Dilma: isso é um governo provisório
Foram quinze meses de sabotagem!
publicado
13/05/2016
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Ela vai às ruas defender 54 milhões (Foto: Eraldo Peres AP)
No El País:
Dilma: “Nós vamos lutar para voltar”
Em seu primeiro dia afastada, Rousseff atendeu jornais estrangeiros e criticou a composição ministerial de Temer
No rodízio estabelecido por Dilma Rousseff ao entrar na sala era a vez do advogado José Eduardo Cardozo, seu defensor, responder às questões dos jornalistas estrangeiros. “Fazer uma aliança com o PMDB lá atrás não foi um erro?”, perguntou um dos repórteres, com um português arrastado. Cardozo ensaiava uma resposta, enquanto os jornalistas que sentavam ao redor da presidenta afastada perceberam seu sorriso espremido, quase irônico.
- Eu já respondi as minhas cinco perguntas!, esquivou-se, entre risos.
Pouco mais de 24 horas depois de ser notificada pelo Senado de que não era mais a presidenta da República, cargo que exerceu nos últimos cinco anos e cinco meses, Rousseff oferecia uma coletiva de imprensa apenas para veículos internacionais –eram 21, de latino-americanos a europeus, passando por árabes, norte-americanos e um chinês. Era a primeira vez que falava com um grupo de jornalistas desde que deixou o Palácio do Planalto e a escolha de priorizar os estrangeiros não era casual: queria reforçar sua defesa para além das fronteiras brasileiras, numa estratégia desenhada pelo próprio Partido dos Trabalhadores de levar ao exterior a narrativa de "golpe".
Rousseff chegou à sala de reuniões do Palácio da Alvorada, onde os jornalistas a esperavam, às 13h28, ao lado de Cardozo, única figura política com quem havia se reunido no dia, algo incomum para o entra e sai de veículos que se costumava ver por ali. Parecia descansada, talvez quase aliviada, e estava de bom humor, mas falava com a firmeza que a caracteriza, organizando a ordem das perguntas a que responderia. Seriam quatro, disse ela. Mas acabaram sendo cinco. Parecia tentar querer manter a rotina de poder. Naquela manhã não andou de bicicleta, como de costume. Mas foi flagrada por fotógrafos em uma caminhada ao redor do Alvorada, residência oficial da Presidência da República, onde permanecerá até o julgamento final do processo de impeachment, que deve acontecer em até seis meses. O prédio fica em um amplo terreno com vistas para o Lago Sul, uma área nobre de Brasília, e seu vizinho mais próximo é o Palácio do Jaburu, residência de seu vice, o agora presidente interino, Michel Temer, que fica a menos de um quilômetro dali.
O sorriso de Rousseff à pergunta do jornalista já era a resposta. Nas últimas 24 horas ela viu, passivamente, desmoronar todo o Governo que montou um ano antes. Temer, do PMDB, se cercou de ministros bem distantes da visão progressista que o PT tentou imprimir nos últimos 13 anos. Não há uma única mulher entre os nomes anunciados. Nem um negro. “Há um problema claro de representatividade. Negros e mulheres são fundamentais se você quer, de fato, construir um país inclusivo”, disse Rousseff, que analisou o novo Governo como "liberal na economia e extremamente conservador na área de cultura e social". Ela ressaltou que seu afastamento é um "golpe de pessoas que querem utilizar da prerrogativa do impeachment para poder executar o programa de Governo que não foi aprovado nas urnas”, em referência velada ao PSDB, que perdeu as eleições presidenciais e agora faz parte do ministério de Temer.
“Há 15 meses sofremos toda sorte de sabotagem na tentativa de Governar”, disparou ela, para explicar o porquê das medidas anticrise não terem funcionado. Defendeu uma reforma política, que mude a necessidade de se fazer tantas alianças para se Governar. "Saímos de ter a necessidade de três partidos para fazer maioria [no Congresso], no Governo Fernando Henrique Cardoso, para cinco no Governo Lula, para sete no meu. "Acontece uma intensa fragmentação política. É muito difícil para o Brasil", explicou.
Nos próximos meses, a presidenta afastada afirmou que pretende se concentrar na própria defesa, mas disse que também estará disponível para participar de eventos em todo Brasil e no exterior, onde responderá de forma “transparente, aberta e límpida as razões que levaram a esse processo”. Por isso, disse, acredita que continuará sem muito tempo para sua vida pessoal neste período. Cardozo, por sua vez, afirmou que acredita que nesta etapa do processo de impeachment se discutirá se “há justa causa" para que ele ocorra. E disse que a questão deverá ser levada para o Supremo Tribunal Federal, mas não disse quando isso ocorrerá.
Questionada se acreditava que conseguiria voltar para seu mandato, Rousseff não respondeu. “O que se tem hoje no Brasil é um Governo provisório e uma presidenta eleita por 54 milhões de pessoas [afastada].". "Nós lutaremos para voltar.” Pouco depois das 18h, uma comitiva de carros de segurança cruzou o portão principal, com o veículo presidencial entre eles. Rousseff se dirigia à Base Aérea, de onde um avião a levaria para Porto Alegre, sua terra natal. O Palácio do Alvorada agora estava vazio.
No rodízio estabelecido por Dilma Rousseff ao entrar na sala era a vez do advogado José Eduardo Cardozo, seu defensor, responder às questões dos jornalistas estrangeiros. “Fazer uma aliança com o PMDB lá atrás não foi um erro?”, perguntou um dos repórteres, com um português arrastado. Cardozo ensaiava uma resposta, enquanto os jornalistas que sentavam ao redor da presidenta afastada perceberam seu sorriso espremido, quase irônico.
- Eu já respondi as minhas cinco perguntas!, esquivou-se, entre risos.
Pouco mais de 24 horas depois de ser notificada pelo Senado de que não era mais a presidenta da República, cargo que exerceu nos últimos cinco anos e cinco meses, Rousseff oferecia uma coletiva de imprensa apenas para veículos internacionais –eram 21, de latino-americanos a europeus, passando por árabes, norte-americanos e um chinês. Era a primeira vez que falava com um grupo de jornalistas desde que deixou o Palácio do Planalto e a escolha de priorizar os estrangeiros não era casual: queria reforçar sua defesa para além das fronteiras brasileiras, numa estratégia desenhada pelo próprio Partido dos Trabalhadores de levar ao exterior a narrativa de "golpe".
Rousseff chegou à sala de reuniões do Palácio da Alvorada, onde os jornalistas a esperavam, às 13h28, ao lado de Cardozo, única figura política com quem havia se reunido no dia, algo incomum para o entra e sai de veículos que se costumava ver por ali. Parecia descansada, talvez quase aliviada, e estava de bom humor, mas falava com a firmeza que a caracteriza, organizando a ordem das perguntas a que responderia. Seriam quatro, disse ela. Mas acabaram sendo cinco. Parecia tentar querer manter a rotina de poder. Naquela manhã não andou de bicicleta, como de costume. Mas foi flagrada por fotógrafos em uma caminhada ao redor do Alvorada, residência oficial da Presidência da República, onde permanecerá até o julgamento final do processo de impeachment, que deve acontecer em até seis meses. O prédio fica em um amplo terreno com vistas para o Lago Sul, uma área nobre de Brasília, e seu vizinho mais próximo é o Palácio do Jaburu, residência de seu vice, o agora presidente interino, Michel Temer, que fica a menos de um quilômetro dali.
O sorriso de Rousseff à pergunta do jornalista já era a resposta. Nas últimas 24 horas ela viu, passivamente, desmoronar todo o Governo que montou um ano antes. Temer, do PMDB, se cercou de ministros bem distantes da visão progressista que o PT tentou imprimir nos últimos 13 anos. Não há uma única mulher entre os nomes anunciados. Nem um negro. “Há um problema claro de representatividade. Negros e mulheres são fundamentais se você quer, de fato, construir um país inclusivo”, disse Rousseff, que analisou o novo Governo como "liberal na economia e extremamente conservador na área de cultura e social". Ela ressaltou que seu afastamento é um "golpe de pessoas que querem utilizar da prerrogativa do impeachment para poder executar o programa de Governo que não foi aprovado nas urnas”, em referência velada ao PSDB, que perdeu as eleições presidenciais e agora faz parte do ministério de Temer.
“Há 15 meses sofremos toda sorte de sabotagem na tentativa de Governar”, disparou ela, para explicar o porquê das medidas anticrise não terem funcionado. Defendeu uma reforma política, que mude a necessidade de se fazer tantas alianças para se Governar. "Saímos de ter a necessidade de três partidos para fazer maioria [no Congresso], no Governo Fernando Henrique Cardoso, para cinco no Governo Lula, para sete no meu. "Acontece uma intensa fragmentação política. É muito difícil para o Brasil", explicou.
Nos próximos meses, a presidenta afastada afirmou que pretende se concentrar na própria defesa, mas disse que também estará disponível para participar de eventos em todo Brasil e no exterior, onde responderá de forma “transparente, aberta e límpida as razões que levaram a esse processo”. Por isso, disse, acredita que continuará sem muito tempo para sua vida pessoal neste período. Cardozo, por sua vez, afirmou que acredita que nesta etapa do processo de impeachment se discutirá se “há justa causa" para que ele ocorra. E disse que a questão deverá ser levada para o Supremo Tribunal Federal, mas não disse quando isso ocorrerá.
Questionada se acreditava que conseguiria voltar para seu mandato, Rousseff não respondeu. “O que se tem hoje no Brasil é um Governo provisório e uma presidenta eleita por 54 milhões de pessoas [afastada].". "Nós lutaremos para voltar.” Pouco depois das 18h, uma comitiva de carros de segurança cruzou o portão principal, com o veículo presidencial entre eles. Rousseff se dirigia à Base Aérea, de onde um avião a levaria para Porto Alegre, sua terra natal. O Palácio do Alvorada agora estava vazio.