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Aécio aos 17 anos: "nunca fiz a cama" !

"No Brasil todo mundo tem duas empregadas", disse ele a jornal dos Estados Unidos.
publicado 22/10/2014
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O Conversa Afiada reproduz artigo de Fernando Brito, com texto de Paulo Moreira Leite, ambos extraídos do Tijolaço:


Aécio, aos 17, nos “States”: “no Brasil todo mundo tem uma ou duas empregadas”



Sensacional a garimpagem  jornalística de Paulo Moreira Leite, que achou uma edição de 24 de fevereiro de 1977 do semanário The Franklin news-record, de New Jersey, onde o jovem Aécio Neves visitava amigos, num daqueles programas de intercâmbio.


Alem de rock, automóveis e programas de TV típicos da idade, o jovem Aécio já tinha conceitos muito esclarecedores sobre como viviam os brasileiros.


Segundo ele, como está no título da reportagem, não era muito diferente de como viviam os americanos.


As mulheres não trabalhavam porque não precisavam, estavam na praia ou batendo perna em shoppings.

’The women of Brazil have an easy life, according to Aecio. Most women do not work because financially they don’t have to, he said, so most of their time is spent on the beach or walking to the different shops.


E todo mundo tinha mucamas para cuidar dos “sinhozinhos”

“Everyone in Rio has one if not two maids, one for cooking and the other for cleaning.” He added that “I have never made my own bed.”


Não é à toa que ele é o que é hoje.


Poderia ter melhorado, é verdade, porque ser filhinho de papai não é condenação definitiva, sempre se pode evoluir.


Mas conservou o vício de enxergar o mundo real como o mundinho de quem vive e vivia àquela época – como em todas as épocas – “não muito diferente de lá” dos Estados Unidos.


Os outros, os milhões de pobres, remediados ou famintos são invisíveis ou, no máximo, sujam a paisagem.


Mas Aécio não teve como nem porque evoluir: afinal, neste mesmo ano já tinha um emprego para não aparecer, no Cade e, depois, no gabinete do pai, deputado da Arena.


Leia o texto, fantástico, de Paulo Moreira Leite:



Jovem Aécio: “eu nunca fiz minha própria cama”



Em fevereiro de 1977 o jovem Aécio da Cunha Neves talvez nem pensasse que um dia estaria na reta final para disputar a presidência da República mas viveu uma aventura curiosa fora do país.

Como tantos jovens brasileiros de sua condição social, naquele ano Aécio foi cumprir um programa de intercambio escolar nos Estados Unidos.

Certa vez, durante um momento de descanso,  Aécio visitava uma estação de esquí quando conheceu um rapaz de sua idade, Glenn, que o convidou a passar um fim de semana hospedado na casa de seus pais, o casal Pat e Roger Davis, em Middlebush, em Nova Jersey.

Ali, numa pequena comunidade que hoje possui 2000 habitantes, distribuidos em pouco mais de 800 casas, a presença de um jovem brasileiro logo se tornou motivo de atração. Com direito a foto e tudo, Aécio foi parar nas páginas do FranklinNews-Record, pequeno jornal da região, que na edição de 24 de feveiro de 1977 publicou uma pequena reportagem a seu respeito.

Descrevendo Aécio como um adolescente “igual a todos os outros”, o reporter Bob Bradis registrou seus conjuntos de rock prediletos: Led Zeppelin, The Who, Crosby, Stills, Nasch and Young e sublinhou que ele “realmente gosta de Bob Dylan.” O jornal fala dos programas de TV favoritos do rapaz: Kojak, série policial que fazia muito sucesso na época em torno de um detetive careca, e Waltons, sobre a vida de uma família da zona rural dos Estados Unidos, às voltas com os rigores da Grande Depressão da década de 30. Esportes favoritos? Futebol e volei. Demonstrando um interesse por automóveis bastante comum entre garotos de sua idade, ele contou ao Franklin News que a idade mínima para tirar carta de motorista no Brasil é 18 anos mas que não é incomum ver jovens dirigindo carros antes de chegar a essa idade.

Falou de automóveis americanos, como Ford e Chevrolet, mas também elogiou o Puma, um carro nacional, “muito confortável.”

Mas nem tudo era igual entre jovens norte-americanos e brasileiros — e isso não escapou a observação de Bob Bradis. No frescor dos 17 anos, Aécio expressou várias observações sobre a vida social brasileira.

Falando sobre a condição feminina no Brasil, Aécio disse, conforme o Franklin-News, que a vida das mulheres é fácil no Brasil. Segundo as palavras de Bob Bradis,  Aécio lhe disse que as mulheres brasileiras  não tem necessidade financeira de trabalhar, e podem passar a maior parte de seu tempo na praia ou fazendo compras. Era uma diferença importante em relação à sociedade norte-americana, onde, desde a Segunda Guerra Mundial, muitas mulheres saiam de casa para trabalhar e dividir despesas com o marido.

Falando da vida doméstica, Aécio disse: “todo mundo tem uma empregada ou duas; uma para cozinhar, outra para limpar.” Falando de sua rotina dentro de casa, no Brasil, assinalou outra novidade: “Eu nunca fiz minha própria cama.” Outra diferença, como se sabe.

Bob Bradis conta que Aécio lamentava, naquele fevereiro de 1977, que estivesse fora do Brasil por causa do carnaval. Há uma grande festa antes do início da Quaresma, disse Aécio. O jovem brasileiro contou como todos dançam nas ruas, comem, bebem até altas horas e então vão para casa dar um mergulho, para aí retornar para mais festas. “É a melhor época do ano.” Segundo o Franklin-News, Aécio disse ainda: “Essa é a única época em que a classe baixa e a classe alta se reunem.”

Perguntado sobre seu próprio futuro, Aécio disse que pretendia estudar engenharia mas falou que provavelmente acabaria entrando na vida política, como seu pai, que era deputado pela Arena, o partido de sustentação do regime militar, e seu avô, que era um dos principais líderes do MDB, partido da oposição civil.

Dois anos depois do fim de semana em Middlebush, Aécio Neves obteve um emprego na Câmara de Deputados. Foi contratado como assessor do próprio pai. A Câmara funcionava em Brasília, mas Aécio continuou morando no Rio de Janeiro. Cuidava da agenda do pai à distância, embora não houvesse internet naquele tempo. Mas não era um trabalho ilegal. A Câmara só passou a obrigar assessores parlamentares a atuar em Brasília a partir de 2010.

Mas, se pudesse refletir ao longo dos anos, o repórter Bob Bradis poderia avaliar o duradouro significado de uma frase em seu caderno de notas: “Eu nunca fiz minha própria cama.”