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Bolsonaro fala em empregos; Exército conta sepulturas

Auler: militares têm mais consciência do tamanho da crise
publicado 16/04/2020
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Do Blog do Marcelo Auler - Enquanto o presidente Jair Bolsonaro insiste em falar de empregos e defender a flexibilização do isolamento social, o Exército brasileiro – do qual ele, ao menos teoricamente, é comandante em chefe -, está preocupado em saber quantas sepulturas o Brasil dispõe e qual a disponibilidade de sepultamentos diários em cada um dos municípios brasileiros.

Tal preocupação demonstra que os militares estão muito mais conscientes de que a crise sanitária ainda se agravará. No entendimento do prefeito de Três Rios, município da região serrana fluminense, Josimar Salles (PDT), o levantamento estatístico demonstra que o Exército teme a “possibilidade de um caos na nossa saúde pública”.

 

Cópia do ofício circular do Chefe da Seção de Serviço Militar, coronel Luís Mauro Rocrigues Moura
Cópia do ofício circular do Chefe da Seção de Serviço Militar, coronel Luís Mauro Rocrigues Moura, foi encaminhada ao prefeito de Três Rios (RJ), Josimar Salles (PDT).(Photo: Reprodução)


A notícia deste “levantamento estatístico” foi tornada pública nesta quinta-feira (16/04) por Salles, em seu Facebook. Ele revelou a cópia do ofício circular DIEx nº 185-SubSeçCons/SeçSvMil/Cmdo 1ª RM (reprodução acima), assinado pelo coronel Luís Mauro Rodrigues Moura, chefe da Seção de Serviço Militar. Neste ofício – “datado do dia 09 de abril de 2020, em caráter URGENTISSIMO” -, o coronel recomenda aos chefes dos Postos de Recrutamento e Mobilização das conhecidas Juntas de Serviço Militar (JSM) que busquem tais informações junto às prefeituras.

O levantamento certamente se respalda no que aconteceu, e ainda acontece, em outros países onde corpos foram deixados nas residências por vários dias antes de serem recolhidos. Houve casos ainda de caixões ficarem amontoados até em igrejas, por falta de capacidade de enterra-los rapidamente. Na cidade de Guayaquil, no Equador, por impossibilidade de fabricarem caixões de madeira para atender toda a demanda, caixas de papelão foram utilizadas nos enterros de muitas das vítimas do coronavírus.

Por conta da obrigatoriedade do alistamento militar dos jovens aos 18 anos, as JSMs se espalham por todo o território brasileiro. Normalmente funcionam em prédios das próprias prefeituras. Logo, tornam-se os órgãos do Exército mais capazes de prontamente levantarem as informações pedidas. 

Como o prefeito Salles anunciou na live no Facebook (ouça o vídeo abaixo), o coronel Moura pede de forma clara a informação da capacidade de sepultamentos em cada cidade. É o primeiro item do seu ofício circular:

“Em atenção ao documento contido na referência, solicito aos Senhores Chefes de Postos de Recrutamento e Mobilização, com apoio das Juntas de Serviço Militar, que seja realizado um levantamento de dados estatísticos referentes a quantidades de cemitérios, disponibilidade de sepulturas e capacidade de sepultamento diários, em suas respectivas áreas de responsabilidade“.

O próprio ofício informa que tais informações “são para fim de consolidação e resposta ao departamento geral do pessoal, com relação referente à pandemia COVID-19”. O documento não especifica as razões de os dados serem encaminhados a um “departamento geral do pessoal”, muito provavelmente do Exército.

Salles explica no vídeo que “como prefeito da cidade de Três Rios estamos tomando todas as medidas necessárias para preservar vidas, para salvar vidas. Temos a plena consciência do sacrifício e das dificuldades que nós estaremos enfrentando nos próximos meses e, quem sabe, até nos próximos anos”.

Respaldando-se no documento recebido, remetido por “uma instituição das mais respeitadas no Brasil, o Exército brasileiro”, Salles garantiu que não irá, “de forma alguma, afrouxar as nossas medidas”. Justificou sua posição, mostrando que o próprio levantamento que o Exército está fazendo, demonstra que o pior ainda está por acontecer.

“Se o Exército está perguntando isso é porque estão fazendo o levantamento estatístico justamente diante da possibilidade de um caos na nossa saúde pública. Não apenas no Brasil, mas como estamos acompanhando, no mundo”.