A audiência a que Ustra não foi: era o “terrorismo de Estado”
Este ansioso blogueiro conversou por telefone com o professor emérito Fábio Comparato, advogado da família Merlino que processa o coronel Ustra por danos morais.
Comparato ressalta dois pontos da audiência que se realizou nesta quarta-feira, na 20a. Vara Cível, em São Paulo, esta tarde.
Primeiro, TODAS AS SEIS da testemunhas viram Merlino em estado semi-comatoso, após 48 horas de tortura no DOI-Codi chefiado por Ustra.
Uma delas foi torturada ao lado de Merlino.
Ela na cadeira do dragão e ele, no pau de arara.
A testemunha viu quando o corpo de Merlino, quase inanimado, foi jogado no porta mala de um carro que estava no pátio do DOI-Codi.
Uma testemunha ouviu um policial dizer que Merlino foi levado para um lugar em que um caminhão pôde passar por cima do corpo dele várias vezes.
Em segundo lugar, as testemunhas informaram que o coronel Ustra, pessoalmente, participava das sessões de tortura.
E que foram torturadas por Ustra, ele mesmo.
Ustra se valeu de prerrogativa que lhe permite não comparecer à audiência.
Seu advogado, Paulo Esteves, também não foi.
Foram duas advogadas sem autorização para decidir.
Perguntaram as duas advogadas se o presidente Sarney seria ainda ouvido pela defesa e elas responderam que não tinham, autorização apara responder.
Provavelmente para ganhar tempo, Ustra mandou ouvir testemunhas em Brasília, Curitiba e Rondônia.
O que leva a crer que o julgamento não acabe tão cedo.
Comparato disse que o depoimento das testemunhas deixou claro o horror: o sistema penitenciário e torturador do regime militar.
Tratava-se, disse Comparato, de “terrorismo de estado”.
Paulo Henrique Amorim