O melhor de O Som ao Redor
O filme “O Som ao Redor”, do cineasta pernambucano Kléber Mendonça Filho, é o melhor filme sobre o Brasil desde tempos imemoriais.
Uma produção de R$ 2 milhões, rodada no apartamento do diretor, na rua Setúbal, na praia de Boa Viagem, em Recife, só tem um ator conhecido: o excelente Irandhir Santos, do malfadado “Tropa de Elite - II” (tão sinistro quando o “I”).
O melhor é o Kléber.
Sutil, delicado, inteligente, mordaz, mortal como um golpe de peixeira.
Diretor e autor de um roteiro tão bem feito que lembra o melhor do cinema argentino.
O Som ao Redor é verdadeiro.
É tudo verdade.
Ninguém é falso, nenhuma situação fica fora de propósito.
Ajuda a imprimir a incômoda verossimilhança a fotografia limpa de Pedro Sotero.
Não tem concessões medíocres: não foi feito para um video-show vespertino.
O que é o melhor do Som ao redor ?
É que foi feito em Pernambuco.
Que saiu barato.
Que não tem nada a ver com esse círculo de ferro Globo- diretores publicitários que tanto pode fazer um filme em Toronto quanto em Hollywood ou em Adis-Abeba.
Fica tudo lindo ! E igual ! E falso !
Uma homogeinização – que o Vladimir Safatle já denunciou – e que a Lei Rouanet e o Ministerio da Cultura reproduzem como cúmplices.
Kléber é a prova da vitalidade desse movimento de fuga do centro.
É a nova fronteira da cultura brasileira.
Em que os filhos vingadores se encontram com o usineiro de Fogo Morto.
Em que a classe média racista não resiste a 15' de uma reunião de condomínio.
A Globo sufocou a cultura brasileira.
Cadê a dramaturgia ? Cadê o Plínio Marcos ?
Cadê a cinematografia ? Cadê o Nelson ?
Fernanda Montenegro faz uma ponta em novela.
Adriana Esteves, que podia ser uma das filhas do rei Lear, torna-se uma histérica rodriguiana.
Com Kléber, a cinematografia genuinamente brasileira deu uma banana para a rua Lopes Quintas e se instalou na rua Setúbal.
Onde se recomenda não cair no mar, por causa dos tubarões.
Veja o trailer oficial do filme:
Paulo Henrique Amorim