Ação contra Valente vai custar caro ao Gilmar
Este Conversa Afiada reproduziu o texto em que o bravo jornalista Rubens Valente – autor do impecável “Operação Banqueiro”, onde se demonstra que “sem Gilmar não haveria Dantas” - responde a uma ação judicial contra ele movida por Gilmar … (preencha como achar melhor).
Um dos pontos risíveis de mais essa manobra de Gilmar … para calar a imprensa (pelo bolso e por um suposto temor) foi negar a promíscua relação com o notório advogado carioca Sérgio Bermudes.
O Conversa Afiada recorreu aos préstimos de amigo navegante com razoável conhecimento do assunto em tela:
A peça do ministro é muito fraca. Como ele não conseguiu achar um fato inverídico, partiu para a construção de uma tese imensa de que o livro tinha o "intuito manifesto" de lhe "difamar".
É importante ver que ele não fala em "calúnia" ou "injúria", mas difamação, que é em tese imputar algo a alguém que ofenda sua reputação _enquanto calúnia é atribuir um crime.
Como ele não encontrou nenhum crime atribuído, parte para essa construção.
Sim, essa parte do Bermudes é uma das mais hilárias da petição, de doer de rir. Há várias partes risíveis, mas destaco essas duas:
1) Mendes diz à página 4, item 10: "O primeiro tom que revela as maliciosas distorções do Primeiro Requerido [Valente] pode ser observado na afirmação de que o Requerente seria amigo íntimo dos srs. Arnoldo Wald e Sérgio Bermudes, quando na realidade a sua relação se resume a contatos profissionais e acadêmicos”.
- Impressionantemente, ele vem agora desmentir duas afirmações feitas não pelo livro, mas por sua mulher, Guiomar, e pelo próprio Sérgio Bermudes, como é público e notório e foi publicado desde Agosto de 2010, quando essa revelação saiu na revista "piauí" (fonte devidamente creditada no livro). Naquela ocasião, Sérgio Bermudes declarou: “O Gilmar e eu somos irmãos, nos falamos duas vezes por dia”. E Guiomar também chamava Bermudes de "amigo" e "irmão".
-Além disso, Guiomar foi contratada para trabalhar no escritório do advogado Sérgio Bermudes.
-De qualquer forma, nesse trecho a petição do ministro acaba confirmando exatamente o que está dito no livro "Operação Banqueiro": que ele mantém relação com os advogados Wald e Bermudes em "contatos profissionais e acadêmicos".
2) Na página 8, no item 35, o ministro diz: "Em seu capítulo biográfico maledicente _não só desautorizado, como ilegal_[...]"
Essa afirmação remete à discussão sobre biografias autorizadas e não autorizadas.
Só que o livro não é uma biografia, mas sim um livro-reportagem.
Ou seja, o ministro Gilmar ... agora está dizendo que narrativas jornalísticas sobre determinadas pessoas precisam de autorização da pessoa enfocada no trabalho.
Dá para imaginar quantas toneladas de papel de milhares de histórias sobre pessoas e empresas (publicadas desde sempre pelo jornalismo brasileiro, em revistas, jornais etc etc) teriam que obter "autorização" para ser divulgadas. Podemos começar por pedir autorização agora ao doleiro Alberto Youssef, por exemplo.
Mas ele não continua nesse raciocínio, ele para por aí. Mas só o fato de usar as palavras "desautorizado" e "ilegal", pretende induzir o juiz a erro.
Onde está a ilegalidade do livro?
Em lugar nenhum.
Segundo a lei, a autorização só é exigida para biografias, não livros-reportagem.
A menos que esse ministro do Supremo agora queira dar entendimento diverso.
O que não seria de estranhar, já que ele se considera a Lei.
Sobre o Bermudes, aliás, talvez seja interessante o seu amigo navegante recordar aquela açao do advogado que foi ao Supremo pedir o impeachment do Gilmar – clique aqui para ler “É um B.O.”.
O que foi devidamente sepultado pelo Sarney.
O Gilmar … (preencha como quiser) deve achar que todos têm memória curta.
Não, é prof Dallari ?
Assinado,
amigo navegante, que acompanha a carreira do acima tratado desde a AGU.
Eis trecho da reportagem de Luiz Maklouf Carvalho na “Piauí” sobre as imaculadas relações “profissionais e acadêmicas” de Sergio Bermudes:
(...)
Perguntei a Sergio Bermudes como se haviam reconciliado. “Nunca falamos sobre isso até hoje”, respondeu. Contou que no primeiro encontro que tiveram, ambos palestrantes de um simpósio universitário, cumprimentaram-se como se nada tivesse acontecido. Depois, ele mandou um livro de presente; e Mendes mandou-lhe outro. A raiva virou amizade.
“O Gilmar e eu somos irmãos, nos falamos duas vezes por dia”, disse o advogado. “A gente brinca, ri, sou advogado dele em algumas questões. Somos dois homens de boa-fé e de caráter que podem suplantar uma eventual divergência.” A sua opinião profissional sobre o outro também melhorou: “Gilmar é o maior ministro que o STF já teve em todos os tempos. Trouxe a corte para junto do povo. Nenhum ministro falou tanto nem tão bem. Suas palavras fizeram o homem comum acreditar na Justiça. Ele é o maior constitucionalista do Brasil.”
Mendes e Guiomar já se hospedaram nos apartamentos de Sergio Bermudes no Rio, no Morro da Viúva, e em Nova York, na Quinta Avenida. Também usam a sua Mercedes-Benz, com o motorista. Logo depois da solenidade de transferência da presidência do Supremo para Cezar Peluso, Mendes e Guiomar embarcaram em uma viagem de cinco dias a Buenos Aires – presente de Sergio Bermudes, que os acompanhou.
Perguntei a Gilmar Mendes se não cogitara abdicar de julgar os processos do escritório de Sergio Bermudes que tramitam pelo Supremo – são dezenas, e ele é o relator de alguns. “De jeito nenhum”, ele respondeu. “Nesse caso também teria que me declarar suspeito nos processos do Ives Gandra, que escreveu livros comigo, e de outros advogados que são meus amigos.” Mas nem pelo fato de sua mulher trabalhar no escritório de Bermudes? “Isso não é motivo”, respondeu. Citei uma frase que ouvi do advogado Reginaldo de Castro: “O Gilmar dorme todo dia com embargos auriculares.” Mendes riu, desdenhoso.
Guiomar consultou o marido sobre a proposta de trabalho de Bermudes. “Ele não viu qualquer problema, e não há qualquer problema”, ela disse. “O ministro Marco Aurélio, por exemplo, não se declara suspeito quando a causa é do escritório Ulhôa Canto, onde trabalha sua filha.” Depois de uma tragada, complementou: “É verdade que o ministro Britto se declara suspeito no caso do genro, desde quando ele era namorado da filha, e que o Toffoli proibiu a namorada de atuar lá. Mas aí já é um exagero.”
(...)