A Ley de Medios e a Rede da Legalidade. A Dilma sabe
O ansioso blogueiro teve a honra de prefaciar o livro “Legalidade”, com frases e pensamentos de Leonel Brizola.
publicado
23/01/2012
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O ansioso blogueiro teve a honra de prefaciar o livro “Legalidade”, uma antologia de frases e pensamentos de Leonel Brizola, coordenada pelo bom amigo Oswaldo Maneschy, que a editora Nitpress lança esta segunda-feira, no Rio, na sede da ABI.
Clique aqui para ler “Brizola, a informação é o antídoto contra o Golpe”.
Aqui vai o supra-citado prefácio:
A Ley de Medios é a rede da legalidade
A batalha por uma Ley de Medios começou com a Rede da Legalidade, que Brizola montou numa sala de dez metros quadrados no subsolo do Palácio Piratini, em Porto Alegre, em 1961, para dar posse a Jango, o presidente eleito pela Constituição.
Brizola encampou a Rádio Guaíba e transferiu o estúdio para o Palácio.
Sem isso, Jango não teria tomado posse e a intervenção militar de 64 teria sido em 61.
Brizola foi o primeiro homem público brasileiro a perceber que, sem uma Ley de Medios, não há Democracia.
O primeiro e único, até hoje.
(Com as duas raras exceções de Roberto Requião e Anthony Garotinho, que enfrentaram e enfrentam o elefante na sala da democracia brasileira – a Globo).
Brizola nasceu com o rádio. Era imbatível no rádio. E pagou um preço por isso: Brizola não fez a transição para a tevê. Continuou prolixo e exaltado, num meio de poucas palavras, e frio. Mas percebeu, como ninguém, que a Globo e seu diabólico instrumento, o IBOPE, tinham um poder incontrastável. Meu amigo Fernando Lyra, genial cabeça política, que se tornou candidato a Vice de Brizola por indicação de Brandão Monteiro, conta que Brizola não tinha esperança de ganhar em 89, contra Collor e Lula. Por causa da Globo – e do IBOPE.
Ele sabia das coisas. E da permanência delas. E quase ganhou. Não foi para o segundo turno, com uma diferença inferior a um ponto percentual em favor de Lula, que foi devidamente destroçado na véspera do segundo turno pelo jornal nacional (manter a caixa baixa, por favor, revisor) e a “edição” do debate com Collor – um exemplo de manipulação política via televisão, que consta de antologias mundo afora.
Brizola dizia: quando eu sentar naquela cadeira, a primeira coisa que farei será contestar aquele monopólio.
Quem ousou dizer isso, no Brasil?
Lula só falou mal da Globo aos 44 minutos do segundo mandato.
Em 1982, quando o regime militar e a Globo tentaram roubar a eleição dele para Governador do Rio, Brizola ganhou o jogo na imprensa. Na rádio JB, com Procópio Mineiro; no JB; na tevê Bandeirantes, com Villas-Boas Correia. Convocou uma coletiva com os correspondentes estrangeiros e mandou saírem às ruas para cobrir um golpe eleitoral. E foi ao estúdio do jornal nacional provar, ao vivo, ao Armando Nogueira, que a Globo tinha embarcado na fraude da Proconsult. (Armando deu uma informação correta: a matriz do Golpe estava na Proconsult e no jornal O Globo e não na tevê. E o jornal abastecia a tevê de fraude. O patrão dos dois, como se sabe, era o mesmo).
Brizola tentou respirar com a TV Manchete, do Adolfo Bloch, mas o calibre era fino. Tentou ressuscitar a rádio Mayrink Veiga. Inventou o Tijolaço nos jornais, para se defender e atacar.
Conseguiu uma vitória contra Roberto Marinho na Justiça: o jornal nacional leu um editorial escrito por ele, espinafrando Roberto Marinho.
Porém, as duas maiores vitórias contra a Globo foram eleger-se duas vezes Governador do Rio, que era uma espécie de Capitania da Família Marinho.
Brizola não se fez Presidente, porque, talvez, o bastão já tivesse saído de suas mãos. Estava com quem representava um novo trabalhador, que não era o descamisado da Cinelândia, no Rio, mas o operário do ABC que já batia na porta do Capitalismo.
O legado de Brizola é amplo.
Antes de Lula, Sarney – e logo ele ! – uma vez disse que nenhum político brasileiro tinha a biografia de Brizola.
Num mundo privatizado dos bueiros da Light (CEMIG - Sergio Andrade), dos apagões da Eletropaulo (dos tucanos de São Paulo), às tarifas telefônicas do FHC, para esse mundão sem fronteiras entre o público e o pessoal, Brizola tem a contar o que fez com as concessionárias de serviços públicos do Rio Grande do Sul.
Desapropriou por Cr$ 1.
Nesse mundo de aditivos, e depois de 60 anos de vida pública, não se pode acusá-lo de um só ato de improbidade.
E nesse mundo de ambiguidades – do FHC marxista e neoliberal, do Serra cepalino e entreguista – Brizola está onde sempre esteve.
Contra a injustiça social.
E, por isso mesmo, percebeu cedo que sem a Ley de Medios o pessoal do outro lado da linha do trem pode dar o Golpe.
O PiG, o Partido da Imprensa Golpista, é infatigável.
A Presidenta Dilma Rousseff nasceu brizolista, quando a Democracia recomeçou, aos trancos e barrancos.
Ela conhece o pensamento vivo do Engenheiro.
Aquele que viu o perigo que se escondia na “urna eletrônica” do Nelson Jobim e do Eduardo Azeredo, dois baluartes da Democracia pátria.
E por ter visto que a “Eletrônica” ia roubar a eleição dele em 82, passou a defender o papelzinho.
O Engenheiro via longe. Lembra-se das “perdas internacionais”, de que os neoliberais escarneciam?
O que dizer da enxurrada de dólares que o Banco Central americano despejou no mundo para sair da crise com a crise dos outros? Isso não foi uma “perda internacional” travestida de “política monetária”?
Não direi que, se estivesse vivo, Brizola lutaria incansavelmente pela Ley de Medios, do tamanho da Ley da Cristina Kirchner.
Não se pode dizer isso, em respeito ao Briza dos comícios na Cinelândia.
Ele não fez outra coisa a vida inteira. A informação é o antídoto do Golpe, dizia ele.
Paulo Henrique Amorim
Paulo Henrique Amorim é jornalista e entrevistou Brizola na derrota e na vitória. É autor do livro “Plim-Plim – a peleja de Brizola contra a fraude eleitoral”. Como muitas pessoas de sua geração, manteve relações cordiais com Brizola – o que não impediu de brigar com ele, certa feita. Era comum.