Bermudes já foi um Barroso na vida de Gilmar
O Conversa Afiada reproduz a imperdível Rosa dos Ventos, de Mauricio Dias:
Gilmar não sai de cena
Gilmar Mendes, ministro do STF, e o advogado Sergio Bermudes são hoje bons amigos. Nem sempre foi assim. Para chegar a um ponto de camaradagem profunda, como hoje, tiveram de cruzar obstáculos e interesses. Em agosto de 2000, por exemplo, desentenderam-se. Gilmar era apenas um burocrata na pele de Advogado-Geral da União. Bermudes, advogado processualista renomado.
Uma medida provisória criada na AGU abriu um abismo entre os dois. Bermudes atacou a medida. Gilmar reagiu. O conflito começou assim: “Já se percebe que o doutor Sergio Bermudes tem pouca familiaridade com a Constituição (...) Ele é conhecido como um grande processualista e, certamente, não tem vivência na área constitucional (...)”
Em resposta, Bermudes distribuiu a carta enviada a Gilmar. Trechos da missiva: “Você agrediu-me brutalmente (...) e conspurcou a dignidade do cargo que imerecidamente ocupa (...).
(...) foi insolente e grosseiro. Desgastou-se ‘doesto oco’ (...) qualificou-me, perfidamente, de ‘grande processualista’ para dar o bote que veio logo depois: ‘... a rigor, processualista e chicanista hoje se igualam’.
Parece que, nos lugares onde você fez seus altos estudos, não lhe ensinaram, nem ali nem alhures, que é feio ser mal-educado (...) Você, Gilmar, foi ridículo na afirmação e cômico na expressão, exibindo a ‘fauce’ carregada para suprir ira o que lhe faltou de sensatez.
Você não explicou por que processualista e chicanista se igualam (...) o seu desassisado pegou não só a mim, como também outros processualistas (...) jamais ocorreria dizer, por exemplo, que Advogado-Geral da União e sandeu hoje se igualam.
E, por último, ainda na mesma entrevista (você disse) esta cretinice: ‘Eu não gostaria de estar perdendo tempo com este tipo de coisa (...) eu espero é que os juristas da envergadura de Bermudes tratem do tema com a devida seriedade e não façam o Advogado-Geral da União, que tem responsabilidade, perder tempo com chicanas’.
Insistindo em mostrar as patas, você, muito obviamente, questionou a minha seriedade profissional e, claramente, atribuiu-me, ainda uma vez, a prática de chicanas, ao manifestar a esperança de que juristas da ‘envergadura de Bermudes’ – minúscula, no seu desprezível juízo, pelo que se dessume dos seus comentários anteriores – se abstivessem de com elas perder o tempo majestático de Advogado-Geral da União, que, seguramente, o gastará com os ucasses, e bem poderia aproveitá-lo estudando boas maneiras.
A sua esperança me dá todo o direito de manifestar-lhe a minha, no sentido de que você deixe o cargo que ocupa e que não merece por causa do seu desequilíbrio, do seu destempero, da sua leviandade, e que abdique da sua propalada pretensão de alcançar o Supremo Tribunal Federal, onde se requer, mais do que um curso no exterior, reflexão de serenidade, em vez do açodamento e da empáfia que você exibe”.
Não se sabe se Bermudes foi à Justiça. Sabe-se que Gilmar chegou ao STF em 2002, indicado pelo presidente FHC.