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A favela está virando bairro

Livro conta como a maior favela de SP se transforma apesar da tropa de choque
publicado 11/09/2013
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''Cidade do Paraíso'', o termo que deu origem ao neologismo ''Paraisópolis'' - nome da maior favela de São Paulo - é o título do livro dos jornalistas Vagner de Alencar, 26 anos, e Bruna Belazi, 23.

O livro reportagem conta uma favela que vai muito além do estereótipo do Capitão Nascimento e da trágica guerra cotidiana contra o tráfico.

O texto se propõe a mostrar uma favela que, a despeito das dificuldades, vive um momento de transformação conduzido pelo trabalho e empreendedorismo de pessoas comuns, moradores da comunidade que, aos poucos, se transforma em um bairro de economia pujante e vida cultural agitada.

O Conversa Afiada entrevistou o jornalista Vagner de Alencar, um dos autores.

Vagner foi morador de Paraisópolis por muitos anos, há dois anos não mora mais lá, mas continua a frequentar a região.

Vagner é baiano, veio para São Paulo há 18 anos, quando conheceu uma Paraisópolis predominantemente formada por barracos de madeira. Ele mesmo morou em um desses barracos.

É uma história comum a tantos outros moradores que, lá pelas tantas, Vagner escreve sobre um de seus personagens: “(...) Chegamos a Paraisópolis de táxi. A conta registrada no velocímetro fora salgada: 70 reais. Retiramos nossas poucas malas do veículo e partimos em meio àqueles pequenos labirintos nos arredores da casa do meu tio, onde nos hospedamos até meu pai comprar o barraco de madeira, de um cômodo, para onde nos mudamos um mês mais tarde.”

Para Vagner, são essas ruas e vielas entrelaçadas, como pequenos labirintos, que contam as histórias da comunidade.

Contudo, nesses 18 anos, as coisas mudaram bastante: “hoje tem asfalto; o número de escolas se ampliou; tem CEU; tem ETEC; tem bancos, que já estão instalados ali; tem as Casas Bahia, outras grandes lojas que querem se instalar lá”, diz Vagner.

Segundo ele, a ascensão da classe C proporcionou essa urbanização em Paraisópolis.

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Vagner lembra que existe também muito empreendedorismo, formado por um forte comércio local: “tem casas de show, restaurante pra tudo que é lado, pizzaria...”

Além do crescimento econômico na base da chamada classe C, Vagner fala sobre um interessante movimento cultural que surge nessas periferias brasileiras.

Em São Paulo, destacam-se movimentos como o Cooperifa; o Sarau do Binho e outros, que articulam uma rede de saraus - exatamente amigo navegante, saraus! - com música e literatura.

Desses movimento saem autores consagrados pela crítica como Sérgio Vaz; Marcelino Freire; Allan da Rosa e Jussara Carvalho, personagem de Vagner no ''Cidade do Paraíso'': “(…) Uma hora após a chegada de Jussara à feira, o primeiro exemplar de seu livro 'Demolidor de Corações' é vendido – dos 47 que levou, oito foram vendidos no fim de semana anterior.”

No caso de Paraisópolis, Vagner destaca o papel do CEU (Centro de Educação Unificado) como um articulador cultural da região.

Os CEUs são escolas modelos que ficam abertas durante o fim de semana, nas periferias da capital.

Criados na gestão da prefeita Marta Suplicy, os CEUs – hoje são 45 nas periferias de São Paulo – são colégios grandes, modernos, com espaço para esporte e lazer, boas bibliotecas, auditórios e alguns tem até cinema.

Vagner conta que vários grupos de artísticos têm se formado dentro do CEU de Paraisópolis com música e teatro, “é uma evolução bem bonita de ver”, diz ele.

Segundo Vagner, a ideia de fazer um livro reportagem nasceu como contraponto a uma cobertura “sensacionalista” feita pela imprensa, focada apenas na violência.

Ele cita como exemplo a ocupação da favela em 2009, pela tropa de choque, e a ocupação desse ano pela PM.

Para Vagner, é preciso humanizar a favela.

Por mais incrível que pareça, é preciso convencer o “asfalto” de que a favela é feita de gente.



Murilo Silva, editor do Conversa Afiada.

Serviço:

Titulo: Cidade do Paraíso – Há vida na maior favela de São Paulo; Primavera Editorial;
Autores: Vagner de Alencar e Bruna Belazi;
Gênero: Reportagem;
Ano: 2013;
Páginas: 176;
Lançamento: 14 e 21 de setembro, das 14 horas às 17 horas no CEU Paraisópolis. Rua José Augusto de Souza e Silva, S/N