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Dilma revê a Privataria. Machado de Assis explica

"E, agora, a Dilma prende os privatas noutra cadeia: a cadeia da lógica da economia, da necessidade de reduzir o Custo Brasil, a cadeia da competitividade e da eficiência."
publicado 11/09/2012
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Na solenidade desta terça-feira, ao anunciar a redução das tarifas de energia elétrica e a antecipação da revisão de concessões do Governo Cerra/FHC, a Presidenta Dilma Rousseff voltou a espinafrar as concessões do Governo FHC.

Referiu-se à formação de monopólios e às distorções que FHC construiu na Privataria das ferrovias.

Antes, o Ministro dos Transportes, numa entrevista ao ansioso blogueiro, já tinha anunciado que concessões de Cerra/FHC em rodovias e na Ponte Rio-Niterói seriam também revistas, para beneficiar o povo.

Energia elétrica.

Ferrovias.

Rodovias.

O que falta, amigo navegante ?

A Privataria dos telefones, a maior roubalheira de uma Privataria latino-americana, como demonstra o livro que ainda não foi lançado no PiG (*), o “Privataria Tucana”, de Amaury Ribeiro Jr.

O Governo Dilma já deu um recado, enquanto o Bernardo dorme.

Vai colocar um “espião” para medir a qualidade da banda-larga.

Parar com essa história de vender 100 e entregar 10.

O método Dilma de rever a Privataria difere daquele que o PT pregava desde a fundação no Colégio Sion em São Paulo e no Congresso no Sindicato dos Metalurgicos, em janeiro de 1979.

Ali, o PT anunciava um “partido sem patrões”, uma referência cifrada ao socialismo.

Aí, o PT falou em renegociar a dívida externa e, mais tarde, em rever a Privataria (ainda não havia o livro do Amaury, mas já se sentia o odor que saía dali de dentro).

(O ansioso blogueiro recomenda a leitura do excelente “Os sentidos do Lulismo – reforma gradual e pacto conservador”, de André Singer, da Companhia das Letras, em que se inspiram essas inúteis observações.)

Até que o Lula percebeu o que tinha intuído na derrota de 89, para Collor: “A minha briga é sempre esta: atingir o segmento da sociedade que ganha salário mínimo... Nós temos que ir para a periferia ...”

Lula tinha percebido que esse “sub-proletariado”, como define Singer, quer que o Estado o ajude, mas não quer ruptura, confusão política.

Porque ele não é sindicalizado e é o mais frágil, se a cobra começar a fumar.

Por isso, Lula, para ganhar do Cerra em 2002, assinou a Carta aos Brasileiros, onde avisou que ia “respeitar os contratos” e o “espírito do Morumbi” se sobrepôs ao do Colégio Sion.

E nunca mais se falou em denunciar a dívida externa ou mandar os privatas para a cadeia.

Lula pagou a dívida externa.

Emprestou dinheiro ao FMI.

E, agora, a Dilma prende os privatas noutra cadeia: a cadeia da lógica da economia, da necessidade de reduzir o Custo Brasil, a cadeia da competitividade e da eficiência.

E torna possível o Jorge Gerdau Johannpeter defender a revisão das concessões do Fernando Henrique em nome da redução de 20% dos custos da Gerdau (em energia elétrica).

(O ansioso blogueiro ouviu o depoimento de Gerdau na GloboNews, logo após a cerimonia desta terça-feira.)

Uma vez o ansioso blogueiro perguntou ao Gerdau se a Presidenta Dilma tinha mudado de ideia, de lado, no espectro ideológico.

Não, respondeu ele.

Ela é o que sempre foi, ele disse.

Só que ela passou a entender a questão da “gestão”, ele explicou.

Se o Machado de Assis participasse dessa conversa, diria que a Dilma da Rua da Gloria já estava em Matacavalos.

Paulo Henrique Amorim


(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.