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Chega de Lei Pelé e de neolibelismo

Essa, além do Gilmar, é uma das heranças malditas do Principe da Privataria
publicado 09/07/2014
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A derrota sofrida pela Seleção Brasileira para a Alemanha não significa somente uma tragédia nacional.

Vai além.

Representa um choque de realidade que escancara a distância entre o futebol brasileiro e o alemão.

Lá, como lembraram os jornalistas Guilherme Pavarin e Alexandre Versignassi, a eliminação na primeira fase da Eurocopa em 2000 surtiu efeito.

"Estávamos pensando exatamente como vocês brasileiros pensam hoje: que não precisávamos aprender nada. E fomos jogando cada vez pior, pior e pior", disse o ídolo alemão  Paul Breitner, em entrevista a ESPN Brasil.

Dois anos depois, o país chegava à final da Copa do Mundo com o mesmo Brasil eliminado ontem.

E hoje tem a seleção mais uma vez na final de um Mundial, o Bayern e o  Borussia Dortmund foram os finalistas da Champions League e revela jovens talentos como poucos.

A CBF deles não é um órgão privado, o que colaborou para que os investimentos necessários fossem feitos pelo governo local. A média de público do campeonato alemão, a Bundesliga,  é de  45 mil pessoas por jogo, a melhor do mundo. No Brasil, é 15 mil, menor do que a segunda divisão deles.

Por aqui, ocorreu o inverso: o Campeonato Brasileiro é cada vez menos atraente, garotos vão para o exterior como nunca e os clubes ficam relegados às federações e à emissora dona dos direitos de transmissão, que, para Alex, é quem manda.

A Lei Pelé, norma que substituiu a Lei Zico, assinada durante o governo Fernando Henrique Cardoso, com Pelé de Ministro dos Esportes, contribuiu com isso.

O neoliberalismo saiu dos ideais e planos econômicos da gestão tucana e foi para o futebol.

A lei tinha o objetivo de dar  transparência e profissionalismo ao esporte nacional, disciplinar a prestação de contas por dirigentes de clubes e a criação de ligas, profissionalizar as gestões e conceder aos jogadores o direito do seu passe.

Exceção ao Passe Livre, nada mudou.

Na teoria, a lei visava dar liberdade aos jogadores, que antes eram presos aos clubes. Na prática, foi a realização do sonhos dos empresários de futebol. Uma carreira que ganhou força a partir dali, e hoje é a categoria que mais se beneficia do esporte.

A ação dos empresários de futebol é abrangente. Podem mediar transferências internacionais e milionárias, assim como descobrem talentos ainda na infância. Garimpam talento e visam o lucro próprio. As categorias de base se tornaram, então, uma caixa preta nos grandes clubes.

As famosas "peneiras" ganharam um novo ingrediente. Bons talentos acabam reprovados nos testes para, na sequência, serem abordados por agentes. Eles oferecem estrutura e uma perspectiva de sucesso para os garotos. Tratam até com os pais dos atletas. Depois, o jogador volta ao mesmo clube, mas com uma diferença: já é agenciado pelo empresário.

Ou seja, o jogador poderia ser uma descoberta do clube, mas passa a ser terceirizado pelo empresário. Em uma futura venda, o lucro é dividido. Os clubes servem quase que como barriga de aluguel. Expõem e valorizam o atleta. E aí, com os atletas em mãos, é mais fácil levá-los para a Europa, onde está o grande faturamento.

Temos alguns exemplos na própria Seleção: você sabe de onde vem o Hulk, amigo navegante? E o David Luiz? O Fernandinho? Daria para falar sobre cada um deles. Tirando Neymar, Júlio César, Hernanes e mais um ou outro, a grande maioria desse elenco fez carreira desde cedo na Europa.

Inclusive alguns dos que saíram do Brasil como ídolos de grandes times, como Paulinho e Thiago Silva, vinham de experiências frustradas - e precoces - no Velho Continente. Poucos sabem, mas Paulinho passou por Polônia e Lituânia antes de brilhar no Corinthians. O capitão Thiago Silva teve sérios problemas de saúde na Rússia, para depois ser ídolo do Fluminense.

Por que sair tão cedo? Porque, além do lugar comum de sonhar com o futebol europeu, alguém lucra com isso. Interessa a alguém que o jogador vá para o exterior sem um intermediário.

Com a Lei Pelé, não foi o jogador que ganhou. Foram os empresários. E quem perdeu, além dos clubes, foi o futebol brasileiro.

Como se sabe, o legado de FHC é abrangente. Tem como um de seus exponenciais a ida de Gilmar Mendes ao STF. Podemos adicionar mais essa contribuição do Príncipe da Privataria ao país: a derrocada do esporte mais popular do mundo.


Em tempo: Foi após a Lei Pelé que empresas estrangeiras como a ISL, Hicks Muse e MSI passaram a patrocinar agremiações como Flamengo, Corinthians, Grêmio e deixaram os clubes em situação financeira pior do que quando chegaram


Alisson Matos e João de Andrade Neto, editores do Conversa Afiada


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