Carina, da UNE: cidade linda é cidade ocupada
O Conversa Afiada publica a coluna de Carina Vitral, presidenta da UNE:
Tem sido noticiado com certo destaque na chamada grande imprensa o crescimento do carnaval de rua do Brasil em cidades que antes não eram reconhecidas pela folia dos blocos. Entre elas, a mais marcante no momento é São Paulo, metrópole que abraçou de fato a festa nesse formato popular e democrático, que levará milhões de pessoas às ruas durante o feriado. O número de blocos na capital paulista não para de aumentar, assim como a participação da população.
Não deixa de ser curioso que o carnaval mais amplo e colorido que a cidade já viu aconteça exatamente no momento em que a nova gestão da prefeitura municipal apresente o silêncio, o esvaziamento e o descolorido como seu cartão de visita, apagando a arte urbana, prometendo retirar do centro eventos como a virada cultural, prometendo uma tal cidade linda que é, na prática, uma cidade morta.
É a prova de que a onda conservadora do discurso de alguns políticos não está sintonizada com o que as pessoas realmente querem. A população do Brasil, cada vez mais quer é ocupar os espaços públicos, quer vida cultural nas ruas, pra ver, ouvir, compartilhar. Cidade linda é cidade ocupada.
O mesmo movimento de afirmação carnavalesca de São Paulo já foi realizado por outras cidades que também eram vistas como “túmulos” da festa. Em Belo Horizonte, nos últimos anos, a oposição à postura arbitrária do ex-prefeito de proibir manifestações culturais nos espaços públicos gerou uma reação de artistas, estudantes, que criaram ocupações criativas nas ruas e um carnaval que hoje é um dos maiores do país.
Brasília também tem passado por um crescimento exponencial dos blocos, mobilizados pela juventude e classe artística da cidade, que começa a levar suas pequenas multidões a espaços da capital federal antes desertos durante a folia. O fenômeno do carnaval de rua no Brasil, sem abadá nem área vip, organizado espontaneamente pela própria população, mostra que a cidade que os brasileiros querem não combina com o conservadorismo nem com o silenciamento.
A festa, inclusive, é momento também de questionar e criticar a atual situação do país. Um exemplo são as marchinhas que denunciam com criatividade as contradições do último período político. O “Baile do Cidadão de Bem” e “Solta o cano” são algumas que valem ser ouvidas.
A festa do Carnaval também pode ser uma forma de luta e de transformação das consciências. Ocuparemos mais esse espaço com alegria e criatividade, unindo a política e a cultura como movimentos dialógicos de avanço. Foi assim que realizamos, no começo do ano, a décima Bienal da UNE, em Fortaleza, com a presença de cinco mil jovens de todos os estados do país, em uma programação que mesclou a celebração cultural e a reflexão sobre os nossos rumos na defesa da democracia.
Estamos nas ruas. Não sairemos delas. Salve o Carnaval de rua do Brasil.