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Lyra: fora Lula, quem o PT tem ?

O Conversa Afiada tem o prazer de publicar entrevista que Fernando Lyra concedeu ao Jornal do Commercio de Pernambuco
publicado 23/04/2011
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O Conversa Afiada tem o prazer de publicar entrevista que Fernando Lyra concedeu ao Jornal do Commercio de Pernambuco:


“Fora Lula, quem é líder no PT?”


Gabriela Bezerra e Paulo Augusto


Acreditando que na vida – principalmente na pública – é importante saber a hora de sair, Fernando Lyra deixou a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), na última segunda-feira, após oito anos na presidência da instituição. Agora sem ocupar cargos públicos, o ex-deputado federal e ex-ministro do governo Sarney se encontrou numa antiga atividade: dar pitacos na política. Tido por muitos como um hábil articulador político – sendo, inclusive, um dos responsáveis pela candidatura de Tancredo Neves à Presidência da República –, Lyra concedeu entrevista ao JC na última quinta-feira. Na conversa, falou sobre diversos temas. Elogiou o governo Dilma, fez duras críticas aos partidos políticos e defendeu a necessidade da reforma política.



PARTIDO


“Eu tenho a tese que nunca houve nem haverá partidos políticos no Brasil. Hoje, você tem alguns realmente com formação ideológica, como o PSB. São exceções. Você vê que não tem partido. Quem são os militantes? A militância partidária no Brasil está zerando. Hoje são tendências e só. Não tem mais a militância e não há um processo dos partidos, porque não são partidos, para se entrosarem com a juventude. Você conversa com um jovem hoje e ele fala sobre tudo, menos sobre política. Não há nenhuma conscientização na juventude brasileira com o processo político. Ninguém quer saber. Você tem que se adaptar à sua realidade. A mobilização em torno da Ficha Limpa foi uma tentativa de resgate dessa conscientização. Foi importante, mas eu acho que tem que ser uma coisa mais contínua. E a reforma política precisa disso (de mobilização popular) também. Inclusive, tem muito ‘ficha suja’ decorrente das falhas desse processo eleitoral. Agora só se fala na eleição de 2012. Mas quem está falando? São os políticos, com seus interesses pessoais. O povo está se lixando. Nós estamos atravessando uma fase de apatia política popular nunca existente no Brasil. Eu falo isso aqui, mas entusiasmo mesmo eu não tenho.”


PT


“O PT não é um partido, nunca foi. O PT é um conjunto de tendências e é por isso que ele defende a lista (voto em lista fechada, na reforma política). O PT não tem liderança. Fora Lula, que está fora, que é extra, quem é o líder do PT hoje? E por que o PT não é um partido? Porque o PT foi criado pelos operários do ABC paulista, que naquela época não tinham nada a ver com o operariado brasileiro, com o apoio da intelectualidade da época, que não tem nada a ver com os operários, e com o apoio da base da igreja, de (o papa) João XXIII, que não tem nada a ver com os intelectuais nem com os operários. A partir daí, ele começou a formar tendências da base operária, da base intelectual e da base da igreja e foi crescendo. Foi crescendo por falta de opções e Lula deu ao PT essa grande coisa que foram as vitórias e o governo dele. Ele é 10 vezes maior do que o partido. Tanto é verdade que ele foi buscar Dilma para ser candidata a presidente da República, porque nenhuma liderança do PT, naquela época e nem hoje, tem condições de ser presidente. E Dilma não é PT, Dilma é Lula. E pra quê esse partido quer fazer lista? Porque ele tem o nome, por causa de Lula. Para disputar com os outros que não têm nome. Quem danado sabe o que é PSC? Quem é que sabe o que é PPS? Quem é que sabe o que é PRTB? Quem é que sabe o que é PMN? Quem é que vai votar em PMN? Ninguém sabe o que é o PSDB. Você tem nomes, mas você não sabe o que é que é. Porque o PSDB não existe. O PSDB hoje é quem? É de um lado Aécio, do outro lado Serra e no meio Alckmin. Pronto, acabou. Não tem mais nada.”


PMDB


“Ele não existe. Vou dar alguns exemplos. Quem é o PMDB de São Paulo hoje? (Era) Orestes Quércia. Temer não é líder em nada. Gosto até dele, pessoalmente, mas ele não é líder de nada. Quem é o PMDB do Rio Grande do Sul? Pedro Simon. E de Pernambuco? Jarbas, que é PMDB, mas não é PMDB, porque o PMDB dele não é PMDB. Assim como Simon, de certa forma... Um partido como PMDB, que precisa criar um núcleo de Afirmação Democrática, mostra o que é. E copiando, de uma forma que não tem nada a ver com nada, os ‘autênticos’ do MDB, do qual eu fiz parte. Mas do MDB. Porque teve uma hora que o governo militar não tinha jeito de acabar o MDB, então obrigou todo mundo a botar um ‘P’. A partir desse ‘P’ complicou tudo. A fragmentação de hoje não tem nada a ver com aquela época. Era uma outra hora. Eu mesmo criei os ‘autênticos’ e teve uma época que eu fiquei queimado com os ‘autênticos’ e com os ‘moderados’ (os dois grupos em que o MDB se dividia). Porque eu apoiei Tancredo, que os ‘autênticos’ não queriam. E os ‘moderados’ não gostaram da minha intromissão com Tancredo (que era da ala moderada). Mas eu achava que era a solução e não liguei para o resto.”


PSD


“Depois da Constituinte, ou melhor, depois da criação dos novos partidos, partido virou negócio. Todo mundo se acha no direito de criar um partido. Agora mesmo você vê o Kassab, que foi candidato apoiado pelo Serra. Ele era do DEM, foi apoiado pelo Serra contra o Alckmin e sai agora do DEM para criar o PSD, que era PDB e virou PSD, que é um partido que não é de esquerda, nem de centro, nem de direita. É o partido do oportunismo (que nasce) para se ter chance de ter financiamento e para aparecer na mídia como se fosse uma coisa nova, mas que já nasce velha. Um partido que já nasceu totalmente obsoleto. Um partido que não tem lideranças, que não tem filiados, tem é um corpo de oportunistas... Eu estou falando desse aí (o PSD), mas eu estou na política há 40 anos e 50% ou mais dos partidos que aparecem na televisão, eu não sei o que são, de onde vieram nem o que fazem.”


RENOVAÇÃO


“Aécio é competente, é carismático, mas está sem conteúdo para evoluir na política como liderança nacional. Eu vi o discurso dele (no Senado, há duas semanas) e não tem nenhuma proposta. (*) Eu acho que Eduardo Campos passou na frente. Eduardo está sendo um excelente governador, é renovador e inovador. Ele assume hoje o papel de liderança nacional. Sendo de um Estado pequeno como é Pernambuco e de um partido pequeno como é o PSB.”


DILMA


“Ela está indo muito bem... Porque não se choca com o passado recente de Lula, mas avança em alguns setores importantes, como o gerencial, o da participação real das diversas políticas, tanto econômica como estrutural. Acho que ela está indo muito bem. Agora mesmo, por exemplo, ela está tendo uma participação muito positiva na política externa. Tem planejamento. A visita dela à China é calcada em diversos itens de planejamento real, você vê que não tem floreio na visita.”


RECIFE


“Eu moro em Jaboatão. E lá Elias vai bem. (risos)”


OPOSIÇÕES


“O grande problema da oposição brasileira, seja federal, estadual ou municipal, é que não tem opções. Quem é o candidato a prefeito aqui? Vai sair do núcleo do governo. A disputa vai ser interna. João Paulo, só perguntando a ele. Eu não conheço ninguém que tenha opinião sobre o futuro de João Paulo. Eu gosto muito do Raul Henry, do Mendoncinha. Mas esses nomes não têm respaldo para ser candidato. Mas é muito cedo ainda.”


REFORMA


“Na reforma política, essa coisa da lista (fechada) liquida qualquer coisa boa que ela (a própria reforma) possa ter. Mandato de cinco anos, eu acho perfeito. Agora eu sou contra a coincidência das eleições. Você tem que ter eleição para prefeitos, vereadores, deputados estaduais e governadores e depois eleição para deputado federal, senadores e presidentes da República. Pode ser nos meses de agosto e outubro, não sei, o importante é que não seja no mesmo dia. Porque é impossível você fazer uma campanha de prefeito a presidente da República. A lista fechada é uma ideia aparentemente boa, mas o Brasil não são os Estados Unidos do Brasil, diferentemente dos Estados Unidos da América. Nós somos um país só, com diferenças absurdas. Não tem coisa mais diferente do que as ideias do PT de Pernambuco e do PT de São Paulo. Não tem coisa mais diferente do que o PMDB daqui e do PMDB do resto do País – tanto é que o PMDB daqui não apoiou Dilma, mesmo sendo aliado nacionalmente. O que eu acho é que cada Estado deveria ser um distrito, o que eu chamei de ‘distritão’. O que é o ‘distritão’? Os vereadores mais votados formariam a Câmara. Os deputados mais votados formariam as Assembleias e a bancada na Câmara Federal. Com isso daí haveria a integração dos diversos segmentos e diversos partidos na Câmara Federal. Para não acontecer o que acontece hoje, as divergências da bancada. Cada bancada tem um pensamento diferente. Com o sistema de lista, quem é que vai para a cabeça da lista? Então com isso aí (o ‘distritão’), você dá uma nova forma de formação da Câmara, do Senado... Porque não é possível que você eleja um deputado federal com 1 milhão e 300 votos, como foi o Tiririca, e um outro, com 200 votos, seja eleito por causa dessa votação.”


REELEIÇÃO


“Cinco anos é um prazo bastante satisfatório e oito anos criam um problema sério porque é muito difícil você renovar um mesmo governo. Tem exceções. Por exemplo, Eduardo Campos é exceção, porque ele mudou a forma de governar. Ele tem feito coisas fantásticas, como essa participação popular nos projetos do governo (Todos por Pernambuco). Mas sem a reeleição é possível se fazer o que se faz em oito anos e, se não for feito, o seu sucessor pode ser o seu aliado. Taí Dilma. Também acho que o ex-presidente não pode mais se candidatar a nada, porque já foi presidente. Não é que acabou a vida pública, mas acabou a vida partidária para ele. Nos Estados Unidos não pode e eu acho que está certo. Vamos fazer uma pequena análise dos ex-presidentes que estão no Congresso. Estão lá Sarney, Itamar Franco e Fernando Collor. Fernando Henrique não está porque não quis.”


CAMPANHA


“Acho que o financiamento de campanha deve ser público, sai mais barato. O público sai mais barato do que o privado, porque no privado as contribuições, geralmente, são decorrentes de apoios financeiros com dinheiro público. As empresas que financiam as campanhas têm interesse no Estado. A população vai ter que entender (a necessidade do financiamento público), porque tem que ser explicado. Quem é que paga os programas eleitorais hoje nas televisões? É o governo. E o povo não sabe disso? Tem que saber. Tem que ser bem claro, bem transparente essa coisa.”


VOTO


“Eu ainda sou a favor do voto obrigatório no Brasil, porque não há ainda uma conscientização do valor da escolha pessoal. Eu acho que o Brasil ainda não tem isso. No futuro é possível, mas por enquanto eu acho que não tem sentido nenhum. Até porque é uma mudança radical num assunto que não tem importância maior na eleição. Se você tem o direito de se abster, você não é obrigado a votar, mas você tem que comparecer. Eu acho muito difícil você liberar. Isso vai fazer com que o voto que hoje ainda não é independente, mas financiado, aumente. Você não tem obrigação de ir, aí diz que não vai. Então vai dobrar o valor”.



(*) A entrevista foi concedida no dia 17 de abril, antes, portanto, de uma certa blitz da Lei Seca, no Leblon, no Rio. PHA