Washington Post: diplomacia bolsonária transforma Brasil em "banana republic"
Já imaginou o discurso do Bolsonaro na Assembleia Geral da ONU, em setembro? Será motivo para medo ou vergonha? (Original: Drew Angerer/AFP)
O Conversa Afiada traduz, do Washington Post, artigo de Alexandre Andrada, professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília e Rosana Pinheiro-Machado, antropóloga.
Ambos são colaboradores do Intercept Brasil.
Por que Bolsonaro quer nomear seu filho para a embaixada? Por causa do Trump
O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, há vários meses vem sendo descrito como um "Trump dos trópicos". Ele segue muitas das políticas do presidente americano, como os ataques ao meio-ambiente, à imprensa e a defesa de uma visão de mundo nativista, de extrema-direita. Agora, há um novo motivo para comparar os dois líderes: assim como Trump, que indicou seu genro Jared Kushner para cuidar da política americana no Oriente Médio, Bolsonaro está considerando indicar seu filho Eduardo para chefiar a embaixada brasileira nos Estados Unidos.
O filho mais novo de Bolsonaro tem 35 anos, é advogado e trabalhou em um cargo raso na Polícia Federal - ele lidava principalmente com burocracia e papelada, ao invés de ir para as ruas em operações - antes de começar sua carreira parlamentar em 2015. Agora, ele tem a chance de se tornar um dos membros mais importantes do governo de seu pai.
Para rebater as reações negativas da imprensa e as acusações de nepotimo, Eduardo citou suas supostas qualificações: fritou hambúrgueres nos Estados Unidos, quando era um estudante de intercâmbio. No Brasil, as crianças da elite têm pouco contato com trabalhos domésticos - viajar para o exterior para obter "experiência de vida" em empregos com baixos salários, como lavar pratos, é uma espécie de "rito de passagem".
Mas o real motivo para sua possível indicação tem pouco a ver com sua experiência nos Estados Unidos e mais com seu papel chave na amizade autoritária e ideológica entre Trump e Bolsonaro. Em público, Eduardo já usou um boné com o slogan da campanha de Trump, "Make America Great Again". Em sua primeira visita aos Estados Unidos, Bolsonaro levou o filho à Casa Branco. Antes disso, Eduardo Bolsonaro se encontrou com Stephen Bannon, ex-conselheiro do governo Trump. Ele também participou de um encontro de senhoras trumpistas e declarou seu apoio ao muro anti-imigrantes na fronteira com o México - um assunto que não tem qualquer respaldo da diplomacia brasileira.
Eduardo Bolsonaro também já mostrou simpatia à ideia de usar força militar contra o governo de Nicolás Maduro na Venezuela. Tal comportamento levou o ministro das Relações Exteriores de Maduro a chamar a relação entre Brasil e Estados Unidos de "aliança neofascista". Tudo isso tem o dedo de Eduardo - ele é conhecido como o principal conselheiro de seu pai em questões externas.
Em tal contexto, ter Eduardo Bolsonaro como embaixador em Washington é uma excelente notícia para o governo de Donald Trump. Ao invés de lidar com o pragmatismo exercido pelos especialistas altamente treinados do Itamaraty, o governo americano pode contar com um apoiador entusiástico de suas políticas e interesses.
(...) A visão de mundo de Eduardo Bolsonaro é moldada pelas ideias de Olavo de Carvalho, uma espécie de Rasputin tropical, e Steve Bannon, líder global da cruzada nacionalista que ganha força em diversos países. Os Bolsonaros crêem que estão em uma guerra contra o globalismo e o marxismo, em defesa dos ditos "valores ocidentais". Eles enxergam Trump como o líder desse movimento
(...) Este deve ser, certamente, um dos pontos mais baixos da história da diplomacia brasileira. Eduardo Bolsonaro não é um diplomata de carreira, nem tem qualquer formação em relações internacionais. Sua única credencial é ser o filho do presidente, o que reduz o Brasil à condição de uma "república das bananas". Mas talvez essa não seja, ainda, a decisão diplomática mais absurda que Bolsonaro tomará.
Se tudo isso parece estranho, espere só o discurso de Bolsonaro na abertura da próxima sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas. Prepare-se para o pior - e, ainda assim, pode ser otimista.
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