Brito, os corvos e os gambás
O Conversa Afiada reproduz artigo de Fernando Brito, no Tijolaço:
O corvo e os gambás
Não costumo falar grosseiramente de pessoas, inclusive de adversários políticos.
Não sei se por herança de meu avô, com quem não se sentava à mesa de camisa aberta ou se falava palavrões, em sua casa no Iapi de Realengo.
Mas recordo-me de um dia, em que ele me levava a passear – meus pais já moravam no Méier – e por um acaso havia um pequeno comício de inauguração da “Radial Oeste”, avenida que continuaríamos a chamar de Rua Hermengarda.
E no palco, falava Carlos Lacerda, governador da Guanabara, anos antes algoz de Getúlio Vargas.
Pela primeira vez vi os olhos de meu avô vidrarem-se e as palavras saíram entre dentes: Corvo filho da puta!
Hoje senti algo semelhante. Não por todos os que foram dar seu tiro na cambaleante democracia brasileira. 40 anos de política já não fazem novidade para mim os tipos assim.
Mas por dois homens que apoiei ou defendi em alguma época na vida: Cristovam Buarque e Telmário Mota.
O odor que se desprende de suas atitudes é nauseante.
E eles próprios encarregaram-se de mostrar, com seus votos, o quanto são falsos, sorrateiros, oportunistas.
E covardes, ao ponto de nem sequer assumirem os negócios e arranjos que justificaram sua sabujice.
Ao votarem contra a aplicação da pela de afastamento da função pública de Dilma Rousseff fizeram aflorar sua própria podridão.
Se Dilma não merece ser punida – como é razoável que fosse – com a pena a quem atenta contra a Constituição, como é que pode ser afastada do cargo que ocupa pela vontade do eleitor e que só naquele caso, legalmente, poderia perder?
Não tiveram “pena” da Presidenta, tiveram um gesto de suposta piedade por si mesmos.
O remorso põe a perder o traidor, o assassino, que acha que flores ao enterro podem mitigar sua perfídia e faze-los parecer doloridos ante o cadáver.
Veio à memória a sinceridade daquele “Corvo filho da puta” que ouvi aos seis, sete anos de idade.
Embora reconheça que amos não são corvos.
São e serão, para todo sempre, gambás.
Figuras nauseantes aonde quer que suas miseráveis existência os levem, seja aos confortos da Unesco, seja aos cargos de Roraima.