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Saturnino: unidade política vale mais que o ajuste

O que eles é tomar o pré-sal e fulminar os BRICS
publicado 21/03/2015
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O Conversa Afiada reproduz artigo de Saturnino Braga:


PROTESTOS


Os que lutamos pela democracia, os que prezamos a democracia, os que queremos aperfeiçoar a democracia pela participação popular, não podemos deixar de saudar como positivas as manifestações de protesto do povo nas ruas, mesmo que voltadas contra nós que estamos do lado do Governo. Temos que aceitá-las, escutar suas razões, buscar suas causas e responder honestamente com explicações e com ações positivas. Acho que o Governo está tentando proceder desta maneira, corretamente.

As dimensões do protesto do dia 15 ultrapassaram bem as nossas expectativas. As características dele, entretanto, confirmaram o que já era esperado: A grande concentração em São Paulo, onde é muito mais forte o sentimento antipetista, o ódio mesmo ao PT desenvolvido entre as classes médias; a insignificância da presença dos partidos políticos na promoção das manifestações, evidenciando o papel preponderante da mídia na formação deste sentimento oposicionista; a expressiva parcela dos manifestantes, inconformados com a derrota eleitoral de novembro, que clamava pelo impeachment, pelo terceiro turno, pelas “indiretas já” como disse bem Reginaldo Moraes, para reverter a decisão da maioria nas urnas. Esta, sim, é a única vertente do protesto que não é aceitável e tem de ser veementemente rechaçada. Porque é golpista, na medida em que o Governo anterior de Dilma Rousseff foi julgado na eleição e aprovado pela maioria, e o novo Governo está nos primórdios e ainda não pode ser julgado honestamente. E sobre a Presidenta, pessoalmente, não surgiu nenhuma imputação grave dentro dessa avalanche de acusações que transborda pela mídia. Impeachment, então, agora, é golpe.

Não é este, entretanto, o projeto daqueles que, por força de grandes interesses, têm o propósito de derrubar o Governo para extinguir as políticas do novo desenvolvimentismo, a presença do Estado, a política de valorização do salário e os programas distributivistas. Derrubar também para reverter as medidas de afirmação nacional, como a lei do pré-sal e a aliança dos BRICS. Estes grupos são dirigidos por profissionais experimentados e sabem que a deposição agora, sendo claramente golpista, pode suscitar fortes reações populares pró-governo.

O projeto desses grupos é o de paralisar o Governo até o fim do ano, aprofundar bem mais o seu desgaste manter a continuidade do clima de descontentamento e de protestos, promover a confusão política causada pelas dissensões freqüentes na base de sustentação do Governo, a divisão flagrante dentro do próprio PT, a conseqüente desorientação do Governo e o desacerto de medidas que, uma vez tomadas, sempre parecem dar errado. Manter bem viva essa instabilidade paralisante até que, nos primeiros meses de 2016, já se possa falar de impeachment sem que pareça golpe.

O Governo João Goulart foi assim nos últimos seis meses; o tiroteio das divisões internas era quase tão grande quanto o da oposição, e tudo que o Governo fazia dava errado.

Cabe ao PT, e aos partidos que realmente querem manter a nova linha política e evitar o retorno da dominação do grande capital pela entronização do livre mercado, cabe a eles, compreendendo a gravidade do quadro, a responsabilidade da construção, como prioridade máxima, de uma sólida unidade política de sustentação da liderança da Presidenta Dilma Rousseff.

Os economistas podem divergir e condenar a austeridade fiscal de Joaquim Levy; os políticos que têm liderança precisam ter a clareza de visão dos profissionais experimentados, e perceber que, no momento, a unidade política é mais importante do que qualquer mudança na gestão econômica. Este profissionalismo o pessoal do mercado e do capital tem.



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