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Até o poder do Supremo tem limite

Todo poder tem limite. O recente comportamento do Supremo provoca a indignação de muitos brasileiros.
publicado 21/10/2011
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O ansioso blogueiro assistia à cobertura da CNN americana sobre a morte de Kadafi, quando entrou a figura do ex-apresentador do jornal principal da CBS, Dan Rather.

Rather faz parte de uma geração sem réplica: a de grandes repórteres que se tornaram apresentadores de telejornais, depois de muitos anos de poeira na estrada.

E continuaram a ser repórteres.

Como foca da afiliada da CBS em Dallas, Rather foi o primeiro a noticiar a morte de Kennedy.

E daí foi, até substituir o lendário Walter Cronkite, o maior de todos os âncoras.

(Uma peculiaridade, amigo navegante. Cronkite JAMAIS deu opinião, palpite, enquanto sentado na bancada de apresentador. Com uma exceção. Depois de uma série de reportagens no Vietnã, fez um editorial, com a tarja EDITORIAL, na base da telinha, e disse: os Estados Unidos tem todo o poder do mundo, mas não tem o poder de derrotar o Vietnã. Conta-se que o Presidente Johnson viu o editorial e comentou: se eu perdi o Walter, perdi a classe média americana. E não se candidatou à re-eleição. O candidato dele, Humphrey, perdeu para Nixon. Rather também nunca deu a opinião dele como apresentador. Isso é coisa da televisão brasileira ...)

Ao comentar a morte de Kadafi, Rather disse, agora na posição de comentarista e, não, de apresentador de um telejornal em rede aberta:

Os Estados Unidos não aprenderam a lição com o Vietnã, o Iraque e o Afeganistão: os Estados Unidos tem muito poder, mas todo poder tem limite.

Como demonstram as mortes de Saddam Hussein e Kadafi.

Mas o poder americano, mesmo depois de derrubá-los , também é limitado.

Os Estados Unidos devem estar preparados - continuou Rather - para deixar que os próprios líbios reconstruam seu futuro.

E isso será muito difícil.

(Daí se entende por que Rather caiu da ancoragem da CBS, numa patranha montada para agradar o então presidente George W. Bush.)

Pois é, amigo navegante, se até o poder dos Estados Unidos tem limite - refletiu o ansioso blogueiro - também o do Supremo Tribunal Federal tem.

Um ministro do Supremo, no recesso, deu dois HCs Canguru, em 48 horas , a um banqueiro apanhado - veja o vídeo - no ato de passar bola a um agente da Polícia Federal.

Por causa deste mesmo ministro do Supremo, um cidadão brasileiro é constrangido e intimidado por uma convocação para dizer à Polícia Federal como ganha a vida.

Só porque este cidadão brasileiro se perguntou se eram lícitas ou contaminadas as relações entre esse Juiz e o advogado do banqueiro flagrado no ato do suborno.

O Supremo rasga o papelzinho do Brizola por unanimidade e preserva, assim, seu ilimitado poder de julgar e proclamar o vencedor das eleições.

O Supremo decide suspender a ação protetora de um imposto, porque os carrões que os ricos importam tiram emprego do trabalhador brasileiro e sobrecarregam a balança comercial.

O Supremo preserva os privilégios dos ricos, de novo.

Se fosse para defender o operário na periferia de Juazeiro, que comprou uma motocicleta para ir trabalhar, teria o Supremo reagido tão rápido ?

Ou seja, o Supremo cassa os poderes do Legislativo e do Executivo no espaço de 24 horas.

E, breve, cassará os poderes do próprio Judiciário, quando fechar o Conselho Nacional de Justica, decisão escandalosa que se avizinha.

Porque os juízes são intocáveis.

Quando tocados, vão para casa com a aposentadoria integral.

E se tocados forem, em São Paulo passarão a ser tocados por um delegado especial, exclusivo, fora do alcance da imprensa.

O Rather tem razão.

Todo poder tem limite.

O recente comportamento do Supremo provoca a indignação de muitos brasileiros.

Este ansioso blogueiro acredita, como Mino Carta, que o PiG (*) é o maior obstáculo à construção da Democracia brasileira (obra ainda longe de concluir-se).

Agora, acredita que o Judiciário faz companhia ao PiG (*).

Aliás, um não viveria sem o outro.

Mas, como se sabe, Saddam e Kadafi não têm mais tanto poder assim.

Nem os Estados Unidos.


Paulo Henrique Amorim


(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.