Mas o advogado do ex-diretor da estatal confirmou as suspeitas de que Augusto Mendonça Neto tenha fechado um acordo, ao explicar que, assim como no Brasil, acordos de delação nos EUA têm uma "
" que impede o interessado de informar se existem ou não negociações.
Já Paulo Roberto Costa confirmou à defesa de Lula que, sim, fechou um acordo de colaboração com órgãos norte-americanos, com o auxílio da Procuradoria-Geral da República. Costa confirmou que houve duas reuniões com autoridades dos Estados Unidos e do Brasil, em conjunto.
"Gostaria de saber se o senhor está colaborando com algum órgão americano em relação aos fatos discutidos nesta ação", afirmou Zanin. "Foi assinado um documento de colaboração com o aval da Procuradoria-Geral da República, mas eu não posso entrar em detalhes, porque é sigiloso", disse Costa.
O ex-executivo da Petrobras foi o que trouxe mais detalhes sobre a atuação do Ministério Público Federal (MPF) junto a delatores da Operação Lava Jato para colaborar com o Departamento de Justiça e a Polícia Federal norte-americana FBI em investigação contra a estatal:
Cristiano Zanin: O senhor pode dizer quantas vezes o senhor viajou aos Estados Unidos para fazer esse acordo?
Paulo Roberto Costa: Nenhuma.
Cristiano Zanin: O acordo foi feito no Brasil?
Paulo Roberto Costa: O acordo foi feito no Brasil.
Cristiano Zanin: Como esse processo ocorreu, em língua portuguesa, inglesa, ou ambas?
Paulo Roberto Costa: Ambas.
Cristiano Zanin: Além do advogado do senhor e dos órgãos americanos, evidentemente, participou mais algum agente público brasileiro?
Paulo Roberto Costa: Das reuniões, sim.
Cristiano Zanin: O senhor pode declinar quem são essas pessoas?
Paulo Roberto Costa: Nome não tenho no momento.
Cristiano Zanin: Sabe declinar o cargo que elas exercem?
Paulo Roberto Costa: Pessoas ligadas à Procuradoria.
Cristiano Zanin: De Brasília ou de Curitiba?
Paulo Roberto Costa: Eu acredito que é de Brasília.
Cristiano Zanin: Quantas reuniões foram?
Paulo Roberto Costa: Acho que foram duas reuniões, uma ou duas.
Cristiano Zanin: Já se encerrou a colaboração ou continua em curso?
Paulo Roberto Costa: Como foi dito aqui, se assinou o documento, para no momento apropriado se aprofundar, é um documento muito genérico, vai se aprofundar no momento adequado.
Questionado sobre o acordo fechado pelo ex-diretor da Petrobras com as as investigações da Promotoria de Justiça norte-americana, enviando documentos e prestando depoimentos em ações daquele país contra a estatal brasileira, Luiz Alberto Moniz Bandeira fez uma reflexão inversa: "se ele fosse cidadão americano e estivesse a colaborar com a Polícia Federal e o Ministério da Justiça do Brasil, contra uma empresa estatal ou mesma privada dos Estados Unidos, lá seria provavelmente execrado".
"E, no Brasil de outro, Calabar foi enforcado por haver colaborado com as forças de ocupação da Holanda. Judas, por haver colaborado com os romanos e traído o Cristo, condenou-se a si próprio. E enforcou-se. Não sou a favor da pena de morte, mas tal cooperação se reveste de um caráter antinacional e teria de ser punida", continuou.
O historiador destacou que Costa, ou outros delatores da força-tarefa de Sérgio Moro, não são os primeiros a colaborar com o país norte-americano. "Em 1964 uma fração das Forças Armadas, em conexão com os Estados Unidos, derrubou o governo constitucional do presidente João Goulart. E, atualmente, são os responsáveis pela Operação Lava Jato, que contribuíram para o golpe do impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, efetuado pelo Congresso, com a conivência de ministros de tribunais superiores e o respaldo da mídia corporativa", concluiu.