Até no jn: um retrato da patifaria que deu o Golpe
A distribuiçao dos grampos chegou à Globo: não se salva ninguém. Nem a Globo!
publicado
27/05/2016
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O Conversa Afiada reproduz a matéria do jornal nacional de ontem, 26/5.
Novas gravações mostram tentativa de livrar políticos da Lava Jato
Ex-presidente da Transpetro fala com integrantes da cúpula do PMDB. Machado gravou também conversa com ex-presidente José Sarney.
A crise política ganhou nesta quinta-feira (26) mais um capítulo com a revelação de novos trechos de conversas do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, com integrantes da cúpula do PMDB. Os diálogos foram gravados por Machado e mostram a tentativa de livrar políticos da Lava Jato.
Sérgio Machado era considerado pelos investigadores o caixa da cúpula do PMDB.
O delator Sérgio Machado contou aos investigadores que o presidente do Senado, Renan Calheiros, acompanhou sua situação de perto na Lava Jato.
Há quase um ano, quando Machado prestou depoimento, entregou uma cópia do que disse à Polícia Federal a Renan.
O senador é padrinho político de Sérgio Machado: foi pelas mãos de Renan que Machado ficou 12 anos na presidência da Transpetro, subsidiária da Petrobras na área de gás natural e combustíveis.
Sérgio Machado decidiu sair da condição de aliado para delator de Renan e políticos da cúpula do PMDB quando percebeu que poderia ser alvo de novos delatores e até ser preso.
Um diálogo, no dia 24 de fevereiro, mostra Renan orientando uma pessoa identificada como Wanderberg, que seria Wanderberg dos Santos Sobreira Machado, ligado a Renan, e segundo investigadores, com ligações também com a defesa de Delcídio.
Renan e Wanderberg falam sobre como fazer a defesa do então senador. Nessa época, o processo de Delcídio ainda estava no Conselho de Ética e Renan não sabia que Delcídio já era delator da Lava Jato. Renan fala que é preciso que o presidente do conselho, senador João Alberto Souza, também do PMDB, peça diligências para não parecer que a investigação está parada. E sugere que Delcídio faça uma carta mostrando humildade e que já pagou o preço do que fez.
Renan: O que que ele (Delcídio) tem que fazer... fazer uma carta, submeter a várias pessoas, fazer uma coisa humilde... que já pagou um preço pelo que fez, foi preso tantos dias... família pagou... a mulher pagou...
Wanderberg: Ele (Delcídio) só vai entregar a comissão, fazer essa carta e vai embora.
Renan: Conselho de Ética, falei agora com o João (João Alberto, presidente do Conselho de Ética). O João, ele fica lá ouvindo os caras... O Conselho de Ética não tem elementos para levar processo adiante, também é ruim dizer que não vai levar o processo adiante. Então o Conselho de Ética tem que requerer diligências, requisição de peças e enquanto isso não chegar fica lá parado.
Wanderberg: (João Alberto) vai colocar em votação e vai ter uma derrota antecipada.
No dia 11 de março, Sérgio Machado volta a conversar com Renan. Criticam o procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Falam em "fórmula de dar um chega pra lá nessa negociação ampla, para poder segurar esse pessoal”, dando a entender de que tratavam dos investigadores da Lava Jato.
Sérgio Machado: Agora esse Janot, Renan, é o maior mau caráter da face da terra.
Renan: Mau caráter! Mau caráter! E faz tudo que essa força-tarefa (Lava-Jato) quer.
Sérgio Machado: É ele não manda. E ele é mau caráter. E ele quer sair como herói. E tem que se encontrar uma fórmula de dar um chega pra lá nessa negociação ampla pra poder segurar esse pessoal (Lava Jato). Eles estão se achando o dono do mundo.
Renan: Dono do mundo.
E continuam o diálogo fazendo críticas a vários políticos. Citam o senador Aécio Neves, presidente do PSDB. O deputado Pauderney Avelino, líder do Democratas. Mendoncinha, como o agora ministro da Educação, deputado Mendonça Filho, do Democratas, é chamado por vários políticos. Senador José Agripino, presidente do Democratas. Senador Fernando Bezerra Coelho, do PSB. Senador José Serra, do PSDB, hoje ministro das Relações Exteriores. Aparentemente, segundo investigadores, eles criticam os políticos por defenderem o impeachment e se posicionarem a favor da Lava Jato.
Sérgio Machado: E o PSDB pensava que não, mas o Aécio agora sabe. O Aécio, Renan, é o cara mais vulnerável do mundo.
Renan: É.
Sérgio Machado: o Aécio é vulnerabilíssimo. Vulnerabilíssimo há muito tempo. Como que você tem cara de pau, Renan, aquele cara Pauderney que agora virou herói. Um cara mais corrupto que aquele não existe, Pauderney Avelino.
Renan: Pauderney Avelino, Mendocinha.
Sérgio Machado: Mendocinha, todo mundo pô? Que *** é essa querer ser agora o dono da verdade? O Zé (Zé Agripino) é outro que pode ser parceiro, não é possível que ele vá fazer maluquice.
Renan: O Zé nós combinamos de botá-lo na roda. Eu disse ao Aécio e ao Serra que no próximo encontro que a gente tiver tem que botar o Zé Agripino e o Fernando Bezerra. Eu acho.
Sérgio Machado: O PSB virou uma oposição radical. O Zé não tem como não entrar na roda.
Renan: O PSB quer o impeachment, mas o Fernando (Bezerra) é um cara bom.
Sérgio Machado: Porque também entende disso que a gente está falando.
Renan: É.
Machado e Renan falam sobre Dilma, que na época da gravação ainda não tinha sido afastada. Renan se confunde e dá a entender que, para ele, manter Dilma é a maneira de melar a Lava Jato.
Sérgio Machado: porque tem que tomar cuidado porque esse *** desse Noblat botou que essa coisa de tirar a Dilma é maneira de salvar os corruptos.
Renan: Tirar a Dilma? Manter a Dilma?
Sérgio Machado: Tirar a Dilma, que é um processo de salvação, de salvação.
Renan: Que é a lógica que ela fez o tempo todo.
Renan e o então aliado concordam com um cenário: a Lava Jato atingiu o mundo político em cheio e que o dinheiro não era apenas para campanha eleitoral.
Sérgio Machado: É porque esse processo. Porque Renan, vou dizer o seguinte, dos políticos do Congresso, se sobrar cinco que não fez, é muito (receber dinheiro para campanha). Governador nenhum. Não tem como, Renan.
Renan: Não tem como sobreviver.
Sérgio Machado: Não tinha como sobreviver.
Renan: Tem não.
Sérgio Machado: Não tem como sobreviver porque não é só, é a eleição e a manutenção toda do processo.
Renan: É.
Em várias conversas, Sérgio Machado disse que não havia provas que ligassem líderes do PMDB ao esquema investigado . Machado conversou com Renan, com o ex-presidente José Sarney e com o senador Romero Jucá, que deixou o cargo de ministro do Planejamento depois desses diálogos.
Em uma das conversas entre Machado e Sarney, o ex-presidente da Transpetro pediu ajuda para evitar que novas delações surgissem na Lava Jato ou que o juiz Sérgio Moro o pressionasse a falar. No dia 10 de março, o ex-presidente Sarney diz que ajudaria Machado a não ser preso.
Sarney diz: Isso tem me preocupado muito porque eu sou o único que não tive num negócio desse, sou o único que não tive envolvido em nada. Vou me envolver num negócio desse.
Sérgio Machado responde: Claro que não, o que acontece é que a gente tem que encontrar... me ajudar a encontrar a solução.
Sarney: Sem dúvida.
Machado: No que depender de mim, nem se preocupe. Agora, eu preciso, se esse *** me botar preso um ano, dois anos, onde é que vai parar?
Sarney responde: Isso não vai acontecer. Nós não vamos deixar isso.
Num outro trecho também no dia 10 de março, Sérgio Machado sugere que o grupo de políticos do PMDB se aproxime do relator da Lava Jato no Supremo, ministro Teori Zavascki. Sarney cita o nome do ex-ministro do STJ César Asfor Rocha, que teria - segundo Sarney - muita proximidade com Teori. E diz que vai conversar com ele sobre isso.
Sérgio Machado: Porque realmente se me jogarem para baixo aí... Teori, ninguém consegue conversar.
Sarney: Você se dá com o César, César Rocha.
Sérgio Machado: Hum.
Sarney: César Rocha.
Sérgio Machado: Dou, mas o César não tem acesso ao Teori não. Tem?
Sarney: Tem total acesso ao Teori. Muito, muito, muito, muito acesso, muito acesso. Eu preciso falar com César. A única coisa com o César, com o Teori, é com o César.
No dia 11 de março, Machado gravou uma conversa em que Sarney e Renan estavam juntos. Ainda falam sobre como ter acesso a Teori. Desta vez, por meio do advogado Eduardo Ferrão, que eles dizem que também é amigo do ministro. Sarney e Renan falam que a conversa tem de ser reservada.
Sarney afirma: O Renan me fez uma lembrança que pode substituir o César. O Ferrão é muito amigo do Teori.
Renan alerta: Tem que ser uma coisa confidencial.
Sérgio concorda: Só entre nós e o Ferrão.
O fato de que Sérgio Machado se viu obrigado a fazer uma delação premiada para escapar da cadeia é indicativo de que não surtiram efeito as tentativas de influenciar Teori. Nem se pode dizer que César Asfor Rocha e Eduardo Ferrão tenham sido acionados.
À medida em que as delações na Lava Jato foram aumentando e atingindo mais políticos, surgiram novas propostas no Congresso sobre o alcance de investigações criminais.
A ideia é proibir a delação de presos e impedir prisões depois do julgamento em segunda instância, contrariando a decisão do Supremo Tribunal Federal, tomada há três meses.
O Ministério Público Federal diz que é uma reação da classe política para limitar a Lava Jato.
Nos diálogos já divulgados, tanto Renan como Romero Jucá dizem que é essencial mudar a lei das delações, proibindo que presos possam fazer esse tipo de acordo. Eles acreditam que a prisão leva os acusados a colaborar e também se mostram contrariados com a decisão recente do Supremo que permite que réus condenados em segunda instância já comecem a cumprir a pena na cadeia.
O deputado Wadih Damous, do PT, apresentou projeto de lei para impedir delações de presos e para que as prisões só possam ser executadas depois do último recurso. Ele diz que o STF quis reescrever a Constituição, papel que só cabe ao Congresso.
As conversas também mostram que houve negociações para alterar leis e tentar prejudicar a Lava Jato como um todo. Com Sérgio Machado, Sarney fala de uma medida provisória sobre acordo de leniência que o governo Dilma baixou.
Em dezembro de 2015, o governo Dilma editou uma medida provisória – conhecida como MP da Leniência - para facilitar que empresas admitam culpa e possam voltar a fazer negócios com o setor público. Depois de protestos do Tribunal de Contas da União e do Ministério Público, a MP foi substituída por um projeto de lei bem mais rígido.
Sérgio Machado: Outro caminho tem que ter: é a aprovação desse projeto de leniência na Câmara o mais rápido possível, porque aí livra o criminal. Livra tudo.
Sarney: Tem que lembrar o Renan disso, para ele aprovar o negócio da leniência.
Renan e Sarney conversaram também sobre proibir que pessoas presas façam delações premiadas. Uma ideia que prejudicaria a Operação Lava Jato, já que algumas delações foram fechadas por suspeitos presos.
Sarney: O importante agora, se nós pudermos votar, que só pode fazer delação, é só solto.
Renan: Que só pode solto, que não pode preso. Isso é uma maneira sutil que toda sociedade compreende que isso é uma tortura.
Em outra conversa com Sérgio Machado, em que foi discutida a delação de executivos da Odebrecht, o ex-presidente José Sarney cita uma tentativa de acordo geral para barrar a operação.
Sarney afirma: A Odebrecht (...) eles vão abrir, vão contar tudo. Vão livrar a cara do Lula. E vão pegar a Dilma. Porque foi com ele, quem tratou diretamente sobre o pagamento do João Santana foi ela. Então eles vão fazer. Porque isso tudo foi muito ruim pra eles. Com isso não tem jeito. Agora precisa se armar. Com vamos fazer com essa situação? A oposição não vai aceitar. Vamos ter que fazer um acordo geral com tudo isso.
Sérgio Machado acrescenta: Inclusive com o Supremo. E disse com o Supremo, com os jornais, com todo mundo.
Sarney responde: Supremo. Não pode abandonar.
Para os investigadores, a tentativa de interferir na Lava Jato não deu certo. Eles estão analisando dezenas de gravações consideradas comprometedoras entregues por Sérgio Machado.
A partir de agora, caberá ao procurador-geral da República fazer os pedidos de investigação. Ele vai decidir quais provas podem levar a novas frentes, e quais podem ser incluídas em inquéritos em andamento.
Conversa com Sarney
Sérgio Machado gravou várias horas de conversa. Em uma delas, visitou com um gravador escondido, o ex-presidente José Sarney enquanto ele se recuperava de um problema de saúde.
Em dezembro de 2015, Sérgio Machado foi alvo de buscas na Lava Jato.
Confessou aos investigadores que, depois disso, teve medo de se tornar alvo de delatores.
Sérgio Machado também contou que tinha medo de ser preso. A essa altura, o Supremo Tribunal Federal já havia autorizado prisões de pessoas condenadas em segunda instância. E decidiu gravar conversas com políticos importantes. Começou a marcar encontros, um deles com o ex-presidente e ex-senador José Sarney. Sarney estava em recuperação, em casa, depois que levou uma queda.
Neste trecho gravado entre fevereiro e março, os dois especulam sobre política. Dizem que Dilma Rousseff vai acabar caindo, especialmente depois do seu marqueteiro João Santana ter sido preso. E Michel Temer também.
Machado: Estamos num momento, numa quadra, presidente, complicadíssima.
Sarney: Eu não vejo solução nenhuma.
Machado: Só tem uma solução, presidente, é ela sair.
Sarney: Ah! Sim.
Machado: A única solução que existe. E ela vai sair por bem ou por mal porque a economia nenhuma não vai aguentar.
Sarney: Não. Ela vai sair de qualquer jeito.
Machado: Qualquer jeito.
Sarney: Agora não tem jeito. Depois desse negócio do Santana, não tem jeito.
Machado: Vai sair o Michel, o que é o pior.
Sarney: Michel vai sair também.
A conversa continua com especulações sobre quem venceria uma eventual eleição. Eles dizem que no final quem vai assumir a Presidência será Eduardo Cunha, mostrando que os dois não tinham ideia do que estava prestes a ocorrer na política. A conversa foi em março. Cunha caiu antes mesmo de Dilma ser afastada com o processo de impeachment.
Machado: Saindo o Michel e aí como é que fica? Quem assume?
Sarney: Eleição. E vai ter muito, um Joaquim Barbosa desses da vida.
Machado: Ou um Moro. O Aécio pensa que vai ser ele, não vai ser não.
Sarney: Não, não vai ser ele, de jeito nenhum!
Machado: E quem que assume a Presidência, se não tem ninguém?
Sarney: O Eduardo Cunha.
Machado: E ele não vai abrir mão de assumir, não.
Sarney: Não. No Supremo não tem. Não tem ninguém que tenha competência pra tirá-lo. Só se cassarem o mandato dele. Fora daí, não tem. Como é que o Supremo vai tirar o presidente da Casa?
Numa conversa entre Machado e o senador Romero Jucá, o agora ex-ministro do Planejamento relata como teria convencido o PSDB a aderir ao impeachment. Até então, o partido era favorável a esperar a decisão do TSE, que julga as irregularidades nas contas de campanha de Dilma e Temer. Se a chapa for condenada, haveria novas eleições. Na época, essa era vista pelos tucanos como a melhor saída para a crise. Jucá disse que alertou que ninguém conseguiria ganhar eleição defendendo reformas necessárias, mas impopulares, para sair da crise econômica.
Machado: Falar com o Tasso, na casa do Tasso. Eunício, o Tasso, o Aécio, o Serra, o Aloysio, o Cássio, o Ricardo Ferraço, que agora virou psdbista histórico. Aí, conversando lá, o que é que a gente combinou? Nós temos que estar junto para dar uma saída pro Brasil (inaudível), e se não tiver... Eu disse lá, todo mundo, todos os políticos (inaudível) tão ***, entendeu? Porque (inaudível) disse: Não TSE, se cassar... Eu disse: Aécio, deixa eu te falar uma coisa: se cassar e tiver outra eleição, nem Serra, nenhum político tradicional ganha essa eleição, não. Lula, Joaquim Barbosa. Porque na hora dos debates vão perguntar: Você vai fazer a reforma da Previdência? O que é que tu vai responder? Que vou. Tu acha que ganha eleição dizendo que vai reduzir aposentadoria das pessoas? Que vai ganhar é que fizer a maior bravata. E depois não governa, vai ficar refém da bravata, nunca vai ter base partidária. Esqueça.
Num outro trecho, Sarney e Machado reclamam que Dilma insiste em permanecer no governo diante da crise política e econômica. Sarney diz que não só empresários e políticos devem pagar pelos malfeitos na Petrobras. Mas o governo também.
Sarney: Ela não sai. Resiste. Diz que até a última bala.
Machado: Não tem rabo, não tem nada.
Sarney: Acha que não tem rabo. Tudo isso foi... É o governo, meu Deus! Esse negócio da Petrobras são os empresários que vão pagar, os políticos! E o governo que fez isso tudo?
Machado: Acabou o Lula, presidente
Sarney: O Lula acabou. O Lula, coitado, ele está numa depressão tão grande.
Machado: O Lula. E não houve nenhuma solidariedade da parte dela.
Eles criticam as nomeações feitas pelo governo de ministros do Supremo Tribunal Federal. E o juiz Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava Jato.
Sarney: E com esse Moro perseguindo por besteira.
Machado: Presidente, esse homem tomou conta do Brasil. Inclusive, o Supremo fez porque é pedido dele. Como é que o Toffoli e o Gilmar fazem uma p*** dessa? Se os dois tivessem votado contra não dava. Nomeou uns ministros de m*** com aquele modelo.
Sarney: Todos.
A conversa continua. Eles reclamam que ninguém se manifesta contra as decisões de Sérgio Moro. Criticam as decisões da Justiça que estão combatendo a corrupção. Classificam a situação como uma ditadura da Justiça.
Machado: Não teve um jurista que se manifestasse. E a mídia tá parcial assim. Eu nunca vi uma coisa tão parcial. Gente, eu vivi a revolução. Não tinha esse terror que tem hoje, não. A ditatura da toga tá f***.
Sarney: A ditadura da Justiça tá implantada, é a pior de todas!
Machado: E eles vão querer tomar o poder. Pra poder acabar o trabalho.
Na conversa, Machado demonstra o grau de dissimulação a que estava disposto para conseguir que sua delação fosse aceita pelos procuradores. Ele, que estava grampeando a própria conversa com Sarney, pede que o ex-presidente marque um encontro com Renan em um lugar livre de grampos.
Machado: Faz uma ponte que eu possa, que é melhor porque tá tudo grampeado, Tudo essas coisas. Isso é ruim.
As gravações que foram feitas por Sérgio Machado com o ex-presidente José Sarney, com o senador Romero Jucá, e com o presidente do Senado, Renan Calheiros, conhecidas até agora são dominadas por um assunto, as tentativas de barrar a Operação Lava Jato e obstruir a Justiça. Mas o tema principal da delação premiada de Machado é outro: os desvios de dinheiro da Transpetro para políticos ao longo de mais de dez anos e isso será conhecido em detalhes à medida em que forem divulgados os depoimentos de Sérgio Machado aos investigadores. Aí ficará claro porque tanta preocupação com o que Machado tem a dizer.
(...)
Em nota, o Instituto Lula declarou que quem tem de explicar essas notícias são os que o instituto chama de “beneficiários da aliança entre os partidos golpistas e os setores mais corruptos da política brasileira”. O instituto afirma que foram eles que afastaram a Dilma Rousseff, com o objetivo, segundo o instituto, de controlar as instituições, barrar a Operação Lava Jato e restabelecer a impunidade.
A presidente afastada, Dilma Rousseff, disse que todos os pagamentos feitos ao publicitário João Santana foram regulares e contabilizados na prestação de contas apresentadas à Justiça Eleitoral. Que estranha que pessoas que não participaram da coordenação da campanha ou da tesouraria possam ter informações sobre pagamentos e arrecadações, o que segundo ela, mostra que a origem dessas informações não tem nenhuma credibilidade. Por fim, Dilma diz que a tentativa de envolver seu nome em situações de que nunca participou são escusas e demonstram interesses inconfessáveis.
Ex-presidente da Transpetro fala com integrantes da cúpula do PMDB. Machado gravou também conversa com ex-presidente José Sarney.
A crise política ganhou nesta quinta-feira (26) mais um capítulo com a revelação de novos trechos de conversas do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, com integrantes da cúpula do PMDB. Os diálogos foram gravados por Machado e mostram a tentativa de livrar políticos da Lava Jato.
Sérgio Machado era considerado pelos investigadores o caixa da cúpula do PMDB.
O delator Sérgio Machado contou aos investigadores que o presidente do Senado, Renan Calheiros, acompanhou sua situação de perto na Lava Jato.
Há quase um ano, quando Machado prestou depoimento, entregou uma cópia do que disse à Polícia Federal a Renan.
O senador é padrinho político de Sérgio Machado: foi pelas mãos de Renan que Machado ficou 12 anos na presidência da Transpetro, subsidiária da Petrobras na área de gás natural e combustíveis.
Sérgio Machado decidiu sair da condição de aliado para delator de Renan e políticos da cúpula do PMDB quando percebeu que poderia ser alvo de novos delatores e até ser preso.
Um diálogo, no dia 24 de fevereiro, mostra Renan orientando uma pessoa identificada como Wanderberg, que seria Wanderberg dos Santos Sobreira Machado, ligado a Renan, e segundo investigadores, com ligações também com a defesa de Delcídio.
Renan e Wanderberg falam sobre como fazer a defesa do então senador. Nessa época, o processo de Delcídio ainda estava no Conselho de Ética e Renan não sabia que Delcídio já era delator da Lava Jato. Renan fala que é preciso que o presidente do conselho, senador João Alberto Souza, também do PMDB, peça diligências para não parecer que a investigação está parada. E sugere que Delcídio faça uma carta mostrando humildade e que já pagou o preço do que fez.
Renan: O que que ele (Delcídio) tem que fazer... fazer uma carta, submeter a várias pessoas, fazer uma coisa humilde... que já pagou um preço pelo que fez, foi preso tantos dias... família pagou... a mulher pagou...
Wanderberg: Ele (Delcídio) só vai entregar a comissão, fazer essa carta e vai embora.
Renan: Conselho de Ética, falei agora com o João (João Alberto, presidente do Conselho de Ética). O João, ele fica lá ouvindo os caras... O Conselho de Ética não tem elementos para levar processo adiante, também é ruim dizer que não vai levar o processo adiante. Então o Conselho de Ética tem que requerer diligências, requisição de peças e enquanto isso não chegar fica lá parado.
Wanderberg: (João Alberto) vai colocar em votação e vai ter uma derrota antecipada.
No dia 11 de março, Sérgio Machado volta a conversar com Renan. Criticam o procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Falam em "fórmula de dar um chega pra lá nessa negociação ampla, para poder segurar esse pessoal”, dando a entender de que tratavam dos investigadores da Lava Jato.
Sérgio Machado: Agora esse Janot, Renan, é o maior mau caráter da face da terra.
Renan: Mau caráter! Mau caráter! E faz tudo que essa força-tarefa (Lava-Jato) quer.
Sérgio Machado: É ele não manda. E ele é mau caráter. E ele quer sair como herói. E tem que se encontrar uma fórmula de dar um chega pra lá nessa negociação ampla pra poder segurar esse pessoal (Lava Jato). Eles estão se achando o dono do mundo.
Renan: Dono do mundo.
E continuam o diálogo fazendo críticas a vários políticos. Citam o senador Aécio Neves, presidente do PSDB. O deputado Pauderney Avelino, líder do Democratas. Mendoncinha, como o agora ministro da Educação, deputado Mendonça Filho, do Democratas, é chamado por vários políticos. Senador José Agripino, presidente do Democratas. Senador Fernando Bezerra Coelho, do PSB. Senador José Serra, do PSDB, hoje ministro das Relações Exteriores. Aparentemente, segundo investigadores, eles criticam os políticos por defenderem o impeachment e se posicionarem a favor da Lava Jato.
Sérgio Machado: E o PSDB pensava que não, mas o Aécio agora sabe. O Aécio, Renan, é o cara mais vulnerável do mundo.
Renan: É.
Sérgio Machado: o Aécio é vulnerabilíssimo. Vulnerabilíssimo há muito tempo. Como que você tem cara de pau, Renan, aquele cara Pauderney que agora virou herói. Um cara mais corrupto que aquele não existe, Pauderney Avelino.
Renan: Pauderney Avelino, Mendocinha.
Sérgio Machado: Mendocinha, todo mundo pô? Que *** é essa querer ser agora o dono da verdade? O Zé (Zé Agripino) é outro que pode ser parceiro, não é possível que ele vá fazer maluquice.
Renan: O Zé nós combinamos de botá-lo na roda. Eu disse ao Aécio e ao Serra que no próximo encontro que a gente tiver tem que botar o Zé Agripino e o Fernando Bezerra. Eu acho.
Sérgio Machado: O PSB virou uma oposição radical. O Zé não tem como não entrar na roda.
Renan: O PSB quer o impeachment, mas o Fernando (Bezerra) é um cara bom.
Sérgio Machado: Porque também entende disso que a gente está falando.
Renan: É.
Machado e Renan falam sobre Dilma, que na época da gravação ainda não tinha sido afastada. Renan se confunde e dá a entender que, para ele, manter Dilma é a maneira de melar a Lava Jato.
Sérgio Machado: porque tem que tomar cuidado porque esse *** desse Noblat botou que essa coisa de tirar a Dilma é maneira de salvar os corruptos.
Renan: Tirar a Dilma? Manter a Dilma?
Sérgio Machado: Tirar a Dilma, que é um processo de salvação, de salvação.
Renan: Que é a lógica que ela fez o tempo todo.
Renan e o então aliado concordam com um cenário: a Lava Jato atingiu o mundo político em cheio e que o dinheiro não era apenas para campanha eleitoral.
Sérgio Machado: É porque esse processo. Porque Renan, vou dizer o seguinte, dos políticos do Congresso, se sobrar cinco que não fez, é muito (receber dinheiro para campanha). Governador nenhum. Não tem como, Renan.
Renan: Não tem como sobreviver.
Sérgio Machado: Não tinha como sobreviver.
Renan: Tem não.
Sérgio Machado: Não tem como sobreviver porque não é só, é a eleição e a manutenção toda do processo.
Renan: É.
Em várias conversas, Sérgio Machado disse que não havia provas que ligassem líderes do PMDB ao esquema investigado . Machado conversou com Renan, com o ex-presidente José Sarney e com o senador Romero Jucá, que deixou o cargo de ministro do Planejamento depois desses diálogos.
Em uma das conversas entre Machado e Sarney, o ex-presidente da Transpetro pediu ajuda para evitar que novas delações surgissem na Lava Jato ou que o juiz Sérgio Moro o pressionasse a falar. No dia 10 de março, o ex-presidente Sarney diz que ajudaria Machado a não ser preso.
Sarney diz: Isso tem me preocupado muito porque eu sou o único que não tive num negócio desse, sou o único que não tive envolvido em nada. Vou me envolver num negócio desse.
Sérgio Machado responde: Claro que não, o que acontece é que a gente tem que encontrar... me ajudar a encontrar a solução.
Sarney: Sem dúvida.
Machado: No que depender de mim, nem se preocupe. Agora, eu preciso, se esse *** me botar preso um ano, dois anos, onde é que vai parar?
Sarney responde: Isso não vai acontecer. Nós não vamos deixar isso.
Num outro trecho também no dia 10 de março, Sérgio Machado sugere que o grupo de políticos do PMDB se aproxime do relator da Lava Jato no Supremo, ministro Teori Zavascki. Sarney cita o nome do ex-ministro do STJ César Asfor Rocha, que teria - segundo Sarney - muita proximidade com Teori. E diz que vai conversar com ele sobre isso.
Sérgio Machado: Porque realmente se me jogarem para baixo aí... Teori, ninguém consegue conversar.
Sarney: Você se dá com o César, César Rocha.
Sérgio Machado: Hum.
Sarney: César Rocha.
Sérgio Machado: Dou, mas o César não tem acesso ao Teori não. Tem?
Sarney: Tem total acesso ao Teori. Muito, muito, muito, muito acesso, muito acesso. Eu preciso falar com César. A única coisa com o César, com o Teori, é com o César.
No dia 11 de março, Machado gravou uma conversa em que Sarney e Renan estavam juntos. Ainda falam sobre como ter acesso a Teori. Desta vez, por meio do advogado Eduardo Ferrão, que eles dizem que também é amigo do ministro. Sarney e Renan falam que a conversa tem de ser reservada.
Sarney afirma: O Renan me fez uma lembrança que pode substituir o César. O Ferrão é muito amigo do Teori.
Renan alerta: Tem que ser uma coisa confidencial.
Sérgio concorda: Só entre nós e o Ferrão.
O fato de que Sérgio Machado se viu obrigado a fazer uma delação premiada para escapar da cadeia é indicativo de que não surtiram efeito as tentativas de influenciar Teori. Nem se pode dizer que César Asfor Rocha e Eduardo Ferrão tenham sido acionados.
À medida em que as delações na Lava Jato foram aumentando e atingindo mais políticos, surgiram novas propostas no Congresso sobre o alcance de investigações criminais.
A ideia é proibir a delação de presos e impedir prisões depois do julgamento em segunda instância, contrariando a decisão do Supremo Tribunal Federal, tomada há três meses.
O Ministério Público Federal diz que é uma reação da classe política para limitar a Lava Jato.
Nos diálogos já divulgados, tanto Renan como Romero Jucá dizem que é essencial mudar a lei das delações, proibindo que presos possam fazer esse tipo de acordo. Eles acreditam que a prisão leva os acusados a colaborar e também se mostram contrariados com a decisão recente do Supremo que permite que réus condenados em segunda instância já comecem a cumprir a pena na cadeia.
O deputado Wadih Damous, do PT, apresentou projeto de lei para impedir delações de presos e para que as prisões só possam ser executadas depois do último recurso. Ele diz que o STF quis reescrever a Constituição, papel que só cabe ao Congresso.
As conversas também mostram que houve negociações para alterar leis e tentar prejudicar a Lava Jato como um todo. Com Sérgio Machado, Sarney fala de uma medida provisória sobre acordo de leniência que o governo Dilma baixou.
Em dezembro de 2015, o governo Dilma editou uma medida provisória – conhecida como MP da Leniência - para facilitar que empresas admitam culpa e possam voltar a fazer negócios com o setor público. Depois de protestos do Tribunal de Contas da União e do Ministério Público, a MP foi substituída por um projeto de lei bem mais rígido.
Sérgio Machado: Outro caminho tem que ter: é a aprovação desse projeto de leniência na Câmara o mais rápido possível, porque aí livra o criminal. Livra tudo.
Sarney: Tem que lembrar o Renan disso, para ele aprovar o negócio da leniência.
Renan e Sarney conversaram também sobre proibir que pessoas presas façam delações premiadas. Uma ideia que prejudicaria a Operação Lava Jato, já que algumas delações foram fechadas por suspeitos presos.
Sarney: O importante agora, se nós pudermos votar, que só pode fazer delação, é só solto.
Renan: Que só pode solto, que não pode preso. Isso é uma maneira sutil que toda sociedade compreende que isso é uma tortura.
Em outra conversa com Sérgio Machado, em que foi discutida a delação de executivos da Odebrecht, o ex-presidente José Sarney cita uma tentativa de acordo geral para barrar a operação.
Sarney afirma: A Odebrecht (...) eles vão abrir, vão contar tudo. Vão livrar a cara do Lula. E vão pegar a Dilma. Porque foi com ele, quem tratou diretamente sobre o pagamento do João Santana foi ela. Então eles vão fazer. Porque isso tudo foi muito ruim pra eles. Com isso não tem jeito. Agora precisa se armar. Com vamos fazer com essa situação? A oposição não vai aceitar. Vamos ter que fazer um acordo geral com tudo isso.
Sérgio Machado acrescenta: Inclusive com o Supremo. E disse com o Supremo, com os jornais, com todo mundo.
Sarney responde: Supremo. Não pode abandonar.
Para os investigadores, a tentativa de interferir na Lava Jato não deu certo. Eles estão analisando dezenas de gravações consideradas comprometedoras entregues por Sérgio Machado.
A partir de agora, caberá ao procurador-geral da República fazer os pedidos de investigação. Ele vai decidir quais provas podem levar a novas frentes, e quais podem ser incluídas em inquéritos em andamento.
Conversa com Sarney
Sérgio Machado gravou várias horas de conversa. Em uma delas, visitou com um gravador escondido, o ex-presidente José Sarney enquanto ele se recuperava de um problema de saúde.
Em dezembro de 2015, Sérgio Machado foi alvo de buscas na Lava Jato.
Confessou aos investigadores que, depois disso, teve medo de se tornar alvo de delatores.
Sérgio Machado também contou que tinha medo de ser preso. A essa altura, o Supremo Tribunal Federal já havia autorizado prisões de pessoas condenadas em segunda instância. E decidiu gravar conversas com políticos importantes. Começou a marcar encontros, um deles com o ex-presidente e ex-senador José Sarney. Sarney estava em recuperação, em casa, depois que levou uma queda.
Neste trecho gravado entre fevereiro e março, os dois especulam sobre política. Dizem que Dilma Rousseff vai acabar caindo, especialmente depois do seu marqueteiro João Santana ter sido preso. E Michel Temer também.
Machado: Estamos num momento, numa quadra, presidente, complicadíssima.
Sarney: Eu não vejo solução nenhuma.
Machado: Só tem uma solução, presidente, é ela sair.
Sarney: Ah! Sim.
Machado: A única solução que existe. E ela vai sair por bem ou por mal porque a economia nenhuma não vai aguentar.
Sarney: Não. Ela vai sair de qualquer jeito.
Machado: Qualquer jeito.
Sarney: Agora não tem jeito. Depois desse negócio do Santana, não tem jeito.
Machado: Vai sair o Michel, o que é o pior.
Sarney: Michel vai sair também.
A conversa continua com especulações sobre quem venceria uma eventual eleição. Eles dizem que no final quem vai assumir a Presidência será Eduardo Cunha, mostrando que os dois não tinham ideia do que estava prestes a ocorrer na política. A conversa foi em março. Cunha caiu antes mesmo de Dilma ser afastada com o processo de impeachment.
Machado: Saindo o Michel e aí como é que fica? Quem assume?
Sarney: Eleição. E vai ter muito, um Joaquim Barbosa desses da vida.
Machado: Ou um Moro. O Aécio pensa que vai ser ele, não vai ser não.
Sarney: Não, não vai ser ele, de jeito nenhum!
Machado: E quem que assume a Presidência, se não tem ninguém?
Sarney: O Eduardo Cunha.
Machado: E ele não vai abrir mão de assumir, não.
Sarney: Não. No Supremo não tem. Não tem ninguém que tenha competência pra tirá-lo. Só se cassarem o mandato dele. Fora daí, não tem. Como é que o Supremo vai tirar o presidente da Casa?
Numa conversa entre Machado e o senador Romero Jucá, o agora ex-ministro do Planejamento relata como teria convencido o PSDB a aderir ao impeachment. Até então, o partido era favorável a esperar a decisão do TSE, que julga as irregularidades nas contas de campanha de Dilma e Temer. Se a chapa for condenada, haveria novas eleições. Na época, essa era vista pelos tucanos como a melhor saída para a crise. Jucá disse que alertou que ninguém conseguiria ganhar eleição defendendo reformas necessárias, mas impopulares, para sair da crise econômica.
Machado: Falar com o Tasso, na casa do Tasso. Eunício, o Tasso, o Aécio, o Serra, o Aloysio, o Cássio, o Ricardo Ferraço, que agora virou psdbista histórico. Aí, conversando lá, o que é que a gente combinou? Nós temos que estar junto para dar uma saída pro Brasil (inaudível), e se não tiver... Eu disse lá, todo mundo, todos os políticos (inaudível) tão ***, entendeu? Porque (inaudível) disse: Não TSE, se cassar... Eu disse: Aécio, deixa eu te falar uma coisa: se cassar e tiver outra eleição, nem Serra, nenhum político tradicional ganha essa eleição, não. Lula, Joaquim Barbosa. Porque na hora dos debates vão perguntar: Você vai fazer a reforma da Previdência? O que é que tu vai responder? Que vou. Tu acha que ganha eleição dizendo que vai reduzir aposentadoria das pessoas? Que vai ganhar é que fizer a maior bravata. E depois não governa, vai ficar refém da bravata, nunca vai ter base partidária. Esqueça.
Num outro trecho, Sarney e Machado reclamam que Dilma insiste em permanecer no governo diante da crise política e econômica. Sarney diz que não só empresários e políticos devem pagar pelos malfeitos na Petrobras. Mas o governo também.
Sarney: Ela não sai. Resiste. Diz que até a última bala.
Machado: Não tem rabo, não tem nada.
Sarney: Acha que não tem rabo. Tudo isso foi... É o governo, meu Deus! Esse negócio da Petrobras são os empresários que vão pagar, os políticos! E o governo que fez isso tudo?
Machado: Acabou o Lula, presidente
Sarney: O Lula acabou. O Lula, coitado, ele está numa depressão tão grande.
Machado: O Lula. E não houve nenhuma solidariedade da parte dela.
Eles criticam as nomeações feitas pelo governo de ministros do Supremo Tribunal Federal. E o juiz Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava Jato.
Sarney: E com esse Moro perseguindo por besteira.
Machado: Presidente, esse homem tomou conta do Brasil. Inclusive, o Supremo fez porque é pedido dele. Como é que o Toffoli e o Gilmar fazem uma p*** dessa? Se os dois tivessem votado contra não dava. Nomeou uns ministros de m*** com aquele modelo.
Sarney: Todos.
A conversa continua. Eles reclamam que ninguém se manifesta contra as decisões de Sérgio Moro. Criticam as decisões da Justiça que estão combatendo a corrupção. Classificam a situação como uma ditadura da Justiça.
Machado: Não teve um jurista que se manifestasse. E a mídia tá parcial assim. Eu nunca vi uma coisa tão parcial. Gente, eu vivi a revolução. Não tinha esse terror que tem hoje, não. A ditatura da toga tá f***.
Sarney: A ditadura da Justiça tá implantada, é a pior de todas!
Machado: E eles vão querer tomar o poder. Pra poder acabar o trabalho.
Na conversa, Machado demonstra o grau de dissimulação a que estava disposto para conseguir que sua delação fosse aceita pelos procuradores. Ele, que estava grampeando a própria conversa com Sarney, pede que o ex-presidente marque um encontro com Renan em um lugar livre de grampos.
Machado: Faz uma ponte que eu possa, que é melhor porque tá tudo grampeado, Tudo essas coisas. Isso é ruim.
As gravações que foram feitas por Sérgio Machado com o ex-presidente José Sarney, com o senador Romero Jucá, e com o presidente do Senado, Renan Calheiros, conhecidas até agora são dominadas por um assunto, as tentativas de barrar a Operação Lava Jato e obstruir a Justiça. Mas o tema principal da delação premiada de Machado é outro: os desvios de dinheiro da Transpetro para políticos ao longo de mais de dez anos e isso será conhecido em detalhes à medida em que forem divulgados os depoimentos de Sérgio Machado aos investigadores. Aí ficará claro porque tanta preocupação com o que Machado tem a dizer.
(...)
Em nota, o Instituto Lula declarou que quem tem de explicar essas notícias são os que o instituto chama de “beneficiários da aliança entre os partidos golpistas e os setores mais corruptos da política brasileira”. O instituto afirma que foram eles que afastaram a Dilma Rousseff, com o objetivo, segundo o instituto, de controlar as instituições, barrar a Operação Lava Jato e restabelecer a impunidade.
A presidente afastada, Dilma Rousseff, disse que todos os pagamentos feitos ao publicitário João Santana foram regulares e contabilizados na prestação de contas apresentadas à Justiça Eleitoral. Que estranha que pessoas que não participaram da coordenação da campanha ou da tesouraria possam ter informações sobre pagamentos e arrecadações, o que segundo ela, mostra que a origem dessas informações não tem nenhuma credibilidade. Por fim, Dilma diz que a tentativa de envolver seu nome em situações de que nunca participou são escusas e demonstram interesses inconfessáveis.