O PIB da Tortura. O que sabe Paulo Sawaya ?
A Presidenta Dilma Rousseff esculachou o tucanismo da Comissão da 1/2 Verdade.
Carlos Araújo, que foi casado e torturado com ela, no Globo de 19/3/2013, reclamou: "Ex-marido de Dilma afirma que empresários assistiam a torturas" e "não são poucos os empresários que foram para as salas de tortura estimular os torturadores e se envaidecer com a tortura de nossos companheiros."
Araujo depôs na Comissão da 1/2 Verdade e diz ter certeza de que ela vai entrar "no antro da FIESP".
Enquanto a Comissão da 1/2 Verdade adota um silêncio generoso e conciliador, a Comissão da Assembléia Legislativa de São Paulo teve acesso ao livro de entrada do DOPS e lá localizou, entre outras, as muitas visitas de Paulo Sawaya.
Boilesen e Sawaya são duas das portas que levam ao que Araújo chamou de "antro".
Amigo navegante familiarizado com essas questões resolveu lembrar o Golpe de 1º de abril com um texto sobre o "PIB da Tortura".
Paulo Henrique Amorim
O PIB da Tortura
Um misterioso empresário de São Paulo está na mira da Comissão da Verdade da Assembleia Legislativa de São Paulo. Paulo Henrique Sawaya Filho, de 79 anos, é suspeito de ser um dos grandes arrecadadores de fundos para a Operação Bandeirantes e posteriormente Doi-Codi - instituçoes responsáveis pelas atrocidades cometidas na repressão política durante a ditadura. Sawaya, Albert Boilesen e Geraldo Rezende pareciam formar o trio que fez jorrar muito dinheiro do grande empresariado para os porões do regime militar.
A Comissão quer ouvir Sawaya para saber quem eram os grandes empresários, banqueiros e multinacionais que financiaram sequestros, torturas, assassinatos e desaparecimentos de militantes políticos no período. Outro mistério a ser esclarecido é se o dinheiro foi usado para comprar paus-de-arara, máquinas de choque e outros apetrechos de tortura ou para recompensar policiais e militares que fizeram o trabalho sujo.
Um dos instrumentos usados inovadoramente pelos militares brasileiros foi a “pianola Boilesen”, uma maquina de choques que teria sido importada por Albert Boilesen, segundo o filme “Cidadão Boilesen”.
Segundo Ivan Seixas, coordenador da Comissão, Sawaya é um personagem chave nesta história. Ele foi assessor do então ministro da Fazenda, Delfim Neto, e tinha trânsito livre entre a nata do empresariado paulista e nas masmorras da repressão.
O trio da Fiesp
A face mais conhecida até agora da ligação entre empresários e torturadores era o dinamarquês Albert Boilesen, presidente do grupo Ultra, assassinado em 1971 numa ação de justiçamento do MRT e da ALN. Boilesen nunca escondeu que ajudava mesmo os torturadores e virou alvo. Mas não era só ele.
No documentário “Cidadão Boilesen” , de Chaim Litewski, o coronel Erasmo Dias, secretário da Segurança na época, afirma que além do dinamarquês, outros dois empresários faziam a ponte entre a Fiesp , bancos, multinacionais e a Oban. Há um mês, surgiu o nome de Geraldo Resende Matos, preposto do industrial Nadir Dias de Figueiredo, da FIESP.
Matos era figura assídua no Dops paulista, onde presos políticos eram barbarizados. Ele não escondia que estava a serviço da FIESP, conforme ficou registrado no livro de visitas do órgão. Eis que no mesmo documento surge o misterioso Paulo Sawaya.
Um grã-fino no porão
Entre 1971 e 1979, Sawaya esteve 47 vezes no Dops, central de suplícios na Capital paulista e base do delegado Sérgio Paranhos Fleury, apontado como um dos maiores torturadores do período.
Em nenhuma das visitas foi identificado como empresário. Os apontamentos mostram que Sawaya estranhamente se apresentava como delegado, agente do SNI, do Serviço de Inteligência, do 2.o Exército e em apenas um registro ele é identificado como assessor do Ministério da Fazenda. Em nenhum como empresário.
Em outros registros, consta apenas que ele ia falar com o então delegado Romeu Tuma, chefe do Serviço de Inteligência do Dops na época. Em 1974, ano que registrou o maior número de visitas dele ao prédio da rua General Osório, o empresário esteve 21 vezes na delegacia. Era o final do governo Médici e auge da ditadura. Mas o que um empresário de família tradicional, integrante da elite paulistana, assessor de ministro, ia fazer tantas vezes no porão?
Uma pista pode estar numa passagem do livro “Raul Soares, o Navio Presídio”, do jornalista Nelson Gatto, ele mesmo preso nos porões do flutuante. Gatto relata que testemunhou quando Sawaya foi a uma cela coletiva no navio e abordou o empresário Tomás Farcas, dono da Fotótica, que também estava preso. Ele teria dito que se Farcas desse dinheiro para a repressão política, seria liberado. Com a recusa, o empresário continuou no cárcere e nos dias seguintes, os filhos dele também acabaram presos.
Depois do movimentado ano de 1974, as visitas de Paulo Sawaya ao Dops diminuíram consideravelmente. Em 1977, não foi registrada nenhuma passagem do empresário pelo Dops.
Proteção verde-oliva
Curiosamente neste ano, Sawaya e outras figuras de destaque na engrenagem da repressão foram agraciadas com a Medalha do Pacificador – honraria concedida a civis e militares que prestaram relevantes serviços ao Exército. Era uma espécie de salvo-conduto para evitar revanche diante da distensão em andamento.
O empresário foi condecorado com Harry Shibata, legista que assinou os laudos fraudulentos da morte de presos políticos, entre eles Wladimir Herzog; Tácito Pinheiro Machado, diretor do Dops, onde ocorriam as barbáries; Walter Suppo, delegado Geral na época; e Joaquim Rodrigues Fagundes, pequeno empresário, dono do sítio 31 de Março, centro clandestino de torturas, na Zona Sul de São Paulo.
No ano seguinte, Tuma assumiu a direção do Dops. Paulo Sawaya era amigo dele e esteve sete vezes no prédio. Foi identificado como funcionário do gabinete, delegado e delegado da diretoria. A operação abafa já estava em andamento. Era a hora de sumir com as provas dos crimes. Em 1979, não há registro da passagem de Sawaya pelo Dops. Foi o ano da Lei da Anistia e da misteriosa morte do delegado Sérgio Fleury, até hoje considerada como queima de arquivo.
Negócios estratégicos
Outro ponto que a Comissão da Verdade quer esclarecer é se os empresários que financiaram a tortura se beneficiaram de alguma forma por terem colaborado com a repressão. Na década de 70, Sawaya era empresário e membro do conselho de administração de diversas empresas em São Paulo, algumas da área financeira. Com o fim da ditadura, ele mudou de ramo e diversificou os negócios. Alguns ligados a áreas estratégicas até então dominadas pelos militares.
Pesquisa na Junta Comercial de São Paulo revela dois dados no mínimo curiosos. Sawaya abriu uma empresa de pesquisa biológica em 1984 e outra de serviços aeroespaciais em 1989. Não se sabe se tinham contratos com o governo. Mas é uma boa pista para a Comissão da Verdade seguir. Em janeiro deste ano, a Justiça de São Paulo decretou o bloqueio dos bens do empresário e das empresas dele por falta de pagamento de impostos.
Salvo pelo STF
O fim da ditadura foi turbulento para Paulo Sawaya. Na década de 1990, ele foi denunciado com outras 17 pessoas no escândalo da previdência, aquele que flagrou a advogada Jorgina de Freitas no desvio de milhões de reais do INSS. Sawaya alegou na época que apenas fez negócios com o argentino César Arrieta, megafraudador que foi um dos pivôs do escândalo e por isso teria sido envolvido na trama.
Ele chegou a ter a prisão decretada, mas conseguiu escapar graças a um habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal que também o livrou do processo. Na defesa, várias personalidades, grandes empresários, dono de uma emissora de televisão, juízes e até outro ministro do Supremo atestaram a idoneidade do paciente.
Atualmente Paulo Sawaya vive em uma confortável casa no Morumbi.
A Comissão da Verdade da Assembléia Legislativa de São Paulo pretende comprovar as suspeitas de que havia uma divisão de tarefas.
Boilesen levantava dinheiro com grandes empresas nacionais, como o grupo Ultram de que era presidente.
Sawaya com empresas estrangeiras.
Nicolau dos Santos Neto, o famoso Juiz Lalau, se incumbiria das pequenas e medias empresas.
E Geraldo Rezende das organizações classistas empresariais.
Mas, esses tres eram o segundo escalão.
Os “empregados”.
O patrão-chefe teria sido Gastão Vidigal, dono do Banco Mercantil, que coordenava todo o sistema empresarial.
Dele teriam feito parte o “Papinha”, Jose Papa Jr, da Associação Comercial, que, no filme “Cidadão Boilesen, informa que Amador Aguiar, do Bradesco, era um dos financiadores; assim como Otavio Frias, pai, que, alem de fornecer camionetes para conduzir torturadores, entrava com dinheiro também.
Todas essas são suspeitas da Comissão que um depoimento de Sawaya poderia elucidar.
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