Delegacia do Rio coage miliciano a confessar que matou Marielle
Pai e mãe de Marielle Franco, em vídeo divulgado pela Anistia Internacional (Reprodução/YouTube)
De Chico Otavio (excelente repórter) e Vera Araújo, na Globo Overseas (empresa que tem sede na Holanda para lavar dinheiro e subornar agentes da FIFA com objetivo de ter a exclusividade para transmitir os jogos da seleção):
Orlando Curicica diz estar sendo coagido a assumir morte de Marielle e investigação pode ser federalizada
A investigação da morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes pode sofrer uma reviravolta. Preso na Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte, o miliciano Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando da Curicica, apontado pela polícia como o principal suspeito do crime, prestou depoimento à Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão do estado potiguar, afirmando estar sendo coagido pela Delegacia Homicídios da Capital (DH-Capital) a assumir a execução do duplo homicídio. O novo depoimento de Curicica já está no gabinete da procuradora-geral da República, Raquel Dodge. Se entender que a investigação está sob suspeita, ela pode vir a pedir a federalização do caso. Procurada, a Secretaria Estadual de Segurança disse que não vai se pronunciar.
Se o caso sair da esfera da polícia fluminense, o crime passará a ser investigado pela Polícia Federal. Enquanto estava preso no Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, no Rio, Curicica chegou a pedir para ser ouvido pelo Ministério Público Estadual e à Corregedoria Geral Unificada (CGU), para contar que estava sendo pressionado a assumir um crime que diz não ter cometido, mas ninguém lhe deu atenção. Em Mossoró, ele fez o mesmo pedido ao juiz federal Walter Nunes, corregedor da Penitenciária Federal de Mossoró, que levou o caso para procuradora-regional dos Direitos do Cidadão, Caroline Maciel. (...)
Curicica denunciou que os policiais da DH Capital estariam oferecendo benefícios para que ele assumisse o crime. No depoimento, que está sob sigilo, ele admitiu que teve um “encontro casual” com Marcello Siciliano, num restaurante do Recreio dos Bandeirantes, em junho do ano passado, mas nega que tenha falado sobre Marielle. A DH, baseada no depoimento da principal testemunha do caso, um policial militar que trabalhava para o miliciano, quer que Curicica confirme um diálogo entre ele e o vereador, relatado pelo delator. (...)
Ao ver a gravidade da denúncia de Curicica, a procuradora regional encaminhou o depoimento dele para a procuradora federal dos Direitos do Cidadão, Deborah Duprat, que, ao avaliar a gravidade do assunto, enviou o caso à procuradora-geral da República, Raquel Dodge. De acordo com o Artigo 109 da Constituição Federal, nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, Raquel Dodge, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal.