O Conversa Afiada reproduz e-mail que recebeu do amigo navegante Rodrigo:
Paulo, bom dia!
Cresci na USP, lá eu ia junto dos meus amigos ainda criança, de bicicleta, munido de varas de pescar para "atacar" o lago que fica na Biologia.
Nesses tempos, a USP era totalmente aberta, as pessoas jogavam bola nos espaços livres, andavam de bicicleta.
No bosque havia rampas de "cross", as pessoas faziam piquenique e a utilização do campus como parque era a apropriação de uma entidade pública pela sociedade.
Com lideranças de diversas tendências partidárias, a USP foi aos poucos sendo fechada e o campus foi suprimido da sociedade.
Os argumentos eram vários: desde a falta de verba para cuidar dos próprios públicos até a segurança (apesar de, na época, haver um número muito inferior de casos de criminalidade).
Escutei de pessoas muito próximas que a favela do entorno só causa problemas, que o aluno foi morto dentro da USP etc.
Aí perguntei por que o pessoal da favela sentiria raiva da USP.
A favela dali parece muito com a que vivia no Pelourinho, onde a população, quando houve a restauração, foi jogada atrás de um muro de contenção de seres humanos.
Também sinto raiva da USP.
Raiva por estar fechada.
Raiva da reitoria - a anterior - ao argumentar que as bicicletas atrapalhavam o trânsito, e, por isso, suprimiram um bem coletivo a que tinham acesso pessoas comuns.
Houve tentativas de privatização de vagas.
E houve o preencimento de vagas em grande parte pela elite de escolas particulares - o que também não me agrada.
Agora, e quem não foi estudante? Quem não conhece (de verdade) as drogas, as bebedeiras, etc, nem manteve contato com universitários ?
Me parece que, excluindo os mais grosseiros, que não merecem resposta, a sociedade não não quer uma sociedade pasteurizada, nem teme os questionamentos dos mais jovens.
Ainda mais que se trata de uma faculdade de ciências humanas.
A eles não caberia questionar ?
Quanto aos policiais envolvidos, também são vítimas das políticas de tras de mesa e não são o foco do problema.
O problema é a política que os colocou lá.
Tenho uma filha, muito nova ainda para estar na faculdade.
Espero e incentivo para que ela questione, que ela não seja pasteurizada.
Só assim acredito que ela poderá escapar, inclusive, das drogas.
Rodrigo Frateschi