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De Márcia a Daniel do BBB. Cotas raciais em altos cargos !

A propósito do post “Daniel, o novo herói Global”, o Conversa Afiada recebeu comentário da Márcia.
publicado 21/03/2012
Comments

A propósito do post “Daniel, o novo herói Global”, o Conversa Afiada recebeu o seguinte comentário da amiga navegante Márcia:

Márcia Martins


Talvez Daniel repense sua opinião sobre cotas...


Afinal, depois de carimbado com a pecha de “negão tarado” como é que ele vai prosseguir com sua vida profissional normal?


Bem vindo à negritude, irmão. Eu sei desde os cinco anos de idade que sou “diferente”.


Uma coleguinha de brincadeiras começou a chorar quando a meninada da turma foi brincar de roda e eu – inocente, puro e besta – segurei na sua mãozinha. A menininha loirinha chorou e já olharam para mim desconfiados...


Puxa! Parece a sua história, mas – acredite – é a minha. Na verdade, a de milhões...


Como afro-descendente, gostaria que não houvesse necessidade das cotas, pois isso envergonha minha brasilidade. Mas sei que elas são cruciais para muitos brasileiros e brasileiras: ou por serem pobres, ou por serem, afro-brasileiros, ou por serem mulheres (cota na política), ou por serem deficientes físicos, ou por serem filhos de fazendeiros (cota denominada “Lei do Boi”, procure saber o que é...).


Meu pai foi um pequeno comerciante que conseguiu me dar alguma instrução. Você, nasceu com a estampa de “objeto sexual afro-brasileiro”. Cada um nasceu com uma pequena vantagem que o tirou da vala. No meu caso, a vala de esgoto a céu aberto do nordeste de Amaralina, em Salvador, não é uma mera figura de retórica.


Mas quantos estão na vala? Por que vala para uns e para outros não? Por que tanto esforço para sair da vala e ver tudo voltar à lama por causa de um faniquito de quem nunca pisou numa vala? Principalmente, por que tantos afro-brasileiros negam a extensão, profundidade e fedor da vala?


Mas se quiser, voltar à musculação e à mera vida de “modelo negro contra as cotas”, tudo bem. Dizem que você planeja processar a Globo por ter saído do programa. Não ouvi nada sobre processar por racismo, tudo bem, deixa para lá. “Malhação” (ou outro qualquer papel subalterno). Volte à vida de “modelo afro-brasileiro contra as cotas”! Tomara que tenha cota para isso...


(Clique aqui para ler "FHC fez o Apagão Elétrico para salvar criancinhas", ou uma Antologia da Treva, com textos de Ali Kamel, o mais poderoso Diretor de Jornalismo da empresa do Big Brothel  Brasil. - PHA)


Em tempo: no Valor desta quinta-feira, Ricardo Paes e Barros, respeitado especialista em questões de renda e desigualdade, economista do IPEA, defende cota racial para altos cargos (o Ali Kamel vai ter um troço !):

Paes de Barros quer cota racial para altos cargos


O economista especializado em políticas sociais Ricardo Paes de Barros, da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, defendeu ontem que o governo brasileiro avance nas ações afirmativas de combate à desigualdade racial.


Em sua avaliação, essas iniciativas foram bem sucedidas nos últimos dez anos, mas estão limitadas a "valores e necessidades" mais básicos da população negra - uma referência à superação da pobreza, acesso à renda e a melhores condições de moradia, por exemplo. O desafio, diz Paes de Barros, é avançar na superação de desigualdades raciais em "aspectos nobres", dando espaço para os negros em altos cargos de empresas públicas e privadas, na educação superior e no acesso à informação de qualidade.


"51% da população brasileira é negra e cada vez mais a pobreza é bicolor, cada vez mais o acesso à educação básica é bicolor, ou seja, 50% da população branca e 50% da população negra dividem esses direitos. Mas quando vemos que apenas 20% da população negra está na pós-graduação e menos ainda em altos cargos, verificamos que o combate à desigualdade racial é limitado", avaliou Paes de Barros, durante lançamento do portal Observatório da População Negra.


Segundo o economista do governo, é papel do Estado elaborar ações afirmativas, como cotas, também para minimizar a desigualdade racial no "topo" da sociedade, se referindo a acesso a bons empregos e estudo de qualidade.


"É responsabilidade do Estado. Uma preocupação assim levaria a formação de uma elite negra de forma mais acelerada, porque estamos vendo que o acesso da população negra ao topo da sociedade brasileira ainda é limitado. Isso quer dizer que muitos valores e talentos negros não estão sendo aproveitados."


Paes de Barros explicou que é complexo criar ações afirmativas para o que classificou de "topo" da sociedade, por limitações de recursos e porque os valores meritocráticos estão mais enraizados em áreas de liderança em empresas e governo e na pós-graduação, por exemplo. "A grande questão é buscar os talentos negros e dar oportunidade de inclusão meritocraticamente", completou.


Informações adicionais em www.observatoriodonegro.org.br