“Quem matou meu pai ?” Decisão do STF foi uma vergonha !
Saiu no Estadão:
'E quem era o comandante?', questiona Marcelo Rubens Paiva
Filho de Rubens Paiva quer saber nome de responsável por ordenar assassinato do pai em 1971
Entrevista a Roldão Arruda
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Pela Lei da Anistia de 1979, os responsáveis não podem ser punidos.
MRP - Eu discordo. Essa é uma lei antidemocrática, promulgada com o Congresso engessado pelo Pacote de Abril, com senadores biônicos. Na época não existia debate democrático, a imprensa estava sob censura, as passeatas e manifestações pela anistia eram reprimidas brutalmente pela polícia. A oposição brasileira estava metade morta e metade no exílio, os partidos de esquerda não podiam existir, os sindicatos não tinham liberdade. Como é que alguém pode dizer que a lei, promulgada nesse clima, é democrática? Outro paradoxo dessa história é que o Brasil é signatário da carta internacional que afirma que a tortura é crime contra a humanidade e, portanto, imprescritível. Como é que o País, sendo signatário da carta, considera a tortura prescritível?
A interpretação original da lei, garantindo anistia para os agentes públicos, foi referendada pelo STF.
MRP - O debate no Supremo é político, não jurídico. Parte da sociedade não quer rever o seu passado, não quer julgar os abusos de poder. A decisão do Supremo foi vergonhosa, um vexame perante a Organização dos Estados Americanos, a Anistia Internacional e outros organismos.
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As revelações de Claudio Fonteles à Carta Capital reabriram a questão do “domínio do fato” sobre o assassinato do deputado Rubens Paiva.
Fonteles conta que a Comissão da Verdade vai chamar para depor dois dos três assassinos (um está morto).
Falta responder à pergunta da família: quem matou ?
Quem mandou (quem tinha o “domínio do fato”) ?
Aonde foi o corpo do meu pai ?, pergunta Marcelo.
Foi esquartejado, jogado no mar ?
Quem mandou esquartejar ?
A morte de Rubens Paiva, assim como o genocídio do Araguaia, são um tapa na cara da decisão do Supremo que anistiou a Lei da Anistia e se inscreveu na biografia do relator, Eros Grau, como uma página trevosa.
(Grau continua a participar auricularmente da escolha de ministros do Supremo. Viva o Brasil !)
Lamentavelmente, o assassinato de Rubens Paiva se transformou num bote salva-vidas de comentaristas da Casa Grande.
O regime militar – o Conversa Afiada prefere não usar a palavra “ditadura”, pois, no Brasil, até ela ficou desqualificada – foi uma beleza !
Especialmente o Governo Geisel.
Um exemplo de eficiência e probidade.
Efetividade especialmente no campo político, já que fundou a Democracia no Brasil.
Tudo muito bom, menos a tortura.
A tortura, não !
Isso é muito feio.
Essas crônicas historialistas – não são História nem Jornalismo - , porém, não metem a mão na ferida ainda exposta: a absolvição dos torturadores pela Suprema Corte, com a relatoria de Eros Grau.
É a condenação politicamente correta: deixar o Supremo de fora da linha de tiro.
Como se pergunta Marcelo: “será que, como sempre acontece no Brasil, a corda vai estourar no lado da ralé ?”
Na Casa Grande, vai.
E pau na escravaria !
Paulo Henrique Amorim