Até crianças são suspeitíssimas
(Reprodução/O Globo)
Do Globo Overseas:
Uma imagem de militares armados de fuzis revistando crianças começou a circular nas redes sociais nos últimos dias como se tivesse sido tirada durante a intervenção federal que ocorre no Rio de Janeiro. Uma das publicações já tinha 50 mil compartilhamentos até a tarde desta quinta-feira, mas a imagem não é atual.
A foto foi tirada no dia 22 de novembro de 1994 pela fotógrafa Márcia Foletto, do GLOBO, na entrada de uma escola na favela Dona Marta, em Botafogo, Zona Sul do Rio de Janeiro. Na época, as Forças Armadas assumiram as ações dos órgãos de segurança pública do Rio de Janeiro, mas essa iniciativa não pode ser considerada uma intervenção federal, como a que foi decretada mais recentemente no estado.
A foto foi publicada na capa do GLOBO na edição do dia 23 de novembro daquele ano. Na ocasião, foi firmado um convênio entre o governador Nilo Batista e o presidente Itamar Franco, que autorizava o Exército a assumir as ações da Secretaria estadual de Justiça, das Polícias Militar e Civil e da Defesa Civil do Rio de Janeiro. O principal objetivo era garantir mais eficácia na repressão ao tráfico de drogas e contrabando de armas, o que era atribuição do governo federal. A medida não foi definida por um decreto, nem passou pela apreciação da Congresso Nacional, uma obrigatoriedade no caso da intervenção.
No dia seguinte à publicação da foto na capa, O GLOBO entrevistou três das crianças que foram revistadas na entrada do Morro Dona Marta. Iúri de Souza da Silva, de 9 anos, disse à equipe de reportagem que estava ajudando a avó a vender cachorro-quente na praça quando os soldados o mandaram encostar na parede. Já Wagner Inácio da Silva, de 10 anos, afirmou que não ia mais descer o morro se o Exército voltasse. Carlos Fernandes, de 11, contou que não se incomodou tanto porque virou estrela entre os colegas que o viram na foto e também porque já tinha sido revistado pela PM um ano antes, no mesmo lugar.
Em tempo: assista na TV Afiada: Professora e a intervenção: é teatralidade tipo "espanta barata"