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Alô, o povo impediu a liquidação da aposentadoria

Oposição sem rumo
publicado 21/02/2018
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O Conversa Afiada publica artigo de seu colUnista exclusivo Joaquim Xavier:

A maioria do povo conquistou, na segunda-feira, uma das maiores vitórias do período recente. Apesar dos desencontros da oposição, de chamados irresponsáveis a greves gerais sem preparação e da propaganda maciça da elite golpista, a malfadada reforma da previdência encontra-se enterrada sem dó nem piedade. Foi a resistência popular, expressa na base e manifesta em todas as pesquisas de opinião, e também em manifestações de rua, a responsável por impedir que a manada de parlamentares corrompidos desse aval à medida.

Essa vitória gigantesca não tem sido capitalizada como deveria. Vale lembrar: a liquidação da aposentadoria era (e ainda é) um dos objetivos principais da camarilha golpista. Para conquistá-lo, o fantoche Temer e o grande capital mobilizaram o grosso de suas forças. Compraram deputados, torraram milhões de dinheiro público em publicidade, mobilizaram empresários e espalharam o terror econômico. A mídia do tubaronato, bem como seus colunistas de aluguel, jogou pesado pela aprovação da “reforma”. Tudo pelo ralo. O povo ganhou, e isso mereceria ser comemorado pelo Brasil afora.

Desorientada, a oposição parece, ou não quer, se dar conta disso. Foi capturada por vaidades e pela pauta fétida emanada do Jaburu. Hoje se embaralha com a intervenção no Rio. Dá uma pena ver próceres da chamada esquerda protestarem contra a intervenção por que ela teria sido produto de uma manobra para esconder a derrota na Previdência.

Há pelos dois erros nessa narrativa. Primeiro, coloca em segundo plano o êxito maiúsculo do povo ao barrar a joia da coroa do golpe. Depois, caracteriza a intervenção como apenas uma forma de os golpistas mudarem de assunto para esconder o revés.

A intervenção tem isso, mas é muito, muito mais do que isso. A deposição de fato do desgovernador Pezão faz parte de um projeto mais amplo. A ideia, clara como água, é transformar a presença de tanques e fuzis em algo corriqueiro na paisagem. Como dizia o funesto general Mourão, trata-se de aproximações logarítmicas para fulminar o poder civil, vale dizer, a democracia. A receita é clássica: pau e tiros nos pobres e na maioria, que até hoje não engolem no cotidiano a ruína patrocinada pelos usurpadores do Jaburu.

O desconcerto da dita oposição ficou patente na votação na Câmara. O PDT, teoricamente no campo anti-golpista, votou em massa pela intervenção no Rio. Nenhuma defecção, nenhuma voz discordante, como se o partido integrasse a base apodrecida de Temer e seus asseclas. Uma vergonha capaz de fazer Leonel Brizola se revirar no túmulo, fosse isto possível.

Pois bem: esse mesmo PDT tem Ciro Gоmes como pré-candidato assumido à presidência. Pelo menos nas palavras, Ciro tem-se mostrado um dos maiores adversários da quartelada no Rio. E agora, como fica? Qual discurso terá o partido daqui pra frente? E o candidato, o que tem a dizer sobre tamanha divergência? E depois ainda culpam o povo por não se mobilizar.

Falta, esta é a verdade, direção e alvos claros à proclamada oposição. O manifesto da celebrada frente de esquerda jogou Lula ao mar. De fato, considera perdida a batalha pela candidatura do maior líder popular que a história brasileira já conheceu. Os interesses imediatos de personagens miúdos vêm se sobrepondo ao objetivo maior de defender a democracia, a soberania nacional e um país menos desigual.

O combate pela candidatura Lula não é questão de gosto ou adesão partidária. Nem dispensa críticas ou senões à trajetória do ex-presidente. Mas trata-se de cegueira deliberada desconhecer que Lula concentra, simboliza a luta por um projeto diametralmente oposto ao implementado pelos golpistas. É isso o que o povo entende, e com razão. O contrário disso não passa da proliferação de Hucks “de esquerda”. O Brasil merecia mais do que isso.