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Dilma, depois do Jô, chama o Saturnino

Roberto Marinho e Sarney não podiam permitir que Saturnino desse certo.
publicado 19/05/2015
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Na porta do plenário João Goulart, do Senado Federal, deveria haver uma placa para que todo  senador visse, quando fosse votar:

“Aqui serviu o homem público exemplar Roberto Saturnino Braga. Pense nele antes de trair o povo !”

Saturnino exerceu três mandatos de Senador da República, foi deputado federal, vereador e Prefeito do Rio.

E, desde sempre, um funcionário do BNDE de valor inestimável.

E, desde sempre, probo, socialista – e nacionalista, essa bandeira que está à disposição de quem queira empunhá-la.

Hoje, dá palestras, escreve livros (são dezoito publicados), artigos, como esse e esse, que o Conversa Afiada teve o prazer de publicar, e preside o Centro Internacional Celso Furtado.

E acaba de lançar, com o filho e ex-Chefe da Casa Civil, na Prefeitura, Bruno Saturnino Braga, o livro “Democracia Participativa no Rio de Janeiro – 1986-1988”, pela Editora Contraponto, Rio, 2015.

Ele foi o primeiro prefeito eleito do Rio, depois do regime militar.

Herdou uma cidade quebrada pela mudança da capital para Brasília e a tentativa dos militares de destruir o Rio política e economicamente.

O livro é mais do que essa experiência fascinante e pioneira de praticar “também exemplarmente uma forma mais avançada de democracia, com forte participação popular”.

A discussão e descrição dessa tentativa devia ilustrar os homens públicos brasileiros que se jactam de defender a “hegemonia popular”, coluna vertebral da Democracia.

Para um ansioso blogueiro carioca, que, no CADE, trabalhou com o pai de Saturnino – o também probo e exemplar homem público, Roberto Saturnino, três vezes deputado federal -, o livro chama a atenção pelo cerco institucional que se montou para inviabilizar a gestão socialista de Saturnino.

O livro, sempre elegante como seus autores, não descreve assim.

Mas, pode ser resumido por uma conjugação de interesses escusos, que serão descritos em profundidade no livro que este ansioso blogueiro breve lançará: “O Quarto Poder – os documentos de uma outra História”.

Primeiro, o Governo Sarney, através de seu Ministro da Fazenda, Mailson da Nobrega, aplicou à Prefeitura do Rio o que não fez com nenhum outro Governo estadual ou municipal: proibir que os bancos rolassem qualquer parcela da dívida do Rio.

Foi a decretação da falência da cidade – e o Prefeito soube da decisão na véspera !

Sem ter a chance de negociar parte, renegociar a dívida, como fazem e fizeram sempre todos os ente federados !

A política econômica do Governo Sarney já era um fracasso retumbante, e o governo de Saturnino se tornou uma presa fácil para desviar a atenção e agradar a Casa Grande !

Na outra ponta da fuzilaria implacável estava a rede Globo de Televisão – que o livro não menciona, nem precisa...

Roberto Marinho – o ansioso blogueiro testemunhava isso, pessoalmente – não iria permitir que um político egresso do PDT de Brizola e que se proclamava um prefeito socialista pudesse dar certo.

Roberto Marinho e Sarney eram um Governo só.

Na verdade, Roberto Marinho – como se verá no “Quarto Poder” – se considerava o Presidente da República !

E esse Eixo do Mal decidiu que Saturnino tinha que fracassar.

(Acessoriamente, Saturnino brigou com Brizola, saiu do PDT e, quando veio a moratória da dívida, ele estava sem apoio na Câmara dos Vereadores… E sem a cobertura do trombone do Brizola. Mas, essa é uma página cinzenta da biografia do caudilho…)

Saturnino merece mais do que um livro de 160 páginas.

Merece uma biografia que dê à sua carreira parlamentar e ao seu “fracasso” como administrador público a dimensão de um Homem de Estado, um Estadista !

E, para concluir, breves palavras sobre a Presidenta Dilma Rousseff.

Ela deveria conversar com Saturnino, depois de ler esse livro, numa noite.

Para ter uma ideia do que espera por ela, se o ajuste à la Mailson e a Globo à la Roberto Marinho atingirem seus objetivos submersos e subalternos.

Ela, que gosta de fritar omelete com a Ana Maria Braga e discutir Literatura Contemporânea com o notável romancista Jô Soares, poderia também se inspirar na obra de um homem probo, socialista – e nacionalista !


Paulo Henrique Amorim