo de uma conversa entre Lula e Dilma no dia 16 de março de 2016. Tal conversa foi captada quando o prazo de gravação havia se esgotado e envolvia autoridade com foro especial no Supremo Tribunal Federal. Nunca poderia ter sido divulgada.
O então juiz Sérgio Moro e procuradores da República discutiram no Telegram o risco de suas atitudes e sabiam que não era legal a divulgação, como mostrou reportagem baseada no arquivo do “The Intercept Brasil”.
A avaliação de Temer no “Roda Viva” tem credibilidade porque ele foi o principal beneficiário da queda de Dilma e conversou com Lula, tendo sido grampeado pela Lava Jato, que escondeu deliberadamente a gravação que enfraquecia a tese de que o ex-presidente queria ser ministro para obter foro no STF e fugir de Curitiba.
Temer restabeleceu a verdade histórica. Fica claro que houve, sim, golpe parlamentar, expressão que sempre foi usada neste blog e nos comentários na rádio CBN em relação ao impedimento. A tese de golpe foi negada por parcela do país. E agora, José?
Tornou-se evidente o papel de Moro e da Lava Jato na derrubada de Dilma, o que foi uma interferência política ilegal do Judiciário no Executivo. Numa democracia plena, isso não poderia ter ocorrido.
O relato de Temer ao programa apresentado pela jornalista Daniela Lima tem forte peso histórico. Ele deixa claro que o motivo para Lula ser indicado para a Casa Civil destrói o argumento da Lava Jato, de Moro e também do STF (Supremo Tribunal Federal) para impedir que o petista assumisse o posto.
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Flagrante ilegalidade
Outro ponto importante do dia de ontem: é flagramentemente ilegal a revelação de que os procuradores Deltan Dallagnol e Thaméa Danelon se dispuseram a fazer minuta para o advogado Modesto Carvalhosa pedir o impeachment do ministro do STF Gilmar Mendes.
Imagine um cidadão ser processado e o Ministério Público se dispor a redigir peças de um advogado de acusação. Mais: Dallagnol diz no Telegram que ninguém pode saber sobre o que ele e Danelon planejavam fazer. Ora, esconderam porque era ilegal o que discutiam no aplicativo. Trataram de processo penal no Telegram, fora dos autos, para tramar contra um ministro do Supremo.
É óbvio que o material do “The Intercept Brasil” é verdadeiro. Tambem é escandaloso que Dallagnol e Danelon respondam que não comentariam assuntos oriundos de crime de hackeamento. Parecem os primeiros acusados da Lava Jato dando versões falsas sobre os seus atos. Parece que a Lava Jato nunca vazou nada. Ora, já ficaram insustentáveis as versões apresentadas por Moro, Dallagnol e outros procuradores sobre esses diálogos no Telegram, revelados pelo jornalista Glenn Greenwald.
Não enxergar a gravidade desses fatos e o interesse público inerente são atitudes inaceitáveis em uma democracia plena. Tal tolerância ocorre em república de bananas. A lei e o jornalismo devem valer para todos.
A Lava Jato manipulou a opinião pública e a imprensa no episódio do grampo de Lula-Dilma. Mudou a História do Brasil, abrindo caminho para um desarranjo institucional que jogou o país nas mãos de Jair Bolsonaro. Moro e cia têm essa responsabilidade histórica que nunca será apagada. O documentário “Brasil em Transe” dá modesta contribuição para entender melhor o momento grave que o país viveu entre 2013 e 2018. Vejam aqui.
PS – Temer usou, sim, a palavra golpe para se referir ao impeachment.
Temer usou, sim, a palavra golpe para se referir ao impeachment na hora em falou do papel de Lula, que evitaria o impedimento. Noutro trecho, ele julgou o processo constitucional. Foi o que ele sempre disse. Golpe parlamentar acontece quando forças políticas decidem derrubar um presidente pelo conjunto da obra e buscam provas para lá de controversas. Houve um golpe parlamentar.
É mentira histórica passar pano para isso ou tentar amenizar o que aconteceu. O impeachment de Dilma foi político e tramado por forças que a derrubaram buscando “provas” depois do “veredito”. Esta é a História real, e o grampo ilegalmente divulgado por Moro foi fundamental para matar a última tentativa da presidente de ficar no poder. A imprensa, como um todo, precisa olhar com mais coragem e honestidade para esse período histórico. Vai acontecer, como aconteceu com 64. Leva tempo mesmo.
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