Ciro a Cruvinel: é preciso ter paciência
Por Tereza Cruvinel, no Jornal do Brasil:
Neste momento preliminar da disputa presidencial, os candidatos melhor posicionados nas pesquisas ainda são prisioneiros de problemas diversos que inibem seus movimentos, contribuindo para a nebulosidade ainda forte do quadro. O ex-presidente Lula é favorito mas vive a situação mais dramática, podendo ser preso em breve caso o STF siga na postura de Pilatos, não revendo a questão das prisões pós-segunda instância. Geraldo Alckmin, precisa decolar urgentemente mas vive administrando as querelas internas do PSDB. Marina Silva, em terceiro lugar, mas carente de recursos e alianças, encaramujou-se. “Eu sou o único que está com a situação resolvida, e venho transformando em energia militante minha revolta com tudo o que estão fazendo contra o Brasil” – diz o candidato do PDT, Ciro Gomes. Contraponho que Jair Bolsonaro também está livre e solto, aspergindo seu discurso de violência e ódio. Mantém o segundo lugar nas pesquisas apesar das apostas de que se desmanchará no curso da campanha. Como ninguém lhe dá combate, não existe o risco real de que ele chegue ao segundo turno? Resposta de Ciro:
- Bolsonaro precisa ser removido da disputa pra o bem da democracia brasileira mas a tarefa de lancetar o tumor é do Alckmin. No campo da direita, Alckmin está bloqueado por Bolsonaro, e ainda tem que se livrar das ciladas tucanas. É Fernando Henrique lançando Huck, é Dória inventando prévias e dinamitando a aliança com o PSB, um ninho de cobras que conheço bem. Mas Bolsonaro vai se desmanchar quando começar o antagonismo. Ninguém ganha eleição dinamitando todas as pontes. Espero disputar o segundo turno com Alckmin.
Nessa conversa com a coluna, não houve ataque a Lula, só lamentos pelo que lhe pode acontecer. Mas lembro que no PT se diz que, mesmo com Lula preso e impedido de participar da campanha, não haverá apoio a Ciro. Ele suspira: “É preciso ter paciência, e estou tendo. Há um segmento do PT que não pensa no país nem no próprio Lula. Usam o Lula para eleger governadores e deputados. Mas Lula está certo em se manter candidato e tem minha compreensão, embora isso bloqueie meu crescimento. Tudo vai ter sua hora. Impedido de concorrer, não creio que só crismando um candidato ele o levará ao segundo turno. Tudo vai ter sua”, diz Ciro.
Marina, ele acha que está se anulando e se despersonalizando na medida em que se afasta da cena política. E os outros ele considera, por ora, figurantes em busca de um papel: Temer, Rodrigo Maia, Meirelles, Álvaro Dias e todos mais. Enquanto isso, diz que já ganhou a estrada, começará a percorrer o país enquanto sua equipe técnica elabora o programa de governo. Dela, destaca três nomes: Nelson Marconi, professor da FGV, Mauro Benevides Filho, secretário da Fazenda no Ceará e Mangabeira Unger, professor de Harvard, de volta ao Brasil para ajudar na campanha.
Mas o principal é crescer nas pesquisas e ele teve apenas 8% de preferência no último Datafolha. Ele acha que só se imporá como alternativa para a esquerda depois que a situação de Lula for resolvida. Só então, os votos do lulismo começariam a migrar para ele, hipótese que os petistas descartam: esgotadas as chances de Lula ser candidato, o nome por ele indicado seria o estuário natural do lulismo e de todos os indignados com a situação nacional. E mais intensamente se ele virar mártir, com a prisão. Com um petista no segundo turno, seria hora de conversar com o PDT, o PC do B e o PSOL.