Dilma: perseguição a Lula faz parte do Golpe
O lawfare destrói as Democracias do continente
publicado
21/01/2018
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O Conversa Afiada reproduz, abaixo, trechos da entrevista da presidenta Dilma Rousseff ao Página 12, de Buenos Aires - o diário que, por sua oposição ao presidente Mauricio Macri, enfrenta pesada perseguição do governo argentino:
"A perseguição a Lula é mais uma das fases do Golpe"
(...) Página 12: Você falou em um Golpe contínuo, que se inicia com o fim de seu governo, em 2016. O julgamento da próxima quarta-feira será a última dessas etapas?
Dilma: Não, os responsáveis pelo Golpe estão preparando outras fases... Mas antes de falar sobre isso, deixe-me explicar o que acontecerá no TRF-4. O objetivo deste julgamento, sem provas, totalmente inconsistente, é impedir a candidatura de Lula. É por isso que o julgamento irá ocorrer em uma data incomum, no 24 de janeiro, durante o recesso do Judiciário. Eles querem acelerar o processo, pensando nas eleições de outubro. (...)
Os golpistas enfrentam uma verdadeira encruzilhada: eles precisam ganhar em outubro para dar legitimidade ao seu projeto político, mas não podem fazê-lo porque esse projeto possui um obstáculo insuperável. Esse obstáculo se chama Luiz Inácio Lula da Silva. Em todas as pesquisas ele aparece como o favorito, com 40%. Ele tem mais que o dobro das intenções de voto do seu principal concorrente e está crescendo. Algumas pesquisas o projetam como vencedor até no primeiro turno. (...) Seria melhor se eles entendessem que Lula representa o povo brasileiro e que ele está determinado a avançar. Ele já disse que morto ou vivo, absolvido ou condenado, preso ou livre, ele irá disputar as eleições.
Página 12: O mais provável é a condenação de Lula. Você concorda com tal prognóstico?
Dilma: O que pode acontecer? Por um lado, pode ser que os três desembargadores do TRF-4 decidam condená-lo. Se isso ocorrer, irá agravar a perseguição em uma nova fase do lawfare, buscando destruir Lula, utilizando instrumentos jurídicos para alcançar objetivos políticos. Também existe a hipótese da absolvição, mas é uma possibilidade difícil, já que um dos magistrados já se pronunciou dando a entender sua posição contra Lula. Há toda uma gama de probabilidades, até um voto pela condenação, por 2 x 1.
Quero dizer que, não apenas para Lula, mas para todo o Brasil, seria muito bom que o tribunal reconhecesse sua inocência. Seria muito bom para as instituições, principalmente para o Judiciário. É preciso entender que a absolvição de Lula não significa, automaticamente, a sua vitória nas eleições. Eleições se ganham no voto, não com decisão judicial.
Há dois meses eu estive na Argentina, conversei com a presidenta Cristina, e falamos sobre o lawfare. Nós sabemos que ela também é vítima de uma perseguição inquisitória através de acusações na Justiça. É uma tendência regional, também passou por isso o presidente Fernando Lugo no Paraguai. Creio que devemos ter uma posição muito clara sobre isso. Assim como não podemos esquecer dos latino-americanos que caíram na luta contra as ditaduras, não podemos permitir que o lawfare corroa as nossas democracias.
(...)
Página 12: Você descarta que decretem a prisão de Lula?
Dilma: Eles não são malucos... São conservadores, reacionários, opressores, mas não se arriscariam a prender Lula e transformá-lo em um herói. Além do mais, qual seria a justificativa? Não podem alegar que têm dificuldade para encontrá-lo, pois é uma figura pública. Me parece que isso seria muito complicado, sendo que uma eventual condenação na quarta-feira não esgotaria as instâncias de apelação. Eu realmente descarto tal possibilidade.
(...)
Página 12: Você falou mais cedo em "futuras fases do Golpe". Quais seriam?
Dilma: Bom... A fase em curso hoje é para impedir a candidatura de Lula, que seria invencível contra eles. Outra fase é a consolidação do retrocesso que será a herança do Golpe, como o congelamento dos gastos públicos durante vinte anos. (...)