É hora de exumar Lacerda
Na página de (uma única) “Opinião” do Globo Overseas desta sexta-feira há um artigo de Luiz Garcia - “Lembrando Carlos” - sobre o livro “A república das abelhas”, de Rodrigo Lacerda, neto de Carlos Lacerda.
Garcia assegura que se trata de um excelente “romance histórico”.
Devo acreditar em Garcia.
Ele trabalhou com “Carlos” e escreve excepcionalmente bem – o que é de destacar naquela página de platitudes que agridem o fígado.
A propósito, o ansioso blogueiro também trabalhou com o Carlos.
Ele na revista Realidade, e o ansioso blogueiro naquela que se tornou um detrito sólido de maré baixa.
Fomos os dois, pelos Estados Unidos afora – aliás, éramos três, Alfredo Machado, da editora Record o acompanhava -, na cobertura da eleição de Nixon e Humphrey.
Aí, em Nova York, já na companhia de Carlos Leonam e do filho, Sergio Lacerda, entramos pelo Waldorf Astoria adentro para assistir à celebração da vitória de Nixon.
Lacerda era um repórter atento, ativo, que não se permitia correr atrás de um outro, de 24 anos.
Convivência breve, agradável, estimulante – ele comprava livros em toda escala, furiosamente -, que não apagou a avaliação que este repórter faz até hoje: Lacerda foi e é, geneticamente, um Golpista.
Um adversário da Democracia, dos trabalhistas e um serviçal dos Estados Unidos, que admirava com surpreendente sentimento de subalternidade – apesar da inteligência rara, que justificava a altivez.
Essas inúteis observações são para chegar a outro porto.
Está na hora de desenterrar os restos de Lacerda, morto de uma doença estranha e fulminante.
Lacerda – sabe-se lá exatamente por que – aderiu à Frente Ampla com Jango e JK.
JK morreu assassinado num desastre na Via Dutra.
Jango foi envenenado, como confessa quem o envenenou.
E Lacerda ?
Se depender da fracassada Comissão da 1/10 da Verdade, Lacerda, Jango e JK terão morrido de morte morrida.
A 1/10 da Verdade não quer se meter em confusão.
Já imaginou a 1/10 da Verdade pendurar o general Geisel, este Grande Democrata, num poste da Papuda, depois de morto ?
Rever a Lei da Anistia e enfrentar o PiG (*) ?
Jamais !
Se depender da 1/10 o DNA do Jango fica pronto quando conselheiro José Paulo Cavalcanti Filho concluir a vigésima-segunda edição do livro sobre se a “Tabacaria” do Álvaro de Campos fica no número 10, 11 ou 12 do outro lado da rua.
A família de Lacerda, com a ajuda do Luiz Garcia, poderia prestar esse favor à História.
Inspirar-se no João Vicente e na Denise, que levaram o corpo do pai a Brasília para merecer as honras de Chefe de Estado e submetê-lo a exame de DNA.
Se Lacerda agora merece um “romance” histórico, falta uma dose de “realismo” histórico.
Paulo Henrique Amorim
(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.