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Ataulfo tira as algemas do Gurgel do Dirceu

O Supremo mudou e o Ataulfo lamenta: "nunca se sabe". Bom era com o Big Ben ...
publicado 13/08/2013
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Saiu no Globo:

Os riscos do mensalão, por Merval Pereira


(…)

… a triste (sic) realidade brasileira é que a transformação da condenação em regime semiaberto significa na prática uma manobra para que o réu de colarinho branco acabe escapando da cadeia, pois não existem no país prisões albergues suficientes.

Os condenados a regime semiaberto acabam mesmo em prisão domiciliar, com todas as regalias inerentes. Outro temor (sic) é que o próprio Dirceu e outros réus se aproveitem (sic) de uma decisão de que não houve formação de quadrilha para alegar que o julgamento todo tem que ser revisto, pois a base (sic) da denúncia da Procuradoria Geral foi que Dirceu chefiou uma quadrilha de dentro do Palácio do Planalto.

Mesmo que corrupção ativa e formação de quadrilha sejam crimes autônomos, o nexo da acusação pode vir a ser contestado, no mínimo para ganhar tempo com novos recursos. Só não há, aparentemente, perigo (sic) de prescrição, pois, de acordo com o artigo 109 do Código Penal, a prescrição da pena, se superior a quatro anos e não excedente a oito, acontece em 12 anos. Mas, no Brasil, nunca se sabe...

Navalha

O Ataulfo Merval de Paiva (*) começa a perceber:

1) os recursos infringentes serão aceitos, diante da insofismável argumentação do professor Luiz Moreira, já que, aparentemente, o Supremo passou a ter mais juízes que justiceiros;

2) os novos juízes, Zavascki – cuja posse Ataulfo tentou evitar – e Barroso começaram a votar – na condenação de um senador corrupto - de forma a desmontar a “base” da acusação do brindeiro Gurgel, que o Senador Collor, da tribuna do Senado, chama de prevaricador. Ou seja, a base do Gurgel – Dirceu era chefe de uma quadrilha montada no Palácio do Planalto – não tem base nenhuma.

3) O auto-nomeado 12º juiz do STF, o Ataulfo, sequer menciona a teoria do “domínio do fato”, devidamente transformada no Supremo de antanho num turbante da Carmen Miranda – a tropicalização de uma tese germânica que exige “fato”. E, aqui, passou a não exigir fato, já que, segundo o incomparável Ministro “mato no peito” Fux, “a verdade é uma quimera”.

4) Que o Supremo mudou. Quando ele diz “mas, no Brasil, nunca se sabe”, na verdade, o que ele quer dizer é que, quando o presidente do Supremo era o colega letras Big Ben de Propriá, aquele que prefaciou seu livro, era possível saber tudo sobre o Brasil. Ele sabia tudo antes. Votava no Globo, antes dos juízes do Supremo. Preparava o terreno para os 18' gloriosos do jornal nacional do Gilberto Freire com “i” (**). Agora, ficou mais difícil. Nunca se sabe.

5) O Ataulfo já percebeu que o Gurgel terá um destino inglório. Melhor fazer de conta que não o conhece.

 




Paulo Henrique Amorim


(*) Ataulfo de Paiva foi o mais medíocre – até certa altura – dos membros da Academia. A tal ponto que seu sucessor, o romancista José Lins do Rego quebrou a tradição e espinafrou o antecessor, no discurso de posse. Daí, Merval merecer aqui o epíteto honroso de “Ataulfo Merval de Paiva”, por seus notórios méritos jornalísticos,  estilísticos, e acadêmicos, em suma. Registre-se, em sua homenagem, que os filhos de Roberto Marinho perceberam isso e não o fizeram diretor de redação nem do Globo nem da TV Globo. Ofereceram-lhe à Academia.E ao Mino Carta, já que Merval é, provavelmente, o personagem principal de seu romance "O Brasil".

(**) Ali Kamel, o mais poderoso diretor de jornalismo da história da Globo (o ansioso blogueiro trabalhou com os outros três), deu-se de antropólogo e sociólogo com o livro “Não somos racistas”, onde propõe que o Brasil não tem maioria negra. Por isso, aqui, é conhecido como o Gilberto Freire com “ï”. Conta-se que, um dia, D. Madalena, em Apipucos, admoestou o Mestre: Gilberto, essa carta está há muito tempo em cima da tua mesa e você não abre. Não é para mim, Madalena, respondeu o Mestre, carinhosamente. É para um Gilberto Freire com “i”.