Bernardo: Dilma deixa o núcleo do PT
A Veja – o detrito sólido de maré baixa - desta semana é o que chama de “edição histórica”.
Sem dúvida.
Não por causa dos “sete dias que abalaram o Brasil”.
“Histórica” é a entrevista do Ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, casado há quinze anos com Gleisi Hoffmann, chefe da Casa Civil e candidata a Governadora do Paraná.
Uma entrevista às páginas marrons da Veja, o sonho de muitos petistas como Bernardo.
O detrito sólido pergunta:
Por que o PT tem tanta (sic) dificuldade em virar a página do mensalão ?
Bernardo – Nem sei do que você está falando. Isso já foi julgado, já aconteceu e nós estamos tocando a vida. O Governo tem trabalhado normalmente. Não temos dependência dessa situação. É preciso respeitar o resultado do julgamento.
O detrito sólido pergunta:
O seu Partido insiste na defesa de medidas para controlar (sic) a mídia. O que o senhor pensa desse assunto ?
Paulo Bernardo - ...algumas pessoas do partido acham que nós podemos, por exemplo, fazer regulação da mídia impressa... A regulação é para rádio e tevê. Ainda assim nos moldes do que a Constituição prevê. Por exemplo, estabelecendo cotas para a exibição regional e a proibição de propaganda de produtos que possam ser lesivos à saúde. (O que, aliás, já está inscrito na Constituição de 1988 – Artigo 220, 4o. - PHA) Não tem nada a ver com censura. Quando se fala nisso é a militância que extrapola, e eu posso dizer que está errada, que esta falando besteira. Se ela não gosta da capa da revista, da manchete do jornal, quer que eu (sic) faça regulação. Isso não existe. Não vai ter regulação para isso.
Bernardo e Gleisi estão no núcleo do poder.
Não é o caso do ministro zé da Justiça, que também disse que o Dirceu se lixe: “temos que respeitar o julgamento”.
Zé trafega na periferia do poder.
Bernardo e Gleisi, não, eles estão no centro.
Dirceu, Genoino e João Paulo estão no centro do PT, no núcleo criador.
No núcleo do Lula.
Sobre a Constituição, o Bernardo lê os capítulos que quer.
Ignora, por exemplo, o que impede o monopólio da Globo: artigo 220, 5o.
(Com 45% da audiência a Globo detém 80% da verba de publicidade em tevê aberta. A tevê aberta é 50% de toda publicidade brasileira. Logo, de cada R$ 1 investido em publicidade no Brasil, a Globo embolsa R$ 0,40, Ministro.)
Não é um grupelho do PT, a militância extravagante que quer a Ley de Medios.
Quem quis uma Ley de Medios foi o Lula e o Ministro Franklin a preparou.
Bernardo pegou a Ley de Medios do Franklin e botou embaixo da pilha das quatro que o Serjão preparou para o Fernando Henrique.
Quem quer uma Ley de Medios é o PT, o PT nacional, que a aprovou numa convenção nacional.
Em nenhum ponto trata de censura à imprensa escrita.
A Ley de Medios do Franklin não trata de imprensa escrita.
Aliás, a Ley de Meios do Franklin, que o Bernardo engavetou, tem um princípio: “nada além da Constituição”.
A “histórica” entrevista ministerial implica em que a Veja não corre nenhum perigo.
O único perigo que a Veja corre é a Abril quebrar...
O Franklin, depois de ministro, assinou um projeto de iniciativa popular – o PLIP contra o Plim - que pretende reunir assinaturas necessárias para que o Congresso o vote.
Quando o PT foi para as ruas, já que o PT não tem medo das ruas, ao lado dos apartidários, foi defender a Ley de Medios, os royalties do petróleo para a Educação, e uma reforma política – com financiamento público e voto em lista - para evitar a Caixa Dois que o PiG e o STF transformaram num mensalão que não se provou.
Caixa Dois que é e continua a ser – a despeito do STF – tão brasileira quanto goiaba com queijo.
A histórica entrevista do Ministro do núcleo do poder contém mensagens inequívocas.
A Globo não tem nada a temer.
Muito menos a Globo do Paraná, que, no Governo Requião, não viu um tusta – toda a verba governamental que, antes, ia para a Globo foi para a Educação.
Deduz-se que a Governadora Gleisi jamais repetiria a política do Requião.
Recorreria à mídia técnica, como a SECOM da Dilma, que engorda a Globo.
Quando “sete dias abalam o Brasil”, o núcleo do Poder se alinha com o núcleo da Big House: Dirceu, dane-se !
Filhos do Roberto Marinho, vocês não têm nada a temer !
Talvez, por isso, o professor Wanderley, que sentiu um odor fétido, tenha lamentado que a presidenta Dilma, ao falar sobre as manifestações, não se tivesse referido ao Golpe mediático.
Em tempo: em respeito ao ilustre entrevistado, um "bom petista" segundo o detrito sólido de maré baixa, a Veja poderia ter outro título para a capa: "Sete dias que abalaram o Brasil". Como se sabe, "Dez dias que abalaram o mundo" é o livro do repórter americano John Reed que descreve a queda do regime czarista e a vitória dos comunistas em 1917. Uma questão de delicadeza com o bom petista.
Paulo Henrique Amorim