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Coronel da PM ironiza jovem que perdeu visão

Ele também usa as redes sociais para atacar o PT
publicado 06/09/2016
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Da Carta Capital:

À frente da PM em atos, coronel ironiza manifestante que perdeu visão

Comandante de operações da Polícia Militar em diversas manifestações recentes em São Paulo, o tenente-coronel da PM Henrique Motta usou seu perfil no Facebook para ironizar a estudante Deborah Fabri, de 19 anos. Ferida por uma bomba da PM no protesto contra o governo Michel Temer na quarta-feira 31, em São Paulo, Fabri perdeu a visão do olho esquerdo.

A postagem de Henrique Motta é um compartilhamento de um tweet publicado pela página "Socialista de iPhone" do Twitter.

Na postagem, intitulada "Quem planta rabanete, colhe rabanete", o responsável pela publicação junta duas mensagens de Deborah Fabri, uma de novembro de 2015, na qual ela defende a "destruição em protesto de cunho político que tenha objetivos sólidos" e outro de quinta-feira 1º, no qual ela anuncia que perdeu a visão.

Henrique Motta não fez comentários próprios, mas compartilhou o comentário de um outro usuário, identificado como ex-funcionário da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, que chama a estudante de "tontona".

Deborah foi levada para o Hospital das Clínicas e, depois, recebeu atendimento no Hospital de Olhos, no bairro do Paraíso. A segunda instituição informou por nota que a paciente "foi internada em nosso serviço às 2h37 do dia 1º de setembro de 2016, com trauma na região da face, escoriações nas pálpebras e região malar esquerda, e lesão perfuro contusa no olho esquerdo".

De acordo com testemunhas e pessoas que ajudaram a estudante, ela foi atingida por estilhaços de uma bomba lançada pela PM. A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo não se posicionou sobre o caso.

O perfil de Motta é, em grande medida, aberto ao público. Em meio a compartilhamentos de fotos de turismo e de cerimônias oficiais, nas quais aparece fardado, Motta compartilha diversos conteúdos anti-PT.

Em 16 de março, Motta publicou uma imagem da bandeira do Brasil em tons de cinza e preto, com a palavra "luto" no alto, uma estrela vermelha (símbolo do PT) no centro e a inscrição "corrupção e safadeza" no lugar de "ordem e progresso". Seis dias antes, Motta divulgou uma foto de uma águia caçando uma cobra. A águia trazia o escudo da Polícia Federal e a cobra, o logo do PT.

Em 24 de abril, Motta compartilhou uma postagem do deputado estadual Marcel van Hattem (PP-RS), na qual ele comenta uma briga pública envolvendo o ator José de Abreu, ferrenho defensor do PT, e afirma que o "feminismo é apenas um movimento social pró-governo [do PT]".

Em março de 2015, Motta ironizou manifestantes contrários ao governo de Dilma Rousseff e postou uma imagem na qual se lia: "Manifestar-se a favor de Dilma: 35 reais. Contra: não tem preço". Em setembro de 2014, Motta compartilhou um "meme" no qual dizia que em sua casa Dilma Rousseff, então candidata do PT ao Planalto, tinha "0%" de votos.

No perfil do tenente-coronel Henrique Motta há espaço também para a divulgação de informações falsas. Em 20 de maio, ele divulgou uma capa falsa do periódico francês Charlie Hebdo com imagens e textos críticos ao governo Dilma e ao atores do filme Aquarius, que protestaram contra o impeachment no festival de Cannes.

Em 31 de agosto, Motta compartilhou foto do deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ), colunista de CartaCapital, na qual ele aparece com um cartaz com a inscrição "Se tiver impeachment eu saio do Brasil". Trata-se de uma montagem, mas Motta divulgou a imagem e escreveu "vamos cobrar".

Em resposta a CartaCapital, a assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo informou que a Polícia Militar "respeita a liberdade de expressão e o direito de opinião, desde que não configure crime", e que isso "vale também para os seus integrantes".

No caso do tenente-coronel Motta, diz a nota, "não há indícios de que as suas opiniões tenham em algum momento interferido em seu trabalho técnico, que tem se mostrado isento e imparcial". De acordo com a SSP, "o fato de ter e de expressar uma opinião política não implica em ações parciais, tanto é que inúmeros jornalistas, por exemplo, manifestam nas redes sociais posicionamentos políticos, mas não deixam de exercer suas funções nos respectivos veículos de comunicação."