Covid-19: Bolsonaro não teve vontade nem competência para resolver, diz Lula
(Ricardo Stuckert)
Rede Brasil Atual - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar, nesta sexta-feira (19), a condução do enfrentamento à pandemia de covid-19 pelo governo federal. Segundo ele, o presidente Jair Bolsonaro não teve vontade política para tratar da questão. Na última terça-feira (16), completou três meses da primeira morte decorrente do novo coronavírus, no país.
“Passados 90 dias, a gente não tem uma coordenação para um problema gravíssimo”, afirmou Lula em live com o ex-prefeito de São Paulo e ex-candidato à presidência, Fernando Haddad. Lula alertou que a covid-19, que entrou no país pelas classes mais ricas, atualmente, está matando os mais pobres, principalmente. “Teria sido resolvido se o governo tivesse demonstrado vontade para resolver.”
Lula criticou as constantes trocas de ministros na Saúde. Segundo ele, Nelson Teich era um empresário que não entendia de saúde pública. Foi substituído pelo general Eduardo Pazuello, que não também não é da área. “O Brasil está há quase 70 dias sem um especialista”, criticou.
Para Haddad, um isolamento social bem feito, que não fosse sabotado pelo atual presidente, seria muito mais curto e mais eficaz. Hoje, o Brasil ocupa o segundo lugar em mortos pela pandemia no planeta. E enfrenta o risco, segundo ele, de ter que enfrentar uma quarentena ainda mais dura, em diversas regiões do país, por conta do avanço da doença.
Sem bom senso
“Faltou quem tivesse competência para discutir a gravidade do assunto”, comentou Lula. “Era preciso chamar o ministro da Saúde e pedir para ele montar uma equipe científica, para orientar o que deveria ser feito.” Ele comparou a condução do governo federal a uma locomotiva, que apontasse os caminhos para os estados. “O que acontece é que esse governo não confia em ninguém e quando os governadores quiseram cuidar por conta própria dos seus doentes, o governo os transformou em inimigos.”
Além do comitê científico, Lula afirmou que criaria um “fundo”, que garantisse o pagamento do auxílio emergencial. Haddad lembrou que a proposta inicial do governo Bolsonaro era o pagamento de apenas R$ 200 mensais. Graças ao PT, que chegou a propor um salário mínimo, e aos demais partidos da oposição, foi possível garantir o valor de R$ 600.
Além de sabotar o isolamento, pregando a desobediência às medidas de isolamento, e dos choques com os governadores, Bolsonaro desafiou o “bom senso”, segundo Lula. Ele também destacou que se o SUS não tivesse sofrido cortes no Orçamento nos últimos dois anos, seria possível salvar muito mais gente.
Coronavírus afeta mais pobres
O ex-presidente voltou a citar estudo do site Medida SP que aponta que, na Grande São Paulo, 66% das vítimas viviam em bairros com salários médios abaixo de R$ 3 mil. Cerca de 90% delas viviam em regiões com rendimento médio de até R$ 6 mil.
“Agora o vírus está disseminado, matando prioritariamente os pobres. São pessoas que tem que pegar o trem lotado, o ônibus lotado, que têm que trabalhar em locais que não estão sendo higienizados. Vai ser na favelas, nos bairros periféricos, que a doença vai pegar. E quem vai cuidar dessa gente? A rede pública.”
Sem educação
Também sobraram críticas ao ex-ministro da Educação Abraham Weintraub, que deixou o cargo nesta quinta (18). Segundo Lula, Bolsonaro “não gosta da educação” e Weintraub, uma pessoa “rancorosa”. “Ele é grosseiro em tudo. Parece que tem ódio dele mesmo. Ele não entende de educação, jamais poderia ser ministro.”
Por outro lado, o ex-presidente saudou Haddad como o melhor nome a passar pelo cargo. Destacou a ampliação de vagas no ensino universitário, bem como os investimentos em pesquisa. “Pegamos com 4 milhões de alunos e fomos a 8 milhões. Se tivéssemos continuado, certamente já teríamos 12 milhões ou mais de alunos nas universidades.”