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Celso Amorim: abri embaixada sem ideologia

Diplomatas brasileiros morrem de vergonha!
publicado 08/06/2019
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Ex-ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, na Vigília Lula Livre em Curitiba.

Por Talita Marchao, no UOL:

Ideologia nunca definiu abertura de embaixadas do Brasil, diz Celso Amorim

Celso Amorim (PT), ex-chanceler do governo Lula (2003-2010), liderou o Itamaraty durante a expansão das embaixadas na África e no Caribe. Em entrevista ao UOL, o ex-ministro criticou o fechamento de cinco delas, criadas durante sua gestão.

"Nunca houve uma orientação dizendo 'vamos abrir sei lá quantas embaixadas na África ou onde tiver governo de esquerda'. Nunca existiu este tipo de cálculo. Elas foram abertas por interesse do país nessas regiões", afirmou o diplomata.

Nesta semana, o Ministério das Relações Exteriores confirmou o fechamento das embaixadas nas ilhas de Dominica e Antígua e Barbuda e o encerramento das atividades em Granada, São Vicente e Granadina e São Cristóvão e Nevis --todas abertas durante o governo Lula.

O Itamaraty, sob o comando de Ernesto Araújo, também avalia acabar com as atividades em países africanos, como Libéria e Serra Leoa. Por questões de segurança, a embaixada na Líbia está vazia, mas seu fechamento não está em discussão. A maior parte das missões diplomáticas abertas por Lula no exterior estavam em países africanos ou caribenhos.

"A embaixada brasileira na Zâmbia é um exemplo. Ela tinha sido fechada e a reabrimos porque é um país importante no contexto africano. Pouco tempo depois, a mineradora Vale ganhou a concorrência para explorar o cobre lá. Não dá para dizer que foi por causa da embaixada em si. Mas o Brasil estava lá, um presidente conversa com o outro presidente e isso cria um ambiente favorável para que os empresários se apresentem. Isso é ideológico? Não vejo nenhuma ideologia nisso", disse Amorim.

O ex-chanceler citou ainda avanços de negócios de empreiteiras no continente africano: "Depois da abertura das embaixadas, o Brasil passou a ganhar as concorrências. E não eram só as empreiteiras. Nunca entrei nos detalhes sobre como elas faziam as negociações. Isso não era da conta da diplomacia. Mas as empreiteiras brasileiras estavam todas presentes na África, grandes ou pequenas. Sim, algumas foram acusadas de corrupção, mas felizmente há outras que nunca foram envolvidas com nenhum esquema", afirmou.

Segundo Amorim, sob sua gestão o Itamaraty não buscava "nenhum objetivo ideológico". "A não ser que você defina como ideológico defender a soberania nacional, uma maior solidariedade entre os países em desenvolvimento. Este era o nosso interesse."

Ele destaca ainda que integrou os quadros da diplomacia brasileira durante os governos dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Itamar Franco --foi chanceler de Itamar e embaixador de FHC na ONU (Organização das Nações Unidas), presidindo reuniões do Conselho de Segurança enquanto o Brasil ocupava vaga de membro rotativo, e comandou a embaixada do Reino Unido até ser convidado por Lula para chefiar o Itamaraty outra vez.

Quando falam que a política externa do PT era partidária, é uma mentira. É claro que o partido influencia, como acontece nos EUA com o Partido Democrata ou o Republicano. Mas a política externa brasileira, tanto no governo Lula quanto no governo FHC, tanto no Sarney ou no Collor, todos os que acompanhei como diplomata, seguiam princípios da Constituição brasileira
Celso Amorim, ex-ministro das Relações Exteriores

Ele, que também foi ministro da Defesa no governo de Dilma Rousseff (PT), afirma que alguns "interesses de desenvolvimento foram defendidos com maior ênfase" durante o governo de Lula. "Mas também não vou dizer que no governo do Fernando Henrique não houve esta defesa. Aliás, participei de muitas coisas das quais tenho muito orgulho no governo FHC. Tive muitas críticas também, poderia não concordar, mas eu não tinha vergonha do que era feito na diplomacia", afirmou.

Perguntado se hoje sentia vergonha, Amorim desconversou: "Acho que quem tem vergonha da política externa brasileira hoje são os diplomatas brasileiros. Eu não me sinto representado, mas acho que é um pesadelo que vai passar".

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